quinta-feira, 19 de abril de 2018

O meu amigo mais velho partiu aos 103 anos


O meu amigo mais velho tinha 103 anos.
Partiu no dia 13. Em paz como sempre viveu.
Seu nome era e é Luís.
Era o companheiro amigo do meu querido avô materno, Joaquim, um dos homens mais sábios que conheci.
Entendiam-se no silêncio. Nas palavras escondidas no coração de cada um.
Saibam que vivi a minha infância entregue a homens e mulheres felizes.
Com estes dois homens, joguei suecas ensolaradas, ouvi histórias de imprudências e de coragem, testemunhei abraços puros.
Não acreditava no Deus que ele nunca sentiu que era seu mas que também era dele.
E filosofava com o meu avô, católico e homem de assumida direita, como se só houvesse acalantos e concórdias nas aparentes discussões.
Chamava-me mini-mestre. Pois o mestre era o amigo Quim!
E dele só encontrei mestrias de carácter e bonomia.
Viveu muito.
Mais do que algum dia imaginou.
Mas percebeu agora que, por vezes, aquele Deus nem sempre chama cedo os que mais ama!
*
O meu silêncio para si, Senhor Gordalina....
O trunfo de espadas fica comigo.
E não esqueça, por favor, de jogar mais uma vez, na nuvem nona, fazendo equipa agora com o avô Joaquim que o esperará à entrada da vinha doce, dizendo:
- Estava a ver que nunca mais chegavas!

1 comentário:

Only_mafy disse...

Mesmo os que partem tarde, partem sempre cedo de mais para nós...
Resta a esperança de que vão encontrar os que foram antes e que os iremos encontrar quando for a nossa vez.