Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.
Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.
Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.
Eugénio de Andrade, in "As Palavras Interditas"
3 comentários:
Eugénio... "já me sobram as palavras meu amor"....
"nãó ´verdade tanta rosa decepada, tatana coroa de espinhos....tanta loja de perfumes, tantos relogios, tanta pomba assasinada..."
E os idiotas dos burocratas da Camara e da Universidade, conseguiram falir a Fundação e deixar Eugénio num mar de lagrimas....tudo quanto ele não queria. Ele que temia e detestava a morte e que tudo fez para que, após ele, as coisas suas fossem funcionando....o Sr.Dr. Rui Rio (um dos mais mentecaptos e incultos presidentes de Cãmara que o Porto conheceu) e o Prof. Dr. Arnaldo Saraiva, conseguiram deitar tudo por terra e deixar de rastos um dos maiores vultos da nossa Literatura...perdão aos referidos...sem ofensa...Eugénio merecia tudo e sem preço...quando se contabilizam geranças destas...tudo esta desfeito.
Não são geranças...são "heranças"...e mais uns erros acima, mas...hellas...who cares?
As Amoras
O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.
Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")
Beijinhos P. beijinhos Passi beijinhos Gui
Tenho nome de Flor
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