segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal (em 22)


Poema de Natal


Vinicius de Moraes


Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte...

2 comentários:

Anónimo disse...

Entaõ por ora, com esperança no milagre e ansiando participar na poesia (desejando guardar a visão da dita para muito mais tarde), desejo aos queridíssimos e ilustríssimos amigos autores do blog um óptimo Natal e festas felizes.

Também para a F.S. e D.
E para todos os "Magnólicos"
Bj.

C (EN)

César Paulo Salema disse...

Grato, Negra Eva.
E que a paz dos cedros brancos tombe também pelas mangualdes paragens...