domingo, 8 de junho de 2008

Beijo 3



Olharam-se de novo, como se pudessem devorar-se.
Os olhos demoraram-se mergulhados a estudarem-se.
A verem-se.
A temerem-se.
Pela igualdade no silêncio.
Pela igualdade na entrega ao fogo proibido.
Para sempre, decidiu ela. Este seria o seu primeiro homem.
Todo o passado se esvaziou.
A memória, do primeiro beijo de outro, evadiu-se
No lugar dela ficou uma memória tórrida, doída.
Permanente.
Para além do incêndio dos seus corpos,
quando tinham de estar e viver socialmente, o silêncio turturava-os.
O frio congelava-os.
Ambos sentiam que só estariam em paz, quando os seus corpos
se fundissem em todos os seus poros.
Quando cada um deixasse de ser indivíduo e passasse a ser alimento,
suor, e carne.
Mas nada era fácil, entre eles.
Sabiam que eram um do outro e um para o outro.
Mas nenhum deles podia ou sabia dizer quando tal aconteceria.
Era como se uma montanha decidisse amar outra.
Nenhum deles sabia muito bem como tal podia acontecer.
Despediram-se com um beijo na cara, aparentemente indiferente.
No dia seguinte ela regressaria à Escola.

César continua, se assim entenderes.

1 comentário:

Anabela Magalhães disse...

Gostei muito de todos. Amei especialmente este. E mais não digo.