terça-feira, 1 de julho de 2008

Miopia

Meio míope.
Meio nublado.
Viajo de janela em janela,
à espera do espanto,
à escuta dos olhos,
à míngua de gente...
Sou clandestino,
eterno aprendiz de feiticeiro,
sempre em busca de pontos cardeais -
venha o meu norte, o teu sul, o vosso este e o nosso oeste...
Venham notícias vazias de tanta opacidade,
restam-me os frescos pregões da minha desdita.
Quero-me à janela,
sem lentes,
sem traços,
sem penas.
Quero-me com a certeza das horas mortas,
com a rouquidão dos gritos surdos,
com a altivez das almas mornas...
Não saio daqui.
mesmo que me abram portas e me fechem janelas.
Sou daqui - não do meu sul mas do norte deles,
tricotando janelas do poeta mais cego do povoado,
quebrando as vidraças dos ecos da tua memória...

Não saio daqui.
Só ... se me deixares entrar na tua janela,
de onde não quererei nunca sair, mesmo que mudes de casa, mesmo que me mates as horas.

Sou míope.
À cata do melhor ângulo,
da foto mais linda,
do vento mais sueste.

Passa por mim... por favor, ok?

1 comentário:

Passiflora Maré disse...

Passarei por ti, com corpo infinito e rosto perfeito.
Numa noite de mar doce e luar salgado, à beira-mar.
Nessa noite uma vaga luminosa
chegará à praia.
E o teu olhar míope tornar-se-á errante, transparente...
E eu esperarei estrelas incandescentes.
Comerei mirtilos vermelhos e banhar-me-ei numa torrente de águas lunares.