quinta-feira, 21 de março de 2013

poemário

Com uma pêra, dou-lhe um nome de erro
entre mim e tudo, na mão, amadureço
enquanto ela se torna propícia,
amarela ao influxo do vento de estrela para estrela.
O sangue da mão ensombra a fruta na sua volta
de átomos, abala
imagem, arquitectura.
E o espaço que isto cria: a noite
aparece no ar. E dura, leve, tersa, curva,
a linha
do fogo entrecruza
os pontos paralelos: a pêra desde o esplendor,
a mão desde
o equilíbrio, os centros
do sistema geral do corpo, o buraco negro.
Morro?
Escrevo apenas, e o hausto aspira
dedos e pêra, enigma e sentido, ordem, peso, o papel onde assenta
a constelação do mundo com esse buraco
negro e as palavras em torno.
No instante extremo de
desaparecerem.
Se morro, é por exemplo.

Herberto helder
Do Mundo
Assírio & Alvim, 1994

2 comentários:

Anónimo disse...

È hoje, não é?
Então, PARABÉNS, J., meu velho! (ah! como sabe bem a substância desta expressão"meu velho"...)

Bj. grande.
C (en)

Anónimo disse...

Extraordinário! Parabéns por partilhar esta extraordinária poesia no seu blog.
Obrigado.
Um abraço cá deste meu Algarve
http://umraiodeluzefezseluz.blogspot.com