quinta-feira, 5 de junho de 2008

Laura e Paulo

P. Acreditas em amores impossíveis?
L. Creio no já, e no agora, nada mais, nada menos.
Creio no instante de rosas que me dás, no sem fôlego em que me trituro todos os dias em que navego por tuas águas felizes.
P. Mas será para sempre?
L. Mas o que é o sempre, meu amor presente?
Não será a vida feita de pequenas horas que juntas resultam num sempre efémero, numa eternidade prometida mas nem sempre convencida...
P. Quero amar-te para sempre, Laura.
Mas sinto que me falta o rastilho para essa eternidade, para esse desejo que, temo, se esvaia e se esfume por entre as neblinas da normalidade balofa em que nos envolvemos.
Nâo te afastes de mim, nunca...
L. O nunca é uma ilusão, Paulo, acredita. Não vivas angustiado pela incerteza da futura caminhada destes dois amantes que se querem agora e neste momento, que se entregam mutuamente uvas e bagos de milho, que penteiam solidões acompanhadas, que cantam o cântico mais dolente do mundo, que tocam a guitarra mais cigana da esquina, que se querem pertencer um ao outro, sem aviso, sem prazo de validade.
Se o carinho não der para o sempre, que me baste esta hora em que me eternizo em ti, Paulo.
P. Mas não me deixes.
L. Não me deixes tu, Paulo.
P. Nunca te deixarei.
P. Não prometas aquilo que não podes prever ou controlar.
Quem te diz que te não eternizarás noutro rosto, noutro corpo, noutras águas?
P. Controlo as minhas emoções. Sei o que quero.
L. E o teu corpo e coração, outro nome para a mais indecente de todas as obsessões, saberão?!
P. Eles são parte de mim. Como não o saberão?
L. Escuta-te, meu amor de hoje. O teu amanhã será aquilo que a vida te fizer escolher, será a estrela polar que mais próxima estiver de ti, será muito daquilo que hoje recusas reconhecer. Mas não te angusties em demasia. Nâo vale a pena, crê em mim.
P. Obrigado por me ouvires.
E grato te fico, metade de mim, por soletrares a mesma língua que hoje cultivo, que hoje quero aprender.
Ser-te-ei fiel.
L. Mesmo que me digas que já não me amas...

5 comentários:

Anónimo disse...

Você e a Passiflora nunca pensaram em escrever a quatro mãos?
Os textos são belíssimos.
Deviam publicar,
Mesmo.
Uma fâ da Magnólia (viciada)

Anónimo disse...

Para a beleza, beleza:

"È tão natural
que eu te possua
è tão natural que tu me tenhas,
que eu não me compreendo um tempo houvesse
em que eu não te possuísse, ou possa haver um outro em que eu não te tomaria.
Venhas como venhas,
é taõ natural que a vida em nossos corpos se conflua
que eu já não me consinto
que de mim tu te abstenhas
ou que meu corpo te recuse
venhas quando venhas.
E de ser tão natural que eu me extasie
ao contemplar-te
e de ser tão natural que eu te possua,
em mim já não há como extasiar-me
tanto a minha forma se integrou na forma tua."
A.R. Sant'ana

Bj.
C.(EN)

Anónimo disse...

Parabens! o texto é belíssimo.

Anónimo disse...

Isto é de autor de mérito...

Anónimo disse...

Très beau texte...