sexta-feira, 13 de junho de 2008

Em Pessoa (em aniversário do seu Natal)



HORA ABSURDA
(...)

O TEU SILÊNCIO é uma nau com tôdas as velas pandas... Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso... E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraiso... Meu coração é uma ânfora que cai e que se parte... O teu silêncio recolhe-o e guarda-o, partido, a um canto... Minha idéia de ti é um cadáver que o mar traz à praia..., e entanto Tu és a tela irreal em que erro em côr a minha arte... Abre tôdas as portas e que o vento varra a idéia Que temos de que um fumo perfuma de ócio os salões... Minha alma é uma caverna enchida p'la maré cheia, E a minha idéia de te sonhar uma caravana de histriões... Chove ouro baço, mas não no lá-fora...É em mim...Sou a Hora, E a Hora é de assombros e tôda ela escombros dela... Na minha atenção há uma viúva pobre que nunca chora... No meu céu interior nunca houve uma única estrela... Hoje o céu é pesado como a idéia de nunca chegar a um pôrto... A chuva miúda é vazia...A Hora sabe a ter sido... Não haver qualquer coisa como leitos para as naus!...Absorto Em se alhear de si, teu olhar é uma praga sem sentido... (...)

4 comentários:

Anónimo disse...

Bonito post. Bem ao nível dessa Pessoa!

Guilherme Salem disse...

Pessoa é um heterónimo de si próprio, além do Ricardo, Alberto, Álvaro e Bernardo....li isto algures....nem concordo nem discordo, tenho mais que fazer. Gosto muito de Pessoa e a leitura das suas obras é um prazer cada vez maior. Bem hajas César pela lembrança. Abraço

Passiflora Maré disse...

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o msmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a Aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
Aparecem as folhas
E com o Outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.

Passiflora Maré disse...

A Autoria do poema é de Ricardo Reis.