terça-feira, 29 de abril de 2008

Xadrez Baralhado




Hoje decidi...
Quero ensinar-vos a jogar xadrez.
Não volto atrás na minha decisão.
Vejamos, então:

Lançamos um dardo ao tétrico planeta
E acertamos numa ponta do hemisfério
Está escolhido o Reino da nossa historieta
O espaço ideal para um jogo tão sério

Encaminhamos-nos para o ermo castelo
Onde não vivem gigantes nem anões
Apenas um monarca, El-Rei Dom Carmelo
Dono de cabeleira farta e de bravos brazões

Ocupando o trono direito desta Nação
Jaz, mui bela, a Rainha Dona Serafina
Dama de ouros, coração de puro latão
Que nada mais faz do que pentear a crina

Da torre mais alta desta fortaleza
Sobressaem, ameaçadores, três altivos canhões
Que protegem a loucura com braveza
E enfeitam as cidades com trovões

Na real estrebaria preparam-se as montadas
São cavalos bem treinados para o combate
Á direito, Sansão, o garanhão das mil pegadas
à esquerda, Ísis, uma especialista no cheque-mate

Na abadia, no ermo vale deste povoado
Vive o Bispo, rodeado de irmãs e abades
Cobra o dízimo do pobre de pé rapado
E passa o improvável serão com Sua Majestade

Lá fora, perto da urze, junto da terra,
Estão, dolentes, os peões de brega batida
Cansados de tanto luto e de tanta guerra
E já sem qualquer poder de investida

De repente, sem avisar, entro eu no jogo,
E ali baralho as peças, misturo as cores,
Deito água salgada e benta sobre o fogo,
E nos parapeitos das torres planto flores

Monto os peões nos cavalos (e solto-os ao vento)
Separo o rei da rainha (e despenteio-a toda)
E coloco o bispo na torre (fechado a sete chaves)

Por fim, apago o branco-negro do teclado do xadrez
E varro os excessos e as tristezas da nossa tez

No fundo, jogo jogado,
Mundo trocado...


5 comentários:

Anónimo disse...

E como joga tão bem, estou certa de ter aprendido. Aliás raros são os meus árduos dias em que não invoco as suas jogadas de Mestre.
Obrigada sempre.
Da A. XIX.

Passiflora Maré disse...

Que belo jogo.
E que bem foi baralhado.

Anónimo disse...

César, como costumo dizer que tudo na vida me tem acontecido no momento certo, esta é a hora da Revelação:
Eu sou a C. Adriana... a primeira das C's.

Eu

César Paulo Salema disse...

Eu:
Estou espantado.
Não imaginava.
E pensar que, afinal, a C sabia mas guardou o silêncio prometido!
Obrigado por estar aqui e ser quem é - autêntica, sublime, diferente. Continue aqui que esse será agora o nosso segredo.
Um beijo ao F. e que ele - menino d'oiro - sonhe com as fadas que o guardarão de noite e lhe arrumarão as gavetas dos dias.
CPS

Anónimo disse...

Ciente de que não sou merecedora de tamanha consideração, vou manter o contacto com esta radiosa magnólia e dessa forma contribuir para que os meus, e os nossos, dias não sejam todos iguais!

Agradecida pelo imediato acolhimento,

Eu