sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Dueto





São duas mulheres que se confundem.
Não são irmãs, nem sequer gémeas,
são ferro e fogo, princípio e fim uma da outra.

Uma delas conheço-a melhor que ninguém.
E venero-a.
Por ser capaz de plantar magnólias no penedo mais breu.

Naquele canto sofrido da memória,
sofre em silêncio a outra mulher
Uma lutadora de corpo e face inteira
Que à primeira deu vida, avenidas, mundos.

A primeira age.
Busca ventos na Abissínia.
Encomenda elixires da Nicarágua.
Inventa remédios que não curam.
Soletra poemas com o olhar e com a sua vontade indómita de ver a outra ainda neste mundo,
Por mais um minuto que seja...

E aquela outra mulher
tudo vê paciente,
sabe que vive por ela
e aguarda o instante derradeiro da sua própria rendição,
como que para não lhe causar um desgosto ainda maior...

Vejo-as todos os dias.
E o meu espanto não para de me sublimar.

O elo divino entre estas duas mulheres arranca-me do tédio da vida normalizada,
dos uns e dos outros,
dos que teimam em ter sucesso na vida,
sem curar de regar as raízes de que brotaram.

Não sei que força move uma.
Não sei que compromisso maior retém a outra.

Só sei que o vento que irrompe de uma é o ar que ainda sustém a outra.

À C. e à F.

1 comentário:

Guilherme Salem disse...

Muito Lindo.
Curvo-me perante C e F.....em homenagem sentida. Bem Hajas.