Romanceiro
*
Sou louco por letras.
Amanso a minha ira com os ditongos de Tolstoi.
Mastigo pós de brilhar com as histórias de Allan Poe.
Durmo ao som dos sonhos de Mia.
Rasgo a minha cólera com as fúrias de Agustina.
E embarco pelas ruas de Zafon, à hora certa dos relógios de Praga.
Baralho os tempos e as esquinas de Agatha.
Adiciono a espuma dos meus dias à turbulência de Faulkner
e vejo as sombras de Vian
no ombro esquivo de Yourcenar.
Quando Pessoa me tirou o sono
as letras molharam-se
por não saberem, afinal,
quem dos seus mil rostos falava assim.
As notas de rodapé embriagaram-me
com a água pé de Proust
e a amêndoa amarga de Cervantes,
o dos insanos moinhos em saga atroz.
As tramas matam os estilos.
Os poemas sabem a prosa.
As linhas cortam as frases
E o teu piano namora a minha voz.
Li.
E nunca mais fiquei só.
(PG), 2021
domingo, 25 de abril de 2021
Romanceiro
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário