sábado, 28 de junho de 2008

Possessão



Que amador de livros resiste a estas primeiras linhas de Possessão, uma história de amor?
“O livro era grosso e negro e estava coberto de pó. Tinha as margens curvas e quebradiças; em tempos tinha sido maltratado. Faltava-lhe a lombada, ou antes saía-lhe de entre as folhas como um marcador volumoso. Estava todo atado a toda a volta com uma fita branca suja amarrada num lenço bem feito.”
Este é um livro sobre livros e literatura e amor e uma sátira da vida académica. A sua autora, a inglesa A.S. Byatt (n. 1936) sabe do que fala, conhece o meio, as suas fragilidades e intrigas.
Professora de literatura até 1983, ano em que passou a viver exclusivamente da escrita, mistura neste também “livro grosso” o quotidiano com a erudição em duas histórias de amor passadas em tempos diferentes que lhe valeram o Booker Prize em 1990.
O livro tem 18 anos e continua a ser o romance de maior sucesso desta colaboradora das páginas literárias do Times Literary Supplement, do Independent e do Sunday Times.
Nesse cruzar de passado e presente, a escritora A.(Antonia). S. (Susan) Byatt mistura elementos do thriller na relação em que se envolvem dois académicos contemporâneos que estudam as vidas de dois poetas do século XIX: Randolph Henry Ash e Christabel LaMotte, que veio a descobrir-se terem estado envolvidos.
Possessão, uma história de amor (que acaba de ser publicada em Portugal pela Sextante numa tradução de António Pescada) são afinal duas, directamente relacionadas, e protagonizadas por dois pares que se unem através da literatura. Povoado de excertos de poemas e cartas destes dois poetas, o romance é um exercício de estilo, mas com uma escrita despretensiosa, rica na descrição de ambientes e de sentimentos, da parte de Byatt.
O livro é “grosso”, já se disse, mas isso não deve ser limitador a uma leitura que exige tempo mas retribui em prazer.
(Isabel Lucas)
Recomendo.
E o filme de Neil LaBute

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