terça-feira, 17 de julho de 2012

Vou-me embora de mim.



(...) Apanho um combóio e um barco, viajo para lá do acontecimento

que é sentir-me ser de ali. Vou-me embora de mim.

Este diálogo não acabou e não acabará nunca. Vou

com os camponeses da cidade, feliz como um animal doméstico,

por vezes como um cão vadio no inverno, cuja felicidade

é apenas atingir a primavera seguinte.

Vou com as gaivotas que procuram a vida

nas milhares de toneladas de lixo da civilização. Vou também

com a dor de todos os massacres e com os missionários confortáveis

que querem governar o mundo sem saber governar o próprio estômago.

E vou ainda com. E com. E com. E com.

E vou ainda.

Joaquim Pessoa, in Vou-me Embora de Mim.