No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,
Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,
No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão,
decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.
José Saramago,
José Saramago,
in "Os Poemas Possíveis
3 comentários:
Quando se procura e só se encontra o silêncio, o fim torna-se inevitável...
Bonita esta possibilidade de poema de José Saramago.
As possibilidades estão em todo o lado e com toda a gente. Basta haver umaoportunidade de as revelar...
Saramago é um Mestre.
Quero lá saber se os católicos fundamentalistas (iguais aos islamitas que apedrejam adulteras até à morte) gostam dele ou não...o homem é um marco e uma referência cultural e de civilização...soberbo, sem dúvida, insolente, impertinente, incómodo, egoista, egocêntrico...mas se não fosse assim...qualquer um e nós poderia estar no seu lugar...perdoam todas as chochices e vira casacas (desde a CDU ao PSD) à Eunice Munoz (quase que a ultrapassam à D. Amélia Rey Colaço) mas pobre do Saramago quando diz o que acha ou o que acha que deve dizer na altura....tudo lhe cai em cima...
Abençoado Henrique VIII que acabou com o poder Papal no país. Disse. E sou católico, com prática e com sentido, mas com consciência e pensamento livre e prórpio.
Saramago não tem possibilidade de poema....Saramago é poema e permite a possibilidade de assim o pensar.
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