ODE MATERNAL
O meu mundo nunca mais vai ser o mesmo a partir de agora.
Tenho a felicidade suprema de ter sido criado por dois progenitores exemplares que marcaram, de forma indelével, a minha existência e do meu Amado irmão Henrique.
A cruz recente da minha querida Mãe marcar-me-á para todo o sempre - a sua abnegação, a sua entrega à oração, o seu exemplo de serenidade mesmo quando a doença traiçoeira atacou sem aviso e sem piedade.
Em finais de Agosto, roubaram-me a esperança de a ver como uma sobrevivente do infame caranguejo.
Depois de sucessivos e exaustivos internamentos em Leiria e no «seu» IPO (que desde 2015 nunca a largou), chegou a hora de lhe dizer «adeus», num «até sempre e até breve», próprio que quem Crê.
Amou os filhos como ninguém.
Sustentou a doença do companheiro como poucas.
Sempre apoiou os meus voos, ela para quem todos os meus desenhos eram Picassos e as minhas redacções Hemingways.
Amparou-me em todas as minhas quedas, secou todas as minhas lágrimas, sussurrou-me sempre ao ouvido que eu devia fazer a diferença neste mundo. Eu e o meu irmão.
De pouco ou nada lhe vali nos últimos tempos de breu - tudo deve à acção misericordiosa de meu irmão Henrique que foi um Deus, quase que deitado a seu lado.
O meu mundo mudou.
Tenho faróis acesos mas apenas virtuais e não palpáveis.
O meu coração ainda está em carne viva.
A minha saudade também.
Fica aqui este estandarte de agradecimento profundo a todos e todas as que chegaram ao meu lado, me abraçaram e me tocaram na minha Dor.
Por escrito, pelo FB, por SMS, por telegrama, por postal, por aperto de mão, pela presença física nas exéquias em Leiria ou em minha casa, por tanto incenso e muita mirra.
Sei que ela é uma gaivota.
Sempre o foi.
Mas agora voa por aí, escutando os meus silêncios e murmúrios, soletrando as minhas alegrias e tristezas, caiando de sol a falta que ela tanto me faz e fará.
Sei que sou um HOMEM diferente pelo facto de a ter tido por MÃE. Por me ter moldado, ela e meu Pai Joaquim, como ser que anseia por LUZ e muita PAZ.
(…)
Porque, há, de facto, qualquer coisa de Deus na forma como me amaste, Mamã.
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