terça-feira, 29 de julho de 2008

O quarto dos segredos


Naquele quarto ermo, havia prisões e janelas abertas.
Portas sobretudo fechadas, com o maior dos despudores.
Havia olhos felinos, memórias de negro, rubis e ametistas de chibeque.
Não sei a maioria dos nomes das mulheres.
Nem dos homens.
Não os quero saber.
Quero-os vagos, imprecisos, voláteis, numa escrita de água que logo se apaga quando se constrói.
Os nomes dos reis e rainhas - porque Artur é nome de rei e Regina de rainha - ficam guardados no baú da memória daquele quarto ermo.
Cedo, mais cedo que se se supõe, haverá um outro passo errático que ali se dirigirá,
ali se deitará, ali amará, ali perecerá...
E no mural da parede dos fundos ficarão mais rostos projectados à espera de um perdão!


6 comentários:

Elsa C. disse...

A ideia de recriar ou, simplesmente, prolongar a estória de Passiflora é muito interessante.
Acho, todavia, que "os rostos projectados" não necessitariam de qualquer perdão. Não lhe parece?

Passiflora Maré disse...

Elsa. Eu continuei a estória do CPS, contida no post "Quarto Minguante". E o CPS, terminou a estória.

Anónimo disse...

Eu acho que ficam bem conseguidas estas pequenas estórias a quatro mãos/duas emoções; e já tenho por hábito este pequeno exercício:tentar "adivinhar" qual dos dois é o autor de cada trecho, antes de visualizar o "postador". E acho que tenho conseguido: nos trechos da PM há sempre mais terra, mais barro, mais fogo, mais "visceras" e nos trechos do CP há mais redenção, mais etéreo, mais sublimação espiritual - e, irónicamente, penso que são traços dos respectivos. estou certa ?

Bj.
C(EN)

Elsa C. disse...

Obrigada pelo esclarecimento, Passiflora.

Elsa C. disse...

César P.Salema:

1. Depois da informação da Passiflora e de ter lido atentamente o post,sou impelida - por justeza - a recomeçar o meu comentário:

A ideia de perpetuar a sua estória, depois do contributo da Passiflora, afigura-se-me como muito interessante...

2. Mantenho a minha questão.

3. E acrescento: e se todas as estórias fossem estórias inacabadas? Meros espelhos da Vida?

César Paulo Salema disse...

Já venero estas estórias escritas a dois fôlegos com a que tem nome de maré.
Desafio aos dois, às nossas penas, aos nossos estilos (e C., acertaste em cheio!).
Quanto ao perdão, quais são os sentimentos desarrumados que não anseiam por um?!
E nunca serão demais!