domingo, 28 de setembro de 2008

The day before you came

Para o G.
The day before you came...

The End


Cedo então ao inevitável.

Apaga-se hoje a nossa história.

Levanto-me, enfim, quase desnudado por tanta espera,

sem querer voltar atrás...


Sabes onde moro.

Não sairei de lá.

Só não prometo guardar os teus livros,

as tuas cegas bonecas,

o teu cheiro...


Não olho para trás



Estava determinada a guardar silêncio...
Abro apenas esta excepção, em nome do que juntos escrevemos no passado.
Confesso que a múscia é bela, e constato que não perdeste o poder de sedução.
Mas o teu pedido está trocado no tempo, e a pessoa que tu conheces já não existe.
Acredita nas minhas palavras. Eu não mudarei de ideias.
Não faças desse cais um porto, de onde apenas se pode partir e nunca regressar.
Inicia novas caminhadas, de cabeça virada para a frente.

Não voltes a olhar para trás...

In Memoriam (Paul NEWMAN)









Hoje não há fitas na matiné.
O écran está menos azul.
Está vazio e calado.
De tristeza.
De negro vestido mais do que é costume.
O último dos grandes desapareceu.
Para sempre...
As minhas homenagens e a uma época de ouro do Cinema.

Love you ... lately?

Como último argumento, ò maré que não chegas,
deixo-te a minha canção favorita.
Aquela que te fazia render.
Do meu cantor favorito.
Para a minha história de amor favorita.

Vens?



Não consigo dormir esta noite.

O ruído da água na madeira do cais perturba-me.

E as gaivotas que não se querem calar.

Já estou arrependido do que escrevi há duas horas.

Sou aquele mesmo homem de sempre. O teu.
De novo.
O que gosta de bonecas.
E do cheiro dos teus livros.

Sou um homem que não se quer mexer.
Até que mudes de ideias. Não acredito numa só das tuas palavras. Preciso que mas digas olhos nos olhos. Tantas vezes fui eu que te quis deixar e foste tu que não me deixaste partir...

Vens?

Meu (eterno) cais


Vai. Não voltes.
Se assim o desejas.
Também não gosto de mulheres que não gostam de bonecas.
O cais será mais só meu...

sábado, 27 de setembro de 2008

Resposta à tua carta: no meu cais


Podes esperar no cais,
que para ti imaginaste.
Eu não voltarei.

Fugi da tua rua,
da tua cidade,
da falta de lar,
de ti.

A obssessão é só tua.
Eu já não sonho,
com fogo de artifício verde.
E a água
há muito tempo
que deixou de me queimar.

O meu rosto tem olhos,
boca, nariz
e maçãs salientes.
Está airoso,
e resplandece
na sabedoria da idade.

A alfazema e a madressilva
vivem no jardim com as abelhas,
E quem recolhe o mel selvagem
são as aves alegres que nele vadiam.

Não gosto de bonecas,
são brinquedos
de mulheres desequilibradas.
Rostos mortos.

Em comum contigo,
apenas,
aceitar o imponderável,
por lucidez, não por destino!

Não esperes por mim,
eu, os meus livros,
e o cheiro deles,
não voltaremos.

Não esperes por mim,
se o fizeres
vais morrer no cais...

P.S. Prefiro o linho e o algodão,
à névoa cambraia,
na minha idade
não há transparências...

Acordando





Um Abraço e Beijo a todos.
Até breve.
G.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sono de uma noite de Verão




No meu cais


Espero-te no meu cais, vestido a rigor,
de verde mar incendiado,
de anil cor do fogo que aquela água apaga.
Imagino que tu vens vestida de névoa cambraia
Sem rosto, sem mosto,
apenas com o sabor a mel selvagem
que a abelha mais obreira do teu recanto
foi capaz de retirar da mais doce aragem,
feito do ar puro que de ti brota,
que em mim repousa...
Não sei se vens por bem,
Se vens por mal entendidos.
Só me resta esperar
o imponderável,
o cheiro a livros e a casa de bonecas,
a sombra da alfazema e da madressilva,
a barca que me há-de fazer chegar notícias de ti.
Estou aqui sentado na madeira do cais.
Só para que conste, não saio daqui sem tu chegares,
mesmo que nunca chegues a chegar...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Vila Madruga


Soprava um vento norte que enregelava os ossos.
Amélia olhou as nuvens carregadas de cinza, puxou o casaco de lã e fechou a janela devagarinho, como que a despedir-se do Verão e das suas memórias dele.
Dentro de casa ouvia-se o som das vagas a bater nas rochas e das gaivotas em terra, a piar sem sossego.
Amélia achou-se desconfortável, acendeu o lume na lareira da sala grande, e iniciou outra vez a leitura das páginas que escrevera sobre esse Verão, e as lembranças antigas que com ele vieram.
Há 32 anos atrás Amélia tinha casado com João.
Na época eram ambos muito jovens e estavam muito apaixonados.
Durante alguns anos viveram bem. Trabalharam muito. Conseguiram arranjar dinheiro para esta casa, de onde João saia para a pesca todas as noites, e onde regressava quase de manhã.
Amélia trabalhava num centro de enfermagem e cuidava das crianças, a Luísa e o Manuel.
Mas, tudo isso tinha sido antes da chegada do Inferno.
Um dia, dois companheiros de pesca caíram ao mar e nunca mais foram vistos.
Em Vila Madruga ninguém chegou a saber o que aconteceu.
Enterraram os mortos atirando flores ao mar e, desde esse dia, os companheiros que restaram nunca mais entraram na traineira nem seguiram os mesmos caminhos.
Desde então, João começou a beber, a perder-se nas tabernas e na casa da Marquitas Trigueira.
Em dias de tempestade ia pôr-se à frente do mar a olhar a lonjura, e voltava para casa com a violência das vagas...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Paz e Outono


Os 9 anos da Francisca

Já tenho as palavras gastas.
O amor que sinto por ti, F., não cabe nesta concha, no meu sacrário de palavras e neste regaço de magnólias...
Para sempre...


terça-feira, 23 de setembro de 2008

O dia em que o mundo congelou...

Que ideia fantástica...

Vamos experimentar um dia?

All together...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O Riso


«Sinto pena dele - admite o Português.
- Pois eu estou-me merdando para o gajo - remata Bartolomeu.
Ri-se para reafirmar o desprezo. E logo lhe sobrevém um ataque de tosse que o deixa sem respirar.
- Puta de vida - diz -, não vivemos se não nos rimos e depois morremos por nos termos rido - e conclui, após recuperar o fôlego:- O Doutor acha que sou uma anormalidade?
O médico olha para o parapeito e estremece de ver tão frágil, tão transitório aquele que é o seu único amigo em Vila Cacimba. o aro da janela surge como uma moldura da derradeira fotografia desse teimoso mecânico reformado.
- Posso fazer-lhe uma pergunta íntima?
- Depende - Responde o Português.
- O senhor já alguma vez desmaiou, Doutor?
- Sim.
- Eu gostava muito de desmaiar. Não queria morrer sem desmaiar.
O desmaio é uma morte preguiçosa, um falecimento de duração temporária. O português, que era um guarda-fronteira da Vida, que facilitasse uma escapadela dessas, uma breve perda de sentidos.
- Me receite um remédio para eu desmaiar.
O Português ri-se. Também a ele lhe apetecia uma intermitente ilucidez, uma pausa na obrigação de existir.
- Uma marretada na cabeça é a única coisa que me ocorre.
Riem-se. Rir junto é melhor que falar a mesma língua. Ou talvez o riso seja uma língua anterior
que fomos perdendo á medida que o mundo foi deixando de ser nosso.»

Mia Couto
Venenos De Deus Remédios Do Diabo

Pensamento recorrente


O mundo saiu dos gonzos!
Vã fadiga a de haver nascido
com o dever de o consertar!

William Shakespeare,
Hamlet

domingo, 21 de setembro de 2008

Os Comediantes





Nuvens cor da palidez da morte apertam a garganta de quem apenas se alimenta do cálice do pranto, línguas de fogo devoram as entranhas dos que, comodamente, pisam os mais fracos.
Há berros incontidos em cada um de nós. Há brisas de um novo tempo que não deixam respirar.
Há aguias majestosas à espreita de uma presa fácil e há algas feiticeiras misturadas com tanto mar...
Espalhai a notícia: eu tive um sonho.
É que viraram a página e todos os escorpiões foram mortos!

No Terraço


«Uma manhã, um de nós esgotou a tinta preta; e foi o nascimento do Impressionismo».
«A Natureza conduz o artista para a solidão; eu quero permanecer entre os homens».
Pierre-Auguste Renoir

(O Meu Renoir Preferido.)

Manhãs Limpas


Quadros de Pierre-Auguste Renoir

O amor é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.
Eugénio de Andrade ( Os amantes sem dinheiro)

sábado, 20 de setembro de 2008

Big Brother


Sem palavras

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Caminhada


Quando a saudade aperta
E o longe se faz dor
As curvas do caminho
Tomam os cheiros
Os gestos
As palavras
Das memórias
Caminhadas
Da nossa vida...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Será que tudo muda mesmo?


Grato estou à Alfazema por me ter dado a conhecer esta bela balada de Mercedes Sosa.
Ei-la...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Vida


Quando o vendaval acorda os mortos no túmulo, quando o mar enche a terra com sua música selvagem, gosto de me perder no abismo profundo da vida.
A vida tem para mim o fascínio do mistério. Flor que nasce e que morre num dia, a vida tem a duração da eternidade.
Antes do homem existir, a vida já cantava sobre as águas. E quando o homem abriu os olhos para a luz, foi a vida que lhe pôs no coração o primeiro frémito e o primeiro espanto.


Paulo Corrêa Lopes, Poeta Brasileiro.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Nessa lua que se afundava...

Ouvi, vindo da lua que um dia eu te dei, e que se afundava, a olhos vistos, uma prece:
"Eu não voltarei.
E a noite morna, serena, calada, adormecerá tudo, sob sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente, e pela janela alta entrará a brisa fresca a perguntar por minha alma. Ignoro se alguém me aguarda de ausência tão prolongada, ou beija a minha lembrança entre carícias e lágrimas.
Mas haverá estrelas, flores e suspiros e esperanças, e amor nas alamedas, sob a sombra das ramagens.
E tocará esse piano como nesta noite plácida, não havendo quem o escute, a pensar, nesta varanda".
Nesse momento, sentei-me no barco
e circundei a lua que ainda estava hirta nas águas felizes do nosso ocaso.
Não olhei para trás.
Não vi que, ao longe, tu me piscavas os olhos rasos de água
E não ouvi a sonata que me dedicaste.
Se alguém me espera, no alto da minha queda,
é porque mereço.

Lugares magnólicos

O cais dele...

A ponte dela...

Meu poiso renovado...



Sobre as palavras, esses redondos vocábulos...


Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.
A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha
Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.


Anos depois, na estrada,
Encontro
Essas palavras secas e sem rédeas,

Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

Sylvia Plath

(tradução de Ana Cristina César)

Marco Polo



Marco Polo, nasceu em Veneza em 15 de Setembro de 1254. Foi um dos primeiros ocidentais a percorrer a Rota da Seda. O relato detalhado das suas viagens pelo oriente, incluindo a China, foi durante muito tempo uma das poucas fontes de informação sobre a Ásia no ocidente.
Esteve na corte do rei mongol Kublai Kan, neto do poderoso Gengis Kan e, a seu serviço, percorreu a Tartária, a China e a Indochina. Voltou a Veneza, mediante permissão do Imperador, em 1295.
Marco Polo foi feito prisioneiro na guerra contra Génova. Durante o cativeiro, ditou as suas aventuras de viagem a Rusticiano de Pisa, também prisioneiro.
Existem, no entanto dúvidas sobre a efectiva realização por Marco Polo de todas as viagens que contou, havendo quem pense que, em alguns casos, narrou histórias que ouviu de outros viajantes. Mas, quaisquer que tenham sido as fontes de A Descrição do Mundo, de Marco Polo, aquela descrição é reconhecidamente importante, quer na época, quer na actualidade.

Reflectindo esta relativização das Viagens de Marco Polo deixo aqui um interessantíssimo diálogo entre o próprio Marco Polo e Kublai Kan, in Calvino, Italo; As Cidades Invisíveis; Lisboa: Editorial Teorema; 2006.


Kublai:-- Não sei quando tiveste tempo para visitar todos os países que me descreves. Eu acho que tu nunca saíste deste jardim.


Polo:- Cada coisa que vejo e faço toma sentido num espaço da mente onde reina a mesma calma daqui, a mesma penumbra, o mesmo silêncio percorrido pelo estalar das folhas. No momento em que me concentro a reflectir, dou comigo sempre neste jardim, a esta hora da tarde, na tua augusta presença, embora continuando sem um instante de pausa a subir um rio verde de crocodilos ou a contar os barris de peixe salgado que colocam no porão.


Kublai:- Nem eu tenho a certeza de estar aqui, a passear por entre as fontes de pórfiro, ouvindo o eco dos repuxos, e não a cavalgar coberto de suor e de sangue à cabeça do meu exército, conquistando os países que tu terás de descrever, ou a cortar os dedos dos sitiantes que escalam as muralhas de uma fortaleza assediada.


Polo:- Talvez este jardim só exista à sombra das nossas pálpebras cerradas, e nunca tenhamos deixado, tu de erguer poeira nos campos de batalha, e eu de contar sacos de pimenta em longínquos mercados, mas sempre que semicerramos os olhos no meio da algazarra e do tropel é-nos concedido o retirarmo-nos aqui vestidos de quimonos de seda, a considerar o que estamos a ver e a viver, a tirar as somas, a contemplar de longe.


Kublai:- Talvez este nosso diálogo esteja a desenrolar-se entre dois vagabundos alcunhados de Kublai Kan e Marco Polo, que estejam a vasculhar num depósito de lixo, amontoando destroços enferrujados, bocados de pano, papel velho, e que bêbedos com poucos goles de vinho ordinário vejam à sua volta resplandecer todos os tesouros do Oriente.


Polo:- Talvez do mundo só tenha restado um terreno vazio coberto de imundícies, e o jardim suspenso do palácio do Grão Kan. São as nossas pálpebras que os separam, mas não se sabe qual está dentro e qual está fora.



(Nota: o agendamento automático pregou-me uma partida, por isso só hoje publico este post.)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Por onde andas, Gui?


A Bela do Outono. A Cidade do Porto.












A Cidade do Porto, ou "Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta" Cidade do Porto. É a cidade que deu o nome a Portugal – desde muito cedo (c. 200 a.C.) que se designava de Portus, vindo mais tarde a tornar-se a capital do Condado Portucalense, ou Portucale (de onde houve nome Portugal). É ainda uma cidade conhecida mundialmente pelo seu vinho, o seu centro histórico, catalogado como Património Mundial pela UNESCO e pelo seu conhecido clube de futebol (Futebol Clube do Porto).

Fontes: Wikipédia

domingo, 14 de setembro de 2008

A vida fechada no passado.



"Este é o passo mais difícil para quem aprende a estar morto: convencer-se de que a sua própria vida é um conjunto fechado, todo no passado, ao qual não se pode juntar nada, nem introduzir modificações de perspectiva na relação entre os vários elementos."




Italo Calvino, in " Palomar"

sábado, 13 de setembro de 2008

O baile dos piratas


Para que conste...
Foi piratinha mas já se veste de gala, pois então!
E lá vou, todo ufano, por ir receber um prémio que é dedicado à minha juventude e criatividade leiriense, fruto do Liz e do Lena, rios do meu desaguar da idade dita maior...
Um beijo terno, E.

http://www.galaradioclubedeleiria.com/

A luz e a cor de Setembro.


Porque há azevinhos
no jardim
de bagas amarelas,
em trânsito para o rubro,
e o presente Outono
cruza com o Verão
eternos sentimentos de nostalgia,
ofereço-vos a luz deste Setembro

como se fora minha,
como se eu fora luz...


Porque há milho
na eira
de cores vermelha e amarela
que mãos experientes
desfolharam,
e o presente Outono
cruza com o Inverno
poderosos sentimentos de intimidade,
ofereço-vos as cores deste Setembro

como se fossem minhas,
como se eu fosse cores...



sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ABBA - ontem, hoje e amanhã

Confesso o meu pecado - sou e sempre serei fã do som ABBA.
Melodias que ficam eternas, agora revisitadas no cinema por "Mamma Mia", com direito a ilhas gregas e à Streep a cantar como ninguém.
Deixo-vos um tema pouco ouvido e que demonstra bem a virtuosidade Benny Andersson /Bjorn Ulvaeus, dois dos melhores autores dos nossos tempos - Move On!
E assim vamos vivendo a vida...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Soneto da Saudade


Quem bate à minha porta não me busca.
Procura sempre aquele que não sou
e, vulto imóvel atrás de qualquer muro,
é meu sósia ou meu clone, em mim oculto.

Que saiba quem me busca e não me encontra:
sou aquele que está além de mim,
sombra que bebe o sol, angra e laguna
unidos na quimera do horizonte.

Sempre andei me buscando e não me achei:
E ao pôr-do-sol, enquanto espero a vinda
da luz perdida de uma estrela morta

Sinto saudades do que nunca fui,
do que deixei de ser, do que sonhei
e se escondeu de mim atrás da porta.

Lêdo Ivo, poeta e escritor.
Membro da Academia Brasileira de Letras.