Esta mulher fez-me ler o Luís Vaz com os olhos ternos da mágoa dos sentidos,
dividiu-me as orações do esperanto,
Fez-me descobrir o grupo do nome das coisas perfeitas,
endereçou-me para o cais dos poetas.
Com ela, comecei a escrever. A juntar ditongos. A dar nomes aos verbos, a conjugar o particípio passado da ternura.
Foi a chefe de uma troupe J de um liceu abençoado, no tempo em que as cotovias voavam para o Sul e em que os heróis tinham nome de Sanchos Panças.
De sua graça amélia.
De todos os dias. De todas as barcas felizes.
A outra mulher ensinou-me os electrões do futuro,
a separar os atómos das moléculas da impaciência
E soletrou-me o símbolo químico da água mais pura do Lis e do Lena -
É adelaide por balanço de nome, também pequena como a outra amélia dos olhos claros,
mas enorme como o tubo de ensaio com que coloriu as pautas matemáticas dos iões mais cinzentos do povoado.
Ambas, passageiras da sonata que me encanta um passado que não quero esquecer, fizeram melhores os meus dias e as minhas esperanças.
Espantaram-me como mestras, classificaram os meus destemperos, notaram as minhas incompletudes...
Se sou eu que vos escrevo, daqui deste canto de uma magnólia, também a elas o devo.
Voltei a encontrá-las ontem junto à fonte grande do meu Terreiro:
estavam como se as datas e os invernos não calcassem as suas primaveras.
Revi-as.
E enchi a barca do meu sul, norte eterno da minha bússola, rumo à estrela clandestina que ainda tem um este misterioso guardado para mim...
Para vós, amélia e adelaide, os meus respeitos.
Até um outro palco do mundo.
Ide com as aves...
6 comentários:
Sensibilizada com as tuas palavras e este feliz reencontro...
Deixei também resposta ao teu comentário lá no meu barco florido.
Valeu a pena termo-nos cruzado em tempos.
Amélia
Já li. Não me perca de vista, ok?
Oh César, é um dos textos mais bonitos que já li. É uma sorte termos Amélias e Adelaides na vida. E uma sorte maior sabermos não nos esquecer delas.
Fica com a certeza que é um orgulho maior que o voo das aves ser tua amiga!
Grças a todas essas Amélias e Adelaides somos o que somos e crescemos de forma saudável e virada para o mundo e para os outros.
A querida R. já o disse de forma bonita.
Um beijinho especial para si...um abraço enorme e apertado para o César.
CPS, parece escrever no infinito...grata por poder lê-lo. bem haja
Grata pelo lindo texto que dedicaste a duas amigas, ambas pequenas e de nome começado por A. Coincidências!
Senti-me feliz por ter proporcionado o teu reencontro com a Amélia. Sei que foi muito importante para ela, ainda mais porque partilham a poesia e as flores. Eu apenas poderei apreciar o aroma...
Por mim, prometo que vou espreitar a tua magnólia sempre que puder.
Adelaide
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