quarta-feira, 16 de março de 2011

A mão


A verdadeira mão que o poeta estende
não tem dedos:
é um gesto que se perde
no próprio acto de dar-se


O poeta desaparece
na verdade da sua ausência
dissolve-se no biombo da escrita


O poema é
a única
a verdadeira mão que o poeta estende


E quando o poema é bom
não te aperta a mão:
aperta-te a garganta



ANA HATHERLY
O Pavão Negro
Assírio & Alvim
(2003)

1 comentário:

Anónimo disse...

" As minhas mãos magritas , afiladas
tão brancas como a água do nascente,
lembram pálidas rosas entornadas
Dum regaço de Infante do oriente"

Florbela Espanca in " Charneca em flor"


Eu e as mãos

Observo alguém ...
que me desperta a atenção! o que vejo:
os olhos;
os lábios;
as mãos;

de mulher ...
de homem...
de crianças macias como o veludo.
Outras mais vividas, enrugadas, cheias de coisas para escrever ! para contar...
Por essas mãos passaram muitas outras !
Gosto de as contemplar..

Tenho nome de Flor