Se eu pudesse voar assim, rasando as águas,
pegaria nas minhas asas de vento
e dobraria os cabos dos meus medos,
movido pelas garças do tempo,
porque mais ciosas do meu chão...
Num rodopio sem fim,
lançaria ao rio as mágoas
Porque sou gaivota,errante, minha, nossa,
Se amo, sou perdoado...
e esperaria que a maré vaza
as despejasse no lodo dos dias
Levaria em minhas asas sementes de esperança, os sonhos, a força e o desejo de conseguir ser sempre Eu com todos os Outros.
Voaria.
Simplesmente voava. Vento e mar.
Liberdade, inocência...
Voaria.
Seria ave.
Maior desejo não há.
Pois sendo ave, serena e poderosa
gravaria o teu nome, importal
com as asas feitas penas,
na superfície das águas
E chegaria aonde antes nunca estivera...
Ao mais recôndito canto de mim...
Tocaria a minha alma,
Levemente...
E descobriria que, afinal, também sou Luz...
E voaria...
Voaria entre as aves...
Mas incompleto, rente aos palmos de chão apenas,
sobra-me só a vista aérea em que me debruço, lentamente,
a chorar por não partir.
Maratona de ser homem,
sacudiria os estorvos,
a inteligência,
e sôfrega, viveria a pulsação dos sentidos,
até à luz, aquela luz imensa
do silêncio de mim...de ti...de nós...
...tocava-te ao de leve
com a minha asa
carregada de ternura
pedia-te desculpa
dizia-te quanto te amei,
amo e amarei...