UM LICOR DA DINAMARCA
Não tenho o hábito de beber, nem sequer socialmente.
Gosto demasiado da minha sobriedade para procurar alívio ou escape em formas de adormecimento e desinibição mais do que artificiais.
E fui, pois, ver este DRUK com a curiosidade cinéfila de perceber se era um fenómeno de moda aquele que premiou variadíssimas vezes esta obra este ano.
O seu realizador é por mim respeitado desde A FESTA e A CAÇA, sempre com este actor maior do que a vida (Mads Mikkelsen).
O país - a linda Dinamarca - é só um dos mais causticados pelo flagelo do alcoolismo.
Ou devo dizer pelo consumo excessivo de álcool? Onde acaba um e começa o outro?
Interessante esta reflexão filosófica e sociológica sobre esta realidade que todos os anos mata MUITA gente.
E não o poetizemos, com alusões a Bukowski ou Millor Fernandes.
O álcool mata. Ponto final.
Vemos aqui as suas diversas fases - melancolia, iniciação, planalto, ascensão, euforia e queda.
E parte-se da peregrina tese de que o ser humano devia nascer com uma pequena quantidade de álcool no sangue e que a embriaguez moderada abre as mentes para o mundo ao nosso redor, diminuindo os problemas e aumentando a criatividade. Se Hemingway foi um génio literato, se Churchill foi um génio político, vencedor de Nobel, e eles bebiam muito mesmo, porque não beber para replicar esse génio? Esquecem, claro, que o génio já existia antes do álcool...
Mas este filme não é só sobre o álcool e o seu nefasto efeito na nossa vida normalizada e melancólica. É a reflexão sobre o poder de controlo ou descontrolo que escolhemos ter sobre essa mesma vida. E aí a fita é sublime em contenção interior e, paradoxalmente, em efervescência etílica, própria do aparato que qualquer bebida espirituosa provoca no ser humano, mesmo que se diga que se bebe pouco.
É, pois, necessário ver esta película (que tem um dos mais belos términos que este ano vi na tela).
E como alguém já escreveu: «A "vexata quaestio" não é o efeito do álcool no comportamento do ser humano, mas o excesso e o abuso do mesmo, por um lado e, por outro, a capacidade para resistir à atracção fatal do redemoinho do vício. Há um ponto de equilíbrio? Certamente que sim, mas é tão diminuto, tão frágil, que o tremendo esforço a que obriga para alguém lá se manter é digno dum funâmbulo profissional. O deslize dali para a desgraça é tão fácil quanto previsível».
Dá vontade de concordar com aqueles que opinam que é absurdo dizer, conforme a linguagem popular, que alguém se esconde na bebida, quando é certo e sabido que, pelo contrário, a maioria esconde-se na sobriedade.
Sobretudo num país como o nosso com altíssimos índices de consumo de álcool, também e sobretudo junto das camadas mais jovens (vivo numa cidade de praxes e de excessos, claro).
Bebei mas, por favor, não vos multiplicais (fala alguém que muito ajuizou em tribunais de Crianças)...
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