O relógio do novo tempo aproxima as nossas solidões e os nossos burburinhos.
Está quase chegado o minuto derradeiro de um ano de mágoa, muita mágoa, de júbilo profissional, de fim de labor num limoeiro amado, de dor, de pouca cor.
Vi as sombras do vírus e pouco mais.
Testei muito sempre em busca de uma nota negativa.
Vacinei-me como nunca.
Porque acredito naquilo que é credível e não sou um filho das trevas.
Falei muito de crianças.
Por não as ter.
Por só as ter.
Vi os sobrinhos amados a crescer em graça e sabedoria.
Voltei aos adultos marotos e ao crime de 1ª página ou da última, aquela que ninguém lê.
Rejubilei com o regresso dos ABBA e deleitei-me, sempre, com os meus livros e os meus filmes (aqueles que nunca me desiludem).
Deixei o meu comboio de anos e lancei âncoras no meu Palácio de Justiça preferido.
Ouvi falar de Aleppos fantasmas e de sírios pesadelos
E desacreditei na raça humana.
Lancei foguetes pela queda do um monstro nas Américas
e continuo a aguardar o tombo de um seu primo na Amazónia.
O som do silêncio pairou sobre as cidadelas.
Nunca vi tanto desalento nas vidas das gentes.
Vi gente amada presa a um branco leito, espantando a morte, sem o conseguir,
decifrando olhares, reaprendendo a olhar.
As cegonhas partiram para parte incerta.
Nunca cá estiveram, de facto.
Serei eu que as espanto?
As marés não chegaram a salgar-me,
o mar adentro que me colou às cinzas das algas
tocou-me ao de leve e nunca me molhou.
Senti suores, mal-olhados, frémitos, invejas mal contidas, ocultos passos dentro de mim.
E senti o meu Deus como nunca em mim.
Pairei no fundo da alma,
encostei os olhos à lama dos tempos,
e chorei, chorei, chorei muito.
Por Ela.
Por mim.
Hoje quero-me assim filho da desgraça -
o novo relógio parece-me igual, em forma e conteúdo,
o novo tempo tem já saudades do velho tempo,
aquele em que o balanço dos dias e das noites
não tem receio das tornas que tiver de dar aos herdeiros da alegria.
Amanhã é um novo dia. E um novo ano.
A noite fez-se para amar,
O tempo... faz-se para passar!
Ao lado da Constança para sempre (um outro nome para a constância)...
Com desejos de novos desafios, de muita saúde para os que amo e os que muito estimo...
Depois do pior ano da minha vida, só pode vir o melhor.
Bom ano (maior do que a soma dos seus dias).
Eu... vou com as aves… falar com a minha Mãe.
Porque ela não me morreu.