domingo, 21 de dezembro de 2008

Inveja.pt


Os portugueses são uns invejosos, isso não é novidade, temos inveja da França porque a mulher do presidente é mais bonita que a do nosso, invejamos o governo italiano que tem uma ministra mais jeitosa do que a Milu, temos inveja do vizinho que compra um carro novo, do irmão que tem melhores notas na escola, dos professores antes de ter vindo a Milú dar cabo da "escola pública" e, como não podia deixar de ser, dos políticos bem sucedidos.

Se ser político já é defeito, ser político bem sucedido tanto na política como na vida empresarial é mesmo um pecado mortal. Como é que este país há-de sair da cepa torta se condenamos todos os casos de sucesso.

Jorge Coelho é um bom exemplo, chegou onde muitos nunca hão-de chegar por mais licenciaturas, mestrados, MB e doutoramentos que tirem, deveríamos estar todos orgulhosos de alguém ascender de uma penada ao topo do complexo mundo da gestão e até deveríamos dar graças a Deus por nunca mais o termos aturado nas televisões, e o que fazemos?

Ganimos de dor de corno, fazemos insinuações torpes, passamos a vida a dar asas à nossa inveja! Um filho do povo, nascido numa qualquer aldeia que só agora apareceu no mapa, estuda à noite, chega a secretário de Estado, toma conta dos dinheiros do partido que mais progresso trouxe ao país, limpa os arquivos do fisco com perdões fiscais mais simples do que o agora famoso Simplex, e o que fazemos?

Mandamos aquele que deveria ser tratado como herói para os desconfortáveis calabouços da Polícia Judiciária, em vez de andar a limpar as medalhas e comendas está a contar grades.

Então um país que anda há décadas à procura da rolha em vez de tomar o exemplo de sucesso do Oliveira e Costa, manda o homem para a prisão, ele que poderia explicar como se passa de teso a possuidor de uma fortuna de milhares de milhões? Não teria sido mais inteligente dar-lhe um programa como o do Marcelo Rebelo de Sousa para, em doses semanais, nos ir ensinando na arte do enriquecimento colectivo. Sempre era melhor do que ouvir as baboseiras do professor, ditas a uma velocidade quase alucinante.

E o coitado do Dias Loureiro? O homem vem revelar as conversas que teve com o António Marta e logo no dia seguinte o ex-dirigente do Banco de Portugal vem dizer que não é verdade, alguém imagina o Dias Loureiro a tentar influenciar a actuação do BdP, logo ele que é a coisinha mais transparente que este país já viu, tão sincero que foi o primeiro português a beneficiar de uma declaração de inocência proferida por um Presidente da República? Nem o Salazar teve tal comenda concedida pelo Carmona.

Ora, se Cavaco Silva diz que não tem razões para duvidar das palavras de Dias Loureiro porque razão andamos todos a tentar encalacrá-lo, porque há-de o MP incomodar-se chamando-o para prestar declarações como testemunha? Se Dias Loureiro não sabe nada de contabilidade, assinou sempre de cruz, o que terá ele para testemunhar? Somos mesmo um país de tansos, então não seria mais frutuoso que em vez de Dias Loureiro ter que andar a explicar a um qualquer procurador as coisas do deve e haver do BPN, nos viesse explicar como é que alguém tão honesto enriquece de forma meteórica, acabando de vez com o mito de que em Portugal os honestos nunca chegam a lado nenhum.

Este país resolvia todos os seus problemas se de uma vez por todas os honestos tivessem uma oportunidade na vida, como aquela que Deus deu a Dias Loureiro.

É tempo deste país deixar de sofrer de dor de corno, até porque na Europa não há nenhum corno, que saiba no mundo só há um, o Corno de África.


jumento.blogspot

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