sexta-feira, 18 de julho de 2008

Tormes.









Eu cedi a égua ao senhor de Tormes.
(...)
E em breve os nossos males esqueceram ante a incomparável beleza daquela serra bendita!
Com que brilho e inspiração copiosa a compusera o Divino Artista que faz as serras, e que tanto as cuidou, e tão ricamente as dotou, neste seu Portugal bem-amado. A grandeza igualava a graça.
Para os vales, poderosamente cavados, desciam bandos de arvoredos, tão copados e redondos, de um verde tão moço, que eram como um musgo macio onde apetecia cair e rolar.
(...)
E subiu a gasta escadaria do seu solar com amargura e rancor. Em cima uma larga varanda acompanhava a fachada do casarão, sob um alpendre de negras vigas, toda ornada, por entre os pilares de granito, com caixas de pau onde floriam cravos.
(...)
Jacinto caminhou lentamente para o poial de uma janela...
(...)
Vim ajoelhar sobre o outro poial alongando os olhos consolados por céu e monte:
- É uma beleza!
O meu príncipe, depois de um silêncio grave, murmurou, com a face encostada à mão:
- É uma lindeza...E que paz!
(...)
Jacinto reconheceu uma «certa nobreza» na frontaria do seu lar.
(...)
Depois de cima da varanda, reparando na telha nova da capela, louvou o Silvério, «esse ralaço», por cuidar ao menos da morada do Bom Deus.
- E esta varanda também é agradável - murmurou ele, mergulhando a face no aroma dos cravos.

Eça de Queirós. Excertos de "A Cidade E As Serras"

7 comentários:

CLAP!CLAP!CLAP! disse...

desajustada mas DIVINAL!!!

“(...) era de galinha e rescendia. Provou e levantou para mim, seu camarada de misérias, uns olhos que brilharam, surpreendidos. Tornou a sorver uma colherada mais cheia, mais considerada. E sorriu, um espanto – Está bom!

Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele caldo.

- Também lá volto! – exclamava Jacinto, com uma convicção imensa. – É que estou cá com uma fome... Santo Deus! Há anos que não sinto esta fome.

Foi ele que rapou avidamente a sopeira.(...)”
[in A Cidade e as Serras, José Maria Eça de Queiroz,]

CLAP!CLAP!CLAP! disse...

"é canja?"...."depressa e bem?"

Passiflora Maré disse...

Obrigada clap.
Apreciei.
Essa parte saboriei-a longamente , mas o excerto ficava-me muito pesado.

armando s. sousa disse...

O livro que mais vezes li na vida foi o "A Cidade e as Serras", foram tantas, que já o não sei mencionar.
Um dia destes irei publicar, a minha sequência fotográfica da Casa de Tormes.

Anónimo disse...

Fantásticas as fotos! Maravilhoso Eça, embora goste mais do Eça corrosivo dos Maias ou do C. do P. Amaro.
Mas, o Douro...
Os olhares que diariamente esperguiço pelas suas margens são do suave momento que se alarga até ao mar...menos viril, como na Valeira, ou no Pinhão, mas garboso, domingueiro de chegar à meta que o abraça.
Obrigado pelo Eça e pelas fotos.

Anónimo disse...

Fantásticas as fotos! Maravilhoso Eça! embora goste mais do Eça corrosivo dos Maias ou do C. do P. Amaro.
Mas, o Douro...
Os olhares que diariamente esperguiço pelas suas margens são do suave momento que se alarga até ao mar...menos viril, que na Valeira, ou no Pinhão, mas garboso, domingueiro de chegar à meta que o abraça.
Obrigado pelo Eça e pelas fotos.

Guilherme Salem disse...

Eça...o Nobel que nunca foi. Eu, gostando da "Cidade e as Serras", também prefiro o Eça de " Os Maias" e "O Crime do padre Amaro" e de " O Primo Basílio"...ou mesmo da póstuma "Tragédia da Rua das Flores" (na edição da Morais Editora..ok?)...
Ou mesmo da misteriosa estrada de sintra...e quejandos....ou das novas cartas de inglaterra (agora, tudo sem maísculas)... este Eça é o meu...mas também gosto do Eça da "Cidade e as Serras", "O Mandarim" e a "A Relíquia"...mas de uma outra maneira...
Até já...Gui