segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Fui ver o Mestre...


Fui ver um Homem Bom.
Com a certeza de que viria de lá ainda mais crente.
Como se fosse possível!
Mas fui, embalado pela doce notícia de que em Jerusalém sempre entram mais almas, umas desencontradas, outras em busca de uma bússola.
E quando pisei as águas da Galileia, numa barca náufraga de esperança, quando molhei os olhos no Gólgota de todos nós, senti-me mais eu, mais junto da Divindade, aquela que se fez Homem por todos nós, pelas nossas imperfeições, pelas nossas iniquidades.
E ouvi de novo as bem-aventuranças, vi o Cristo transfigurado no Monte Tabor onde a vista se perdeu de vista, ouvi os sussurros dos pastores em busca da Estrela da Natividade, o espanto de Isabel, a prima infértil, as novidades do filho João Baptista, o eco de Emaús, o reconhecimento de um Cristo ressuscitado na palma das nossas mãos de peregrinos.
E ouvi gritar, mais uma vez, «Abba, porque me abandonaste?», como se fosse um canto de hoje e uma súplica de esperanto, calcei as pedras das tentações, os musgos de Cafarnaum, as tulipas de Nazaré, sorri com o sorriso do Pai José, paciente e solene, molhei as pontas dos dedos no Jordão, deitei-me no morto mar, como se fosse uma entidade viva.
E na cidade velha, vi - ufanas - estações de uma Via Sacra, túmulos e sepulcros, marias e martas, grutas de traição, Pai nosso que estais no céu...
E quando entrei em Jerusalém, pensei serenamente nas marcas do Crucificado e reti as lágrimas que trazia guardadas do canto lusitano, à espera de depósito.
Por isso, por causa disso, dessa hora sexta da nossa existência, voltei serenado.
Até ao próximo calvário de todos os dias...
Até que Ele me volte a dizer palavras sábias...

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