segunda-feira, 30 de março de 2009

Canção de Amor


Se estivesses a afogar-te, vinha acudir-te,

embrulhava-te num cobertor e dava-te chá quente.
Se fosse xerife, prendia-te
e fechava-te numa cela com aloquete.
Se fosses uma ave rara,
gravava um disco
e ficava a ouvir a noite inteira o teu trilo agudo.
Se fosse o sargento, serias a minha recruta,
e, rapaz, garanto-te, ias adorar a instrução.
Se fosses chinesa, aprendia a língua,
queimava pilhas de incenso, vestia roupas esquisitas.
Se fosses um espelho, invadia as “Senhoras”,
dava-te o meu bâton e punha-te pó-de-arroz no nariz.
Se gostasses de vulcões, seria a lava, em
irrupção contínua da minha secreta fonte.
E se fosses a minha mulher, era o teu amante,
porque a Igreja ao divórcio se opõe firmemente.

Joseph Brodsky, 1995© Cotovia (tradução de Carlos Leite)

2 comentários:

jorge vicente disse...

um belo poema de joseph brodsky.

um grande abraçp
jorge vicente

Guilherme Salem disse...

Adorei o poema e as fotos. Gracias Cesar