O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre os livros.
As tardes vão-se repetindo no terraço, onde as palavras
são pequenos lugares de memória. Estou divorciada dos
outros pelo tempo destas entrelinhas - longe de casa,
tenho sonhos que não conto a ninguém, viro devagar
a primeira página: em fevereiro, eles ainda faziam amor
à sexta-feira. De manhã, ela torrava pão e espremia
laranjas numa cozinha fria. Havia mais toalhas para lavar
ao domingo, cabelos curtos colados teimosamente ao espelho.
Às vezes, chovia e ambos liam o jornal, dentro do carro,
antes de se despedirem. Às vezes, repartiam sofregamente
a infância, postais antigos, o silêncio - nada
aconteceu entretanto. Regresso, pois, à primeira linha,
à verdade que remexe entre as minhas mãos.
Talvez os olhos
estivessem apenas desatentos sobre o livro;
talvez as histórias
se repitam mesmo, como as tardes passadas no terraço, longe
de casa.
Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém.
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Maria do Rosário Pedreira - A Casa e o Cheiro dos Livros
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À R. pelo canto chão alentejano e pelos postais antigos que ainda fores capaz de encontrar.
E pela primavera que hoje completas.
4 comentários:
Parabéns a essa R. :)
Parabésn à R. e parabéns ao gosto pelos postais antigos. Talvez um dia destes o meu P. me deixe fazer aqui uma surpresa sobre postais antigos. Ele é que é o colecionador.
PARABÉNS TAMBÉM A TODOS OS QUE FAZEM ESTE BLOG QUE NOS ELEVA A ALMA E NOS DESPERTA PARA VOOS MAIS ALTOS!
M.R.
ParaBéns à R.
Bj.
C (EN)
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