domingo, 15 de março de 2009

Penélope


Hoje desfiz o último ponto,

A trama do bordado.
No palácio deserto ladra
O cão.
Um sibilo de flechas
Devolve-me o passado.
Com os olhos da memória

Vejo o arco
Que se encurva,
A força que o distende.
Reconheço no silêncio
A paz que me faltava,

(No mármore da entrada
Agonizam os pretendentes).


O ciclo está completo
A espera acabada.
Quando Ulisses chegar
A sopa estará fria.


Myriam Fraga

2 comentários:

Guilherme Salem disse...

E nada mais a dizer....todo o bordado (ou que noime lhe seja dado) tem um fim...como tudo..
Gostei...ás vezes sinto-me Ulisses...em debandas perdidas (e que vão dar sempre ao mesmo lugar) vitima de algo, algoz de alguns, mas...sobretudo amigo de muitos e, principalmente, de poucos que o merecem. Seja como for, tenho pena da Penelope (não da sua condição de mulher) mas de alguém que espera o que n unca chega ou chega demasiado tarde. Esta Penelope nunca existiria nos nossos dias (até porque as ditas cujas nem bordam).

Guilherme Salem disse...

não é "noime" é "nome"