domingo, 17 de agosto de 2008

A Língua lambe (À memória de Carlos Drummond de Andrade)



A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

1 comentário:

PB Pereira disse...

Carlos Drummond de Andrade é o poeta da palavra simples, do sentido da música das palavras. Da simplicidade das palavras, da utilização dos vários registos da palavra. Num acto de transformação gradativo da linguagem em interacção com o leitor.
Lembro sempre aquele outro poema, no meio do caminho uma pedra, uma pedra no meio do caminho, como a forma mais simples de dizer bonito tudo sobre as dificuldades e obstáculos que se nos deparam em cada dia.