quarta-feira, 29 de abril de 2009
Rostos / Vidas
Rostos que são vidas....diferentes, na dificuldade, na profundidade, nas ambições, nas necessidades, na inteligência, na pessoa. Porque assim é...
Sapatos Vermelhos
No Dia Mundial da dança, envio estes sapatos vermelhos para quem povoa o espaço de Giselles e de Cisnes Encantados.
Os pequenos e os grandes
(...)
Tudo isto ficou para trás no passado...
Tudo isto ficou para trás no passado...
Uma tarde dei com o meu pai...
Caminhava ao longo das grades. Andava na distribuição...
Então para não correr mais riscos deixei-me ficar pelo Carroussel...
Escondia-me no meio das estátuas...
Entrei uma vez no Museu. Era grátis nessa altura...
Dos quadros não percebia nada, mas subindo ao terceiro andar dei com o Museu da Marinha. Então nunca mais de lá saí. Ia lá regularmente. Passei ali semanas inteiras... Conhecia os modelos todos...
Ficava sozinho diante das vitrinas...
Esquecia todas as desgraças, os empregos, os patrões, os morfes...
Só pensava em barcos...
Os veleiros, a mim, mesmo em miniatura, fazem-me realmente perder as estribeiras...
Muito eu gostava de ter sido marinheiro... O papá também, outrora... Mas deu para o torto, tanto para mim como para ele!... Começava mais ou menos a entender...(...)
"... Ah! Camarada! Este mundo, asseguro-lhe, não é mais que um imenso negócio que se está marimbando para todos nós! Você é jovem.
Que estes minutos lúcidos valham para si como se fossem anos.
Escute-me com atenção, camarada, e não deixe passar nada sem lhe avaliar bem a importância, esse factor capital sob o qual resplandecem todas as mortíferas hipocrisias da nossa Sociedade:«O compadecimento pela sorte, pela condição dos pobres diabos...»
Digo-vos, homens de bem, vencidos da vida, escorraçados, explorados, eternamente transpirados, previno-vos: quando os grandes deste mundo se resolvem a amar-vos é porque decidiram transformar-vos em carne para canhão ...
É o sinal ... infalível. É por amizade que a coisa começa ..."
[Céline, in Viagem ao fim da noite, Ulisseia, 1966]
terça-feira, 28 de abril de 2009
A festa de Babette
O que nós gostamos de comer, diz muito de nós!
Há que fazer opções!
Teste-se...
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segunda-feira, 27 de abril de 2009
Inefabilidade do Belo
Se as penas todas que jamais serviram
mãos de poetas, houvessem haurido
os sublimes conceitos e arroubos
que o peito, a mente e a musa lhes moveram
ao descantar seus temas portentosos;
se a quinta- essência que elas destilaram
das flores imorredouras de seus versos,
onde, qual num espelho, apercebemos
as culminâncias do engenho humano-
se tudo, tudo isto, num só período
tivessem combinado, e na expressão
da magia do belo: mesmo assim,
sempre naquelas almas ansiosas
havia pelo menos de restar
um pensamento, graça ou maravilha
que nehuma virtude, nenhum estro
logrará digerir em vis palavras.
Christopher Marlowe (1563-1593) Reino Unido
Trad: Luiz Cardim.
In, Rosa do Mundo 2001 Poemas Para o Futuro.
A um amigo do inefável.
Ao LIVRO - Cognome Esperança
Há homens que são capazes
de uma flor onde
as flores não nascem.
Outros abrem velhas portas
em velhas casas fechadas há muito.
Outros ainda despedaçam muros
acendem nas praças uma rosa de fogo.
Tu vendes livros quer dizer
entregas a cada homem
teu coração dentro de cada livro.
Manuel Alegre
sábado, 25 de abril de 2009
Liberdade - Tomo III
O meu ponto de luz
é aquele recanto de sossego multicolor
onde faço das minhas vontades ordens
e das minhas fraquezas fortes plenos de lama,
pânico,
glória,
suor
e coração.
Chama-me o vento.
Não tenho como não lhe responder.
Esqueci-me da palavra passe
do código de honra da minha alma
das cores com que te vestes, solidão...
Escrevo uma prece ao mar perfeito.
Ele não tem como me responder.
Não tem papel de carta, nem tinta permanente.
Só a areia, paleta insensata de sílabas,
onde as letras se escapam
ao sabor da espuma com que se enfeita,
no baile das anémonas e dos corais.
Dói-me o nome.
Atrevo-me a respirar o cravo que não me ofertaste
no segundo minuto em que a minha hora de vida
bateu no fundo do relógio mais atrasado do meu espanto.
Meu ponto de luz?
Desligaram-me sem pré-aviso
e deram-me uma fatia de treva
que logo pinto de branco
à espera de um outro brilho.
Sei onde me dói,
Mas não quero que pare de doer...
ao Gui.
Liberdade - Tomo II
0 dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
[Sophia]
Liberdade
Uma rajada de vento quebrou
a haste do gladíolo vermelho.
Tombado junto à cerca de arameé como um braço vencido por um súbito cansaço.
Em volta a paisagem observa
o seu próprio esplendor verde depois da chuva.
A flor vermelha esmorece
sob a intensidade do sol
e o caule extingue-se de volta à terra.
Sabemos vagamente como tudo isto acontece,
ébrios de identidade e permanência:
em poucos dias completar-se-á a dissolução.
Mas lenta é a morte
por dentro deste fim que acabaremos por esquecer.
J.G. (poeta argentino)
Esta noite uma outra flor rubra amanheceu...
Para nunca mais morrer...
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Aquelas(es) a quem a realidade esmaga
Hoje, lembrei-me destes, particularmente, desta senhora, depois de ver um video no youtube.
Sinceramente, não me compadeço muito com estes destinos e opções.
Além de patéticos, transportam toda a cultura suburbana tão típica dos "Morangos" e quejandos...admira-me é que mais gente não termine assim.
Claro que tenho pena...mas não os choro.
Basta aqueles que a vida nos leva sem quererem ir (seja doença ou acidente...não quero falar em crime).
A Cândida voou e foi ser flor numa branca nuvem...pobre desgraçada. Triste Passagem.
E como ela...tantos antes e os que virão.....porque há muitos que se suicidam sem se matar...basta olhar as novelas juvenis da TVI....está tudo a suicidar-se sem saber...um caos.
E viva o Trocas e Baldrocas.....Deus a tenha em paz....coisa que nunca teve a triste.
Reproduzo texto do Saraiva (no tempo de Expresso)
PS: amanhã, ou depois, coloco pássaros, flores e praias, depois, talvez para a semana, volto aos nus...ou não.
Expresso - 21 de Julho
Marilyn à portuguesa
Inácio Rosa/Lusa
APRENDEU dança clássica.
Mais tarde, fez parte de um grupo musical com algumas pretensões: a Banda do Casaco.
Depois tornou-se menos exigente.
Incentivada, talvez, pelos empresários, enveredou por caminhos mais populares — seguindo o princípio de que é preciso aproveitar as festas das vilas e aldeias e isso não se compadece com pruridos de qualidade. Casou.
Alcançou a fama com «Trocas e Baldrocas», cantada num Festival da Canção.
Aceitou fazer umas poses mais ousadas para as revistas do coração — e, na sequência desse culto do corpo (e talvez inspirada em Jane Fonda), abriu um ginásio na linha de Sintra.
Fez várias operações plásticas.
Separou-se do marido e foi viver para um rés-do-chão em Massamá.
Aí se suicidou.
Há pessoas que têm a má sorte de tomar invariavelmente ao longo da vida as decisões erradas.
Cândida Branca Flor sonhou ser popular e cedeu demais na qualidade.
Casou com o seu agente artístico (ou fez do marido seu agente artístico, o que significa o mesmo) — e, com isso, ficou na contingência de perder ao mesmo tempo o marido e o agente.
Não construiu uma família: condescendeu em não ter filhos.
Como era filha única, também não tinha irmãos.
Quando morreu, não tinha ninguém: nem pais, nem irmãos, nem filhos, nem sobrinhos — só uma mãe adoptiva.
E, quando o declínio físico se tornou mais visível, ficou também sem agentes, sem amigos, sem contratos e sem dinheiro.
Encontraram-na — como Marilyn — morta em casa, ao lado de um frasco de comprimidos.
A solidão de Cândida Branca Flor não foi, entretanto, um problema só dela: é um problema desta sociedade.
O «Big Brother» ou a ilusão da Gata Borralheira
Sentem-no hoje homens e mulheres, novos e velhos, ricos e pobres.
Só que, para os que seguiram a «vida artística» — os que andaram de terra em terra a fazer espectáculos, que viram o rosto impresso em cartazes, que escutaram os aplausos do público, que experimentaram as luzes da ribalta, que foram adorados e endeusados —, a solidão custa mais.
Chegaram a ter tudo e perderam tudo.
Acreditaram na fidelidade do público e o público esqueceu-os.
Confiaram na sinceridade dos empresários e os empresários abandonaram-nos.
Pensaram ter garantido para sempre a fama, o dinheiro e os luxos — e tudo isso desapareceu ao mesmo tempo.
Do passado não ficou nada.
Será isto mesmo, numa escala diferente mas igualmente dolorosa, que acontecerá amanhã às estrelinhas do «Big Brother» — ironicamente chamadas «Big Estrelas».
Atingiram o estrelato de um dia para o outro — e serão esquecidas de um dia para o outro.
Quem, daqui a cinco anos, se lembrará do Zé Maria, do Marco e da Marta, da Susana e do Mário, da Carla e da Sónia?
Saíram das suas terras, mudaram brutalmente de vida — e agora dificilmente aceitarão o regresso à obscuridade.
Há quem pense que, apesar de tudo, valeu a pena.
Tiveram os seus quinze minutos de fama.
Por uma noite, as Gatas Borralheiras foram Cinderelas.
Eu julgo o contrário: era preferível nunca terem saído de Barrancos, de Portalegre ou de Peniche.
Cândida Branca Flor, no momento decisivo, terá sentido que a vida a usou impiedosamente: levou-a a acreditar numa ilusão e depois deixou-a cair.
Os concorrentes do «Big Brother» um dia pensarão o mesmo.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
à distância de um copo
A Comunidade Vida e Paz percorre todas as noites 3 rotas diferentes nas ruas de Lisboa, chegando todos os dias a pelo menos 450 pessoas sem-abrigo.
Leva uma ceia que é composta por duas sandes, um bolo (uma peça de fruta, quando possível) e leite, que frequentemente serve para tomarem ,logo naquela altura, a sua dedicação.
As ceias representam 27 000 sandes e 1800 litros de leite por mês, esforço que só é possível com a ajuda de empresas e particulares que acreditam em apoiar pessoas no caminho de volta à vida digna e feliz que merecem.
Mas numa altura complicada como esta, há que pedir a ainda mais pessoas para ajudarem, porque ela NÃO TEM LEITE!!!.
As carrinhas já estão a sair para a rua sem leite e precisam urgentemente de resolver a situação.
Um litro de leite dá um copo para 5 pessoas sem-abrigo – por isso, cada litro faz uma grande diferença!
Um litro de leite dá um copo para 5 pessoas sem-abrigo – por isso, cada litro faz uma grande diferença!
Partilha o teu leite com a CVP.
COMO FAZÊ-LO?
Entrega na sede da Comunidade Vida e Paz.
Envia a tua ajuda com a Embalagem Solidária dos CTT
(http://www2.ctt.pt/fewcm/wcmservlet/ctt/grupo_ctt/respsocial/projectoLutaContraPobreza.html) para a sede:
Rua Domingos Bomtempo, 7 o 1700-142 LISBOA
Rua Domingos Bomtempo, 7 o 1700-142 LISBOA
Se não estás em Lisboa nem te podes dirigir a uma estação dos CTT, podes simplesmente ligar o 760 50 10 20. Cada chamada reverte um donativo no valor dum litro de leite para nós!
Custa 0.60€+IVA e dura 5 segundos:
só o tempo de se dizer OBRIGADO.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Como o verso ou o desejo
Gostava dessa espécie de beleza
que podemos surpreender a cada passo,
desvelada pelo acaso numa esquina
de arrabalde; a beleza de uma casa devoluta
que foi toda a infância de alguém,
com visitas ao domingo e tardes no quintal
depois da escola; a beleza crepuscular
de alguns rostos num retrato de família
a preto e branco, ou a de certos hotéis
que conheceram há muito os seus dias de fulgor
e foram perdendo as estrelas; a beleza condenada
que nos toma de repente, como um verso
ou o desejo, como um copo que se parte
e dispersa no soalho a frágil luz de um instante.
Gostava de tudo isso que o deixava muito a sós
consigo mesmo, essa espécie de beleza arruinada
onde a vida encontra o espelho mais fiel.
Rui Pires Cabral
N.B. Passiflora, roubei-te aquela vista sobre um mar que é também meu pois é uma das mais belas fotografias que tenho visto...
terça-feira, 21 de abril de 2009
Cry me a river
Um espanto!
A vez da voz quando a vez da face não ajuda para aqueles que julgam os outros só pelas aparências...
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Amei
Amei.
É incompreensível como o tremor das árvores.
Agora estou extraviado na luz porém sei que amei.
Eu vivia num ser e seu sangue deslizava pelas minhas veias e
a música me envolvia e eu mesmo era música.
Agora, quem está cego nos meus olhos?
Umas mãos passavam sobre meu rosto e envelheciam docemente.
Que foi existir entre cordas e espíritos?
Quem fui nos braços da minha mãe,
quem fui no meu próprio coração?
É estranho: somente aprendi a desconhecer e esquecer.
É estranho:
agora, o amor
habita no esquecimento.
António Gamoneda
trad. de António Cícero
trad. de António Cícero
domingo, 19 de abril de 2009
sábado, 18 de abril de 2009
Vivo
Et voilá...je suis vivant encore.
Por vezes o corpo joga contra nós e obriga-nos a retiros.
Um abraço grande a todos e perdoem que insista nos corpos.
Mensagem 1000 - a caminho
O Caminho de Santiago de Compostela é uma ancestral rota de peregrinação que se estende por toda a Península Ibérica até a cidade de Santiago de Compostela, no extremo oeste do Reino da Espanha, aonde se acredita estar o túmulo do apóstolo homônimo.
Desde o século IX, homens e mulheres partem de suas cidades tendo como destino aquele lugar sagrado, movimento este que teve seu auge nos séculos XII e XIII com a passagem de centenas de milhares de viajantes.
Hoje em dia, pessoas de todas as idades imitam os passos medievais e percorrem este antigo traçado; uns por espírito religioso-cristão, outros por misticismo, busca interior ou apenas como uma grande aventura.
Hoje falei com alguém que o faz anualmente. Senti-lhe o brilho na voz e o entusiasmo por aqueles dias de nudez espiritual.
É a mensagem n.º 1000 deste blogue.
Dedico-a à A.
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