quinta-feira, 30 de junho de 2011
terça-feira, 28 de junho de 2011
horror
Até tremo em pensar isto, quanto mais escrever...a tvi está em extâse com a morte do jovem (fruto dela, sem dúvida) mas simpático e merecedor de uma longa vida....Angelico....acredito que vai ser uma produção inimitável...vão cobrir tudo....até à última poeira que cairá na sua tumba.
Uma tristeza... passo todos os dias em frente ao Hospital de Santo António e fico agoniado ao ver aquelas jovens, estou certo que a maior parte tem menos de 15 anos, a dizer que "dou a vida por ti" e quejandas coisas...e com fotos do rapaz em roupa diminuta.Tenho imensa pena do Angelico. Apenas porque ninguém merece morrer tão cedo. E porque era uma pessoa simpática e cheia de empatia e alegria. Doi imenso ver alguém tão jovem, e tão cheio de vida e projectos, morrer tão estupidamente. milhares morrem assim.
Pode ser um tempo de consciencialização (duvido...as Tv´s não vão deixar)..um tempo de reflexão (duvido também)..nesta merda de imagem que as Tv´s tomaram conta e passam. onde está o real ? toda aquela criançada que berra e grita e esperneia, seja pelo falecido seja por outro, anda muito longe da realidade e, pior que tudo, os paizinhos nem sequer se preocupam...isto vai acabar tudo muito mal...e não só pelo FMI...os valores, as crenças, os principios, as prioridades, a solidariedade baseada em valor e prestação e não em fugaz conhecimento...tudo isto está em crise...só me vale que, quando esta morangada toda estiver no poder estarei morto ou em tal estado que nada me fará diferença. Um pai nosso pelo Angelico, com muita pena, e com a experiencia de perder entes amados cedo demais. Que possa ficar em paz .
sábado, 25 de junho de 2011
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Masculino singular
Este homem que pensou
com uma pedra na mão
transformá-la num pão
transformá-la num beijo
Este homem que parou
no meio da sua vida
e se sentiu mais leve
que a sua própria sombra
[ Ramos Rosa ]
com uma pedra na mão
transformá-la num pão
transformá-la num beijo
Este homem que parou
no meio da sua vida
e se sentiu mais leve
que a sua própria sombra
[ Ramos Rosa ]
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Masculino plural
O primeiro me chegou
Como quem vem do florista:
Trouxe um bicho de pelúcia,
Trouxe um broche de ametista.
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha.
Me mostrou o seu relógio;
Me chamava de rainha.
Me encontrou tão desarmada,
Que tocou meu coração,
Mas não me negava nada
E, assustada, eu disse "não".
O segundo me chegou
Como quem chega do bar:
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar.
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida.
Vasculhou minha gaveta;
Me chamava de perdida.
Me encontrou tão desarmada,
Que arranhou meu coração,
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse "não".
O terceiro me chegou
Como quem chega do nada:
Ele não me trouxe nada,
Também nada perguntou.
Mal sei como ele se chama,
Mas entendo o que ele quer!
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher.
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse não,
Se instalou feito posseiro
Dentro do meu coração.
A casa está só, a sós
Do livro infantil "A Casa Grande - Manifesto de Cidadania" com textos de João Manuel Ribeiro
"Na Casa Grande cada um só está só quando precisa de estar assim.
Quando alguém diz: “Preciso de estar só”, isso não significa que se sinta abandonado ou rejeitado, mas apenas que necessita de olhar-se por dentro e a partir de dentro.
Estar só é estar a sós.
No resto do tempo há sempre uma presença invisível que faz com que cada um se sinta presente ao outro de modo admirável."
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As fotos do MAP
(...)
Não tenho braços suficientes para conseguir suportar o teu peso, que me é tão leve...
Amo. E só por isso sou perdoado!
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Filial
Mãe, eu quero ir-me embora – a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram –
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.
Mãe, eu quero ir-me embora – os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim – tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.
Mãe, eu quero ir-me embora – nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique –
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.
Mãe, eu vou-me embora – esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua – a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste um dia que chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.
Maria Rosário Pedreira in O Canto do Vento nos Ciprestes
terça-feira, 21 de junho de 2011
domingo, 19 de junho de 2011
Mulher com vista sobre a cidade
Começa o tempo onde a mulher começa, é sua carne que do minuto obscuro e morto se devolve à luz. Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras com uma imagem. Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade uma ideia de pedra e de brancura. És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves, que te alimentas de desejos puros. E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola, a sombra canta baixo. Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua, onde a beleza que transportas como um peso árduo se quebra em glória junto ao meu flanco martirizado e vivo. - Para consagração da noite erguerei um violino, beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada darei minha voz confundida com a tua. Oh teoria de instintos, dom de inocência, taça para beber junto à perturbada intimidade em que me acolhes. Começa o tempo na insuportável ternura com que te adivinho, o tempo onde a vária dor envolve o barro e a estrela, onde o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida ingénua e cara, o que pressente o coração engasta seu contorno de lume ao longe. Bom será o tempo, bom será o espírito, boa será nossa carne presa e morosa. - Começa o tempo onde se une a vida à nossa vida breve. Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna salina, imagem fechada em sua força e pungência. E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado em torno das violas, a morte que não beijo, a erva incendiada que se derrama na íntima noite - o que se perde de ti, minha voz o renova num estilo de prata viva. Quando o fruto empolga um instante a eternidade inteira, eu estou no fruto como sol e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada matriz de sumo e vivo gosto. - E as aves morrem para nós, os luminosos cálices das nuvens florescem, a resina tinge a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã. E estás em mim como a flor na ideia e o livro no espaço triste. Se te apreendessem minhas mãos, forma do vento na cevada pura, de ti viriam cheias minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses em minha espuma, que frescura indecisa ficaria no meu sorriso? - No entanto és tu que te moverás na matéria da minha boca, e serás uma árvore dormindo e acordando onde existe o meu sangue. Beijar teus olhos será morrer pela esperança. Ver no aro de fogo de uma entrega tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus será criar-te para luz dos meus pulsos e instante do meu perpétuo instante. - Eu devo rasgar minha face para que a tua face se encha de um minuto sobrenatural, devo murmurar cada coisa do mundo até que sejas o incêndio da minha voz. As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso jovem da carne aspiram longamente a nossa vida. As sombras que rodeiam o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto seu bárbaro fulgor, o rosto divino impresso no lodo, a casa morta, a montanha inspirada, o mar, os centauros do crepúsculo - aspiram longamente a nossa vida. Por isso é que estamos morrendo na boca um do outro. Por isso é que nos desfazemos no arco do verão, no pensamento da brisa, no sorriso, no peixe, no cubo, no linho, no mosto aberto - no amor mais terrível do que a vida. Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz o perfume da tua noite. Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua e branca das mulheres. Correm em mim o lacre e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca ao círculo de meu ardente pensamento. Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam sobre o teu sorriso imenso. Em cada espasmo eu morrerei contigo. E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente das urzes, um silêncio, uma palavra; traz da montanha um pássaro de resina, uma lua vermelha. Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos, casa de madeira do planalto, rios imaginados, espadas, danças, superstições, cânticos, coisas maravilhosas da noite. Ó meu amor, em cada espasmo eu morrerei contigo. De meu recente coração a vida inteira sobe, o povo renasce, o tempo ganha a alma. Meu desejo devora a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma de crepúsculos e crateras. Ó pensada corola de linho, mulher que a fome encanta pela noite equilibrada, imponderável - em cada espasmo eu morrerei contigo. E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro da tua entrega. Bichos inclinam-se para dentro do sono, levantam-se rosas respirando contra o ar. Tua voz canta o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com o lento desejo do teu corpo. Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo eu morrerei contigo. Herberto Helder
sábado, 18 de junho de 2011
Mestrados
Ela hesitou, sem saber bem como se classificar
-"O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário.
-" Claro que tenho um trabalho", exclamou Ana. -"Sou mãe".
-"Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. Vou colocar Dona de casa", disse o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história até ao dia em que me encontrei em situação idêntica...
A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante.
-"Qual é a sua ocupação?" Perguntou.
Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:
-"Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas. "
A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar e olhou-me como quem diz que não ouviu bem...
Eu repeti pausadamente,enfatizando as palavras mais significativas.
-"O que eu pergunto é se tem um trabalho", insistiu o funcionário.
-" Claro que tenho um trabalho", exclamou Ana. -"Sou mãe".
-"Nós não consideramos 'mãe' um trabalho. Vou colocar Dona de casa", disse o funcionário friamente.
Não voltei a lembrar-me desta história até ao dia em que me encontrei em situação idêntica...
A pessoa que me atendeu era obviamente uma funcionária de carreira, segura, eficiente, dona de um título sonante.
-"Qual é a sua ocupação?" Perguntou.
Não sei o que me fez dizer isto; as palavras simplesmente saltaram-me da boca para fora:
-"Sou Doutora em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas. "
A funcionária fez uma pausa, a caneta de tinta permanente a apontar para o ar e olhou-me como quem diz que não ouviu bem...
Eu repeti pausadamente,enfatizando as palavras mais significativas.
Então reparei, maravilhada, como ela ia escrevendo, com tinta preta, no questionário oficial.
Posso perguntar", disse-me ela com novo interesse, "o que faz exactamente?"
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:
-"Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa).
Sou responsável por uma equipa (a minha família) e já recebi quatro projectos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas).
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou e pessoalmente foi abrir-me a porta.
Quando cheguei a casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipa: - uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3.
Do andar de cima, pude ouvir o meu mais recente projecto (um bebé de seis meses), a testar uma nova tonalidade de voz.
Senti-me triunfante.
Maternidade... que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas "Doutora-Sénior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas ".
As bisavós: "Doutora- Executiva-Sénior".
Calmamente, sem qualquer traço de agitação na voz, ouvi-me responder:
-"Desenvolvo um programa a longo prazo (qualquer mãe faz isso), em laboratório e no campo (normalmente eu teria dito dentro e fora de casa).
Sou responsável por uma equipa (a minha família) e já recebi quatro projectos (todas meninas). Trabalho em regime de dedicação exclusiva (alguma mulher discorda???), o grau de exigência é em nível de 14 horas por dia (para não dizer 24 horas).
Houve um crescente tom de respeito na voz da funcionária que acabou de preencher o formulário, se levantou e pessoalmente foi abrir-me a porta.
Quando cheguei a casa, com o título da minha carreira erguido, fui recebida pela minha equipa: - uma com 13 anos, outra com 7 e outra com 3.
Do andar de cima, pude ouvir o meu mais recente projecto (um bebé de seis meses), a testar uma nova tonalidade de voz.
Senti-me triunfante.
Maternidade... que carreira gloriosa!
Assim, as avós deviam ser chamadas "Doutora-Sénior em Desenvolvimento Infantil e em Relações Humanas ".
As bisavós: "Doutora- Executiva-Sénior".
E as tias: "Doutora - Assistente".
De volta
Depois de uma avaria incómoda, eis-me de volta à flor do deserto.
Estou triste.
Porque a minha casa - a outra - sangra.
Porque alguém quer acabar com ela.
Porque há desígnios escondidos e maléficos por trás das máscaras dos meliantes do templo.
Eles - os de dentro - não são demónios nem algozes.
erram, por vezes.
E um erro na vida não significa uma vida de erros...
Estou triste.
Porque a minha casa - a outra - sangra.
Porque alguém quer acabar com ela.
Porque há desígnios escondidos e maléficos por trás das máscaras dos meliantes do templo.
Eles - os de dentro - não são demónios nem algozes.
erram, por vezes.
E um erro na vida não significa uma vida de erros...
terça-feira, 14 de junho de 2011
Saltimbancos
Acenderam a luz dentro da casa
E as árvores tomaram vida humana.
Passado o muro, para além dos campos,
Ressoou o tambor dos saltimbancos.
Corpo de escamas como o de um peixe
Nas águas da noite cheias de correntes
Tem dois búzios do mar sobre os ouvidos,
Ouve, só para si, uma canção.
Sophia
tudo renasce
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
Sophia
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Erros
A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida — o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos
Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?
Sophia
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Privilégios
"É dever do homem justo fazer guerra a todos os privilégios não merecidos, mas não se pode esquecer que esta é uma guerra sem fim. Onde existir um poder exercido por poucos, ou por um só, contra os muitos, o privilégio nasce e prolifera, mesmo até contra a vontade do próprio poder; mas é normal que o poder, pelo contrário, o tolere e encoraje."
Os que sucumbem e os que se salvam
Primo Levi
segunda-feira, 6 de junho de 2011
MEIAS VERDADES
"A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só conseguia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia os seus fogos. Era dividida em duas metades diferentes uma da outra.Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era perfeitamente bela. E era preciso optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia."
Carlos Drummond de Andrade. A Verdade Dividida.
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As fotos do MAP
O dia depois do amanhã
Vai valer a pena acordar num país novo, sem o fantasma do defunto, sem a marca de um homem cinzento, implacável, vendedor de ilusões, malabarista das verdades.
Não sei o que aí vem.
Só sei que eu não queria ir por aí...
domingo, 5 de junho de 2011
A árvore da (nossa) vida
Se há coisa que "Tree of Life" explicita é, por um lado, um efeito de intimidação que Malick e os seus filmes são capazes de produzir - do estilo: se estamos perante algo de tão fora da normalidade, a nossa relação com isso só pode ser...extraordinária; por outro, que o cinema de Malick parece ter criado a sua liturgia e aí cristalizado, e nesse sentido "Árvore da Vida" é uma autocelebração.
Nesta nova missa os rituais são os mesmos, a câmara faz tangentes a vultos que não chegam a ser personagens (Sean Penn não chega a ser actor), e apesar das várias vozes não há contracampo.
Só ele fala.
Malick?
Deus?
UM FILME DE OUTRO MUNDO.
MAS MUITO NOSSO.
Porque sei que não houve um só momento na nossa História em que Deus se tenha sentido realmente à vontade!
É Domingo - até quando?
Aos domingos as ruas estão desertas
e parecem mais largas.
Ausentaram-se os homens à procura
de outros novos cansaços que os descansem.
e parecem mais largas.
Ausentaram-se os homens à procura
de outros novos cansaços que os descansem.
Seu livre arbítrio algremente os força
a fazerem o mesmo que fizeram
os outros que foram fazer o que eles fazem.
E assim as ruas ficaram mais largas,
o ar mais limpo, o sol mais descoberto.
Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem as pernas
a fazerem o mesmo que fizeram
os outros que foram fazer o que eles fazem.
E assim as ruas ficaram mais largas,
o ar mais limpo, o sol mais descoberto.
Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem as pernas
e espetarem o ventre e alargarem os braços
no amplexo de amor que só eles conhecem.
O olhar aberto às largas perspectivas
difunde-se e trespassa
os sucessivos, transparentes planos.
Um cão vadio sem pressas e sem medos
fareja o contentor tombado no passeio.
O olhar aberto às largas perspectivas
difunde-se e trespassa
os sucessivos, transparentes planos.
Um cão vadio sem pressas e sem medos
fareja o contentor tombado no passeio.
É domingo.
E aos domingos as árvores crescem na cidade,
e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se a cantar empoleirados nelas.
Tudo volta ao princípio.
E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das vacas
e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as pedras
levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo,
enquanto o transeunte,
no deslumbramento do encontro inesperado,
eleva a mão e acena
para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.
E aos domingos as árvores crescem na cidade,
e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se a cantar empoleirados nelas.
Tudo volta ao princípio.
E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das vacas
e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as pedras
levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo,
enquanto o transeunte,
no deslumbramento do encontro inesperado,
eleva a mão e acena
para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.
António Gedeão, Novos Poemas Póstumos, 1990(in Poesia Completa, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 2a. Ed., 1997, p. 188).
*
sábado, 4 de junho de 2011
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Lista negra
O primeiro impulso (a que talvez ceda) é publicar, tantos anos depois, uma lista daquilo e de quem não gosto. Por variadíssimas razões. Creio que qualquer um entende que não se goste de Perdidos na Tribo e de Prós e Contras...hehehehe
Tudo farinha que sai do mesmo saco mas vai cair a mós diferentes (sabem o que são mós certo?).
Olhem, qual negro corvo, aqui vai uma lista de coisas/gente/existências que me deixam fora de mim. Não gosto:
1. de plásticos a envolver cd e dvd
2. da Catarina Furtado a torcer-se toda (tipo boa) em qualquer programa...desde galas a programas com putos...e a falar tipo "Olhem bem...SOU EU"
3.da Não sei quantas Marta..que apresenta uma imbecilidade aos fins de semana...(Top Mais?) Leite Castro? alguém que já conheceu muito ...pronto...um programa à altura dela
4. do Sócrates...a qualquer hora
5. do Passos Coelho a dar o dito por não dito
6.do João Adelino Faria, sobretudo depois do casamento do guilherme de Gales, e o homem sempre a falar do "beijo real"...que parolo..e que horrivel surpresa
7.da new Judite de Sousa
8. da new Fatima Campos Ferreira
9.das 3 TV´s e do desrespeito que teimam em ter por nós todos
10. do serviço cabo...abaixo de cão a maior parte do tempo.
11.dos programas da manhã da rtp, tvi e sic
12. dos programas da tarde da rtp, tvi e sic
13.da mediocridade que nos impingem, como se fossemos assim
14. da Bárbara (boca torta) Guimarães a encher tudo onde se mete como se ela fosse o programa.
15. do Daniel Oliveira (não o do eixo do mal) e seus programas de trivialidades, feitos como se estivesse a atingir o cume do Evereste.
16.do inefável J. Castelo Branco (que pessoa perturbada).
17. da incompreensivel Manuela Moura Guedes (que pessoa complicada).
18. das Júlias, Leonores, Jorges, Cristinas, Sónias, Manueis, Helderes (será assim?), e quejandos que enchem as tv´s e ajudam à estupidificação completa.
19. de quem inventou a nova forma do ESC
20. de ....qualquer dia...nós
Fiquem bem e mandem brasa. who care´s ?
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