quinta-feira, 22 de março de 2012

G.

Para quê mudar de dedicatória se os dítames desta se mantém intactos?
 (...)


O dia nasceu aflito de incómodos:
naquela hora, há muitas luas atrás, no dia seguinte ao primeiro da primavera, ele nascera sem aviso.

Outrora, uma velha pitonisa dissera a sua mãe:
seria ele unguento na chaga
neve no deserto,
riso no pranto.
E teria tesouras nas mãos,
uma rosa vermelha na fronte
e um desassossego
na ansiedade das horas menos boas que teria de viver.

Chorava com a voz do riso de Charlot
Mordiscava a felicidade por entre os interstícios das boas memórias
e espalhava recados de escárnio e mal dizer
por entre os escolhos da Vida,
por entre os escorpiões mutilados
que lhe picavam a consciência...

Sentia-se desigual entre os seus pares - é que sempre tinha tesouras em suas mãos
rodeava-se de mar adentro
sofria pelas dores que não sofria
e paria as gargalhadas com que enfeitava as vidas dos outros

Por suas mãos passaram as luzes do mundo,
as neves de Klimanjaro,
os equinócios do Equador,
as touradas reais de Pamplona,
os jardins suspensos da Babilónia,
os palhaços mais encantados de Budapeste,
os chicotes incendiados de um certo Vice,
as alegrias mais sinceras do Limoeiro,
os consentimentos menos audazes de Neptuno,
os odores menos nobres deste povo,
os "viragom" engolidos perto do silêncio do horror,
as cançonetas mais dolentes da Europa,
as conciliações mais cansadas do Bolhão,
as virgínias mais insanas do condado,
as magas das regras ansiolíticas e quejandas,
o disco-sound mais mexido da Ria de Aveiro,
as cores mais negras do etíope,
os feiticeiros mais audazes de Oz,
os sete palmos da terra derradeira,
mil e uma rotas trilhadas com uma fátima esperança (e outras preces menos promissoras),
os desencontros incompreendidos dos Dom Quixotes e das Dulcineias,
o doce paladar da Torre Eiffel,
as amizades cosidas a ponto de ouro...

De repente, embalado pela profecia da velha cega dos búzios, ele parou.
Olhou em redor,
colheu as magnólias,
desceu do autocarro,
pousou a mala do infortúnio,
desfez os contratos de uma vida,
entregou as becas togadas de um gole só.
E rumou ao país das tesouras...
Mil anos, Eduardo, Guilherme, nome sem nome -
passou por nós uma brisa que me recorda que existes:
Assim eu pudesse murmurar ao teu ouvido quando precisas...

Em tempo:
O Gui celebra mais um aniversário, é verdade!
Quantos, ficam no segredo dos nossos deuses.
Para ele, as nossas mais brancas e puras magnólias,
os meus "twelve points" da Amizade...

5 comentários:

Anónimo disse...

É, Ele é assim, autêntico, grande, inteiro e desassossegado.!
Como diria o Nietszche, "é preciso ter caos dentro de si para dar à luz uma estrela".

PARABÈNS,J.!
Muitos e muitos parabéns e um dia feliz e bonito.

Um grande beijo.Abraço.
C (en)

Anónimo disse...

Um beijo doce meu querido Gui .
Desejo-lhe tudo o que a vida de melhor tiver para oferecer!

Saudades


Tenho nome de Flor

Guilherme Salem disse...

Por isto vos amo...
Origado...

Anónimo disse...

Feliz dia.
Abraço com ternura.
F.

Guilherme Salem disse...

Adoro este post...Obrigado meu caro Cesar...Beijos Imensos mais uma vez