terça-feira, 12 de maio de 2009

Mais noite que a noite


SENTIMENTO DO MUNDO


Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem
e o corpo transige na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram que havia uma guerra
e era necessário trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso, anterior a fronteiras,
humildemente vos peço que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro,
da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer

mais noite que a noite.

1 comentário:

Guilherme Salem disse...

Drumond...parece que já ninguém sabe quem é, foi, continua a ser