sábado, 7 de junho de 2008

Beijo




Caminhavam os dois lado a lado.
havia entre eles um silêncio de sotão proibído.
Falavam por monossílabos um para o outro.
Mantinham consigo próprios monólogos surdos e obssessivos.

Ela: Desejo este homem. Distante como o cume de uma montanha.
Impassível como o aço.
Dói-me a sua ausência no meu corpo.
Preciso encostá-lo a uma parede e beijá-lo até perceber que existo.
Ele: Quero esta mulher, sem sinais de fraqueza.
Desejo-a como a Leoa Selvagem que marcou como território toda a savana.
A ausência do seu cheiro impede-me de viver.

Continuavam a caminhar. sem se tocarem.
Conheciam-se há quase um mês e nunca se tinham tocado.
A conversa continuava em monossílabos.
Sobre circunstâncias mundanas.

Ela: Não sei como lhe chegar.
Ele rodeia-se de um silêncio de caverna.
E de uma distância com mar ao meio.
Ele: Preciso dela.
Já não penso, já não como, já não durmo.
Não sei como me aproximar.
Não encontro nela qualquer sinal de incentivo!

Chegaram às traseiras da biblioteca onde ele trabalhava.
Trocaram algumas palavras sobre os seus afazeres.
Ela preparava-se para o deixar.
procurava na mala algo desnecessário.

Ela: Não o posso deixar ir.
Nem sei como lhe perguntar quando nos vemos.
Ele: Há algo que me ultrapassa nesta mulher.
Todos a vêm como simpática e extrovertida.
Eu, não lhe arranco nem calor nem conversa.
Será que me odeia?
Será que me ama?

De repente, o olhar iluminou-se-lhe.
Fez-se um frio polar... um silêncio desértico.
Ele tocou-lhe devagar, muito devagar, na mão.
Depois, como a brisa, no cabelo.
Ela aflorou-lhe um dedo nos lábios.
Os corpos aproximaram-se, incendiaram-se,
os lábios tocaram-se, exploraram-se,
as bocas engoliram-se, as línguas enrolaram-se...
O mundo desapareceu.

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