AMOUR de Michael Haneke transporta-nos para o
ocaso das vidas que se passam defronte a nós, dentro de nós, como
passaportes de uma mortalidade que se crê vâ e melancólica, sempre à
espera do fechar da cortina, do final do concerto de Shubert
(que se ouve lucida e exaustivamente pela tela dentro), da prisão
daquela doida pomba que nos entra pelo peito dentro, pela janela fora e
que não somos capazes de manter aprisionada. É um homem que ama uma
mulher, musa dos seus dias, é uma mulher que ensina Bach e Beethoven a
quem a quiser ouvir. É o crepúsculo dela à beira de um sorriso dele,
que dela cuida como porcelana, sem querer que mais ninguém lhe toque. E
dela trata, lavando-a, erguendo-a das cinzas até ao último dos recursos e
da decisão mais fatal porque mais libertadora. Não há filhos ou filhas
que o prendam, há apenas um suave milagre erigido do amor dos homens e
das mulheres que se amam para além da vida, por altura da morte, por
causa da morte feita vida ou da vida à espera da morte...
Magníficos Trintignant e Riva numa sonata de outono a ver e a rever...
Porque «sur le pont d'Avignon, on y dance!»...
Até que a morte nos reúna e nela se faça vida!
Porque «sur le pont d'Avignon, on y dance!»...
Até que a morte nos reúna e nela se faça vida!
1 comentário:
Magnífico comentário...
Filme difícil... como as vidas e a morte!
carmo
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