domingo, 8 de junho de 2008

Beijo 4


Separaram-se, sim, naquela tarde mas nunca se chegaram a evadir um do outro.
O pensamento não conhecia entraves e, assim, já em casa, Ester reviu os momentos de fogo que vivera, à sombra daquela morna biblioteca, refez cada retalho de toque de que fora vítima, relembrou cada soluço arfante do seu adversário.
Nem sequer o seu nome sabia.
Todos os dias, o via caminhar na direcção da casa do cheiro dos livros e todos os dias sentia que aquele homem poderia e deveria ser seu.
Apesar do Tomás, apesar dos pais que, em 1973, nunca compreenderiam este desvario a alma nua.
Era obediente à correcta e balofa lei da normalidade apócrifa - os primeiros afagos de fêmea deverão sempre ser entregues ao primeiro e prometido macho.
Mas como voava alta esta águia de mil olhos de cristal, de mil penas por cumprir.
Sabia-se tocada pela brisa quente do Estio, em forma de um outro Adão, sabia-se Eva de um paraíso só dela, só dele...
Mas... quem era ele?
Que laços teria ele na sua vida?
Que livros leria ele na quietude da biblioteca, quando já ninguém mais queria requisitar um livro que fosse?
Olhava as estrelas mais acesas da noite e procurava respostas.
Para aquele calor que não a deixava.
Para aquele beijo que a consumia.
Para aquele homem que a eternizava...
(PM - agora, vem a história dele)

1 comentário:

Anónimo disse...

C'est un plaisir de vous lire tous les deux.