sábado, 31 de outubro de 2009
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Pueril - Tomo II
Há dois tipos de pessoas que, dizem, dizem sempre a verdade:
as crianças e os loucos.
Os loucos são internados em hospícios. As crianças, educadas.
I- Uma menina conversava com a a professora, que lhe dizia que era fisicamente impossível uma baleia engolir um ser humano porque, apesar de ser um mamífero muito grande, a sua garganta é muito pequena.
A menina contrapôs, dizendo que Jonas foi engolido por uma baleia.
Irritada, a professora repetiu que uma baleia não poderia engolir um ser humano, era fisicamente impossível.
A menina então disse: - 'Quando eu morrer e for para o céu, vou perguntar ao Jonas'.
A professora perguntou-lhe, sarcástica:- 'E o que é que acontece se o Jonas tiver ido para o inferno?'
A menina respondeu:- 'Nada de especial. nesse caso, é a senhora que lhe irá perguntar! '
II- Um dia, uma menina estava sentada na cozinha observando a mãe a lavar a loiça, e de repente reparou que a mãe tinha vários cabelos brancos sobressaindo de entre a sua cabeleira escura.
Olhou para a mãe e perguntou:- 'Por que é que tens tantos cabelos brancos, mamã?'
A mãe respondeu:- 'Bom, cada vez que te portas mal e me fazes chorar ou ficar triste, um dos meus cabelos fica branco'.
A menina digeriu esta revelação por alguns instantes e disse de imediato:
- 'Então, mãe, explica aí: Por que é que a avó tem todos os cabelos brancos?'
III- Uma professora de um infantário observava as crianças da sua sala a desenhar.
Entretanto, ia passeando pela sala para ver os trabalhos de cada uma delas.
Quando chegou ao pé de uma menina, que trabalhava intensamente, perguntou-lhe o que estava a desenhar.
A menina respondeu:- 'Estou a desenhar Deus.'
A professora parou e disse:- 'Mas ninguém sabe como é Deus.'
Sem piscar e sem levantar os olhos do seu desenho, a menina respondeu:-
'Então, espera aí! Saberão dentro de um minuto'.
IV- Todas as crianças daquela classe tinham ficado na fotografia e a professora estava a tentar convencê-las a comprar uma cópia da foto de grupo.
- 'Imaginem que bonito será quando vocês forem grandes e todos digam: «ali está a Catarina, que é advogada, ou também «este é o Miguel, que agora é médico»'.
Ouviu-se uma vozinha vinda do fundo da sala:- 'E ali está a professora. Coitadinha, já morreu'
domingo, 25 de outubro de 2009
Um outro Pablo
Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso (Málaga, 25 de outubro de 1881 — Mougins, 8 de abril de 1973) foi reconhecidamente um dos mestres da Arte do século XX.
É considerado um dos artistas mais famosos e versáteis de todo o mundo, tendo criado milhares de trabalhos, não somente pinturas, mas também esculturas e cerâmica, usando, enfim, todos os tipos de materiais.
Génio. Pois então...
Hoje é o seu dia natal
Sodoma e Gomorra
Quero lá saber o que diz a Biblia, e até o Código Civil.
Aqui vai o Jim Morrison, com mais de 50 anos a achar que está porreiro...coitado...
Aliás, coitados de todos eles do grupo
Nem Noé os salvava.
(não me venham dizer que o gajo não é o Jim M.)....aí, tiro férias e vou para a Austrália onde tudo é simples.
Aqui vai o Jim Morrison, com mais de 50 anos a achar que está porreiro...coitado...
Aliás, coitados de todos eles do grupo
Nem Noé os salvava.
(não me venham dizer que o gajo não é o Jim M.)....aí, tiro férias e vou para a Austrália onde tudo é simples.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
A minha rainha Dona Amélia
A minha granny faz hoje 90 magnólias.
Para que conste...
E porque tenho memória...
E porque tenho memória...
Minie mini maninou...
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Um anjo à minha mesa
Por ali passei eu.
E li uma pérola.
Gostava de ter conhecido o D.
Por ser primo da R. e por ter tido (ainda tem) alma de poeta...
É que os poetas não morrem!
Desculpa, amiga, mas tive de lhe oferecer uma magnólia.
«O D. era meu primo. Tinha os olhos mais bonitos que vi até hoje. Negros, brilhantes, com reflexos do Mundo. Tinha o cabelo muito liso, escorregadio, negro também. O D. tinha uma pele muito branca e muito macia. Umas mãos sempre quentinhas e uns dedos compridos. O D. não falava, não andava, não mexia os braços ou as mãos. O D., às vezes, nem segurava bem a cabeça. Nasceu aparentemente bem. Há registos fotográficos dele com um futuro mais do que promissor à frente. Adorava aviões. Podia ter sido piloto. O D. também podia ter sido poeta. Porque tinha na alma a capacidade inata de falar sem palavras, de se declarar sem verbos. O D. amava com o olhar, com a expressão, com o sorriso. O D., não falando, deixava claro tudo o que o fazia feliz e tudo o que o aborrecia a sério. Teve momentos felizes. O D. cresceu. Mais velho do que eu, aprendeu sozinho que a adolescência lhe ditava regras mais duras de suportar. E que o amor, ali por altura dos dezassete, podia bem ser uma coisa tão séria que não suportasse a morte. Por isso, vi-lhe algum desconforto no olhar quando assisti à sua última crise respiratória. Dei-lhe a mão a tempo de entrar na ambulância. Deixei de lhe fazer festinhas nas pestanas e passei a dar-lhe a mão menos vezes. Já não lhe apanhava tantas flores e empurrava-lhe a cadeira mais devagar no caminho para o mar. Fomo-nos despedindo com calma. O D. teve a mãe coragem ao lado dele. É minha tia. E o pai mais doído do peito. É meu tio. E a família mais incrédula. É a minha. O D. podia ter tido uma vida de sonho. Mas morreu no princípio. E viveu com a alma presa num corpo que nunca lhe obedeceu. O D. era meu primo. Morreu há catorze anos. O D. é o meu anjo-da-guarda, para sempre. Porque o D. estava para ser... e foi, também comigo»
E li uma pérola.
Gostava de ter conhecido o D.
Por ser primo da R. e por ter tido (ainda tem) alma de poeta...
É que os poetas não morrem!
Desculpa, amiga, mas tive de lhe oferecer uma magnólia.
«O D. era meu primo. Tinha os olhos mais bonitos que vi até hoje. Negros, brilhantes, com reflexos do Mundo. Tinha o cabelo muito liso, escorregadio, negro também. O D. tinha uma pele muito branca e muito macia. Umas mãos sempre quentinhas e uns dedos compridos. O D. não falava, não andava, não mexia os braços ou as mãos. O D., às vezes, nem segurava bem a cabeça. Nasceu aparentemente bem. Há registos fotográficos dele com um futuro mais do que promissor à frente. Adorava aviões. Podia ter sido piloto. O D. também podia ter sido poeta. Porque tinha na alma a capacidade inata de falar sem palavras, de se declarar sem verbos. O D. amava com o olhar, com a expressão, com o sorriso. O D., não falando, deixava claro tudo o que o fazia feliz e tudo o que o aborrecia a sério. Teve momentos felizes. O D. cresceu. Mais velho do que eu, aprendeu sozinho que a adolescência lhe ditava regras mais duras de suportar. E que o amor, ali por altura dos dezassete, podia bem ser uma coisa tão séria que não suportasse a morte. Por isso, vi-lhe algum desconforto no olhar quando assisti à sua última crise respiratória. Dei-lhe a mão a tempo de entrar na ambulância. Deixei de lhe fazer festinhas nas pestanas e passei a dar-lhe a mão menos vezes. Já não lhe apanhava tantas flores e empurrava-lhe a cadeira mais devagar no caminho para o mar. Fomo-nos despedindo com calma. O D. teve a mãe coragem ao lado dele. É minha tia. E o pai mais doído do peito. É meu tio. E a família mais incrédula. É a minha. O D. podia ter tido uma vida de sonho. Mas morreu no princípio. E viveu com a alma presa num corpo que nunca lhe obedeceu. O D. era meu primo. Morreu há catorze anos. O D. é o meu anjo-da-guarda, para sempre. Porque o D. estava para ser... e foi, também comigo»
Da R.
Beijo eterno.
Cantilena
Ele me amava, mas não tinha dote,
só os cabelos pretíssimos e uma beleza
de príncipe de histórias encantadas.
Não tem importância, falou meu pai,
se é só por isto, espere.
Foi-se com uma bandeira
e ajuntou ouro para me comprar três vezes.
Na volta me achou casada com D.Cristovão.
Estimo que sejam felizes, disse.
O melhor do amor é sua memória, disse meu pai.
Demoraste tanto, que...disse D.Cristovão.
Só eu não disse nada,
nem antes, nem depois.
Adélia Prado
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Sem tempo
«Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar»
Guerra Junqueiro, 1896.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
As sem razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 17 de outubro de 2009
Magnólias # 7 "o dia e a noite"
O dia e a noite fazem uma corrida de estafetas todas as vinte e quatro horas, e mais ou menos a meio passam o testemunho.
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Magnólias # 6 "salinas"
Se o sal se obtém nas salinas de água salgada, porque não retiramos o açúcar de açucarinas de água doce?
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Magnólias
O viajante
Percorrer uma estrada sem trânsito é como fazer uma viagem no interior do viajante.
A estrada dá o mote e a ocasião, o viajante estabelece as ligações, fixa os objectivos, afina a consciência e cresce o tamanho da caminhada.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
O eterno Nobel
"Antes de perdão, esta cadeira está livre,
Antes da cor dos seus olhos, antes de posso oferecer-lhe um copo,
antes de eu sou Rico, e eu chamo-me Dita, antes do breve aflorar
da mão sobre o ombro,
aquilo passou entre nós
como uma porta a entreabrir-se durante o sono." (pág.27)
"(...) jogos do amor nos quais ganha quem mais resiste, e em que a pressa não compensa: quem deseja deve fingir indiferença e mascarar de indecisão o seu entusiasmo." (pág.110)
"Os silêncios podem justamente exprimir o que as palavras não conseguem." (pág.142)
"Há boas e más novas no café. A má, é que o tempo corre. A boa, é que o tempo cura." (pág.164)
AMOS OZ (O mesmo mar)
Fama
Confesso que sabia ao que ia.
Ia só revisitar um dos filmes que mais me marcou nos meus 18 anos, numa época em que pude ainda sonhar com uma réstia de palco, com holofotes e muita dança.
É óbvio que não chega aos calcanhares do Alan Parker mas serviu para voltar a ter um frémito de juventude...
Nasci num ano feliz. Suficientemente perto dos anos 60, cautelosamente perto dos anos 70 em que Portugal conheceu o doce pássaro da liberdade.
Sou de uma colheita digna.
E o G. também.
E a Passi também.
E a Eva, a Sininho...
E cantámos e dancámos ao som de «Fame».
E fomos felizes.
Indecentemente felizes.
Sem concessões, sem tudo ter e por muito pressentir e adivinhar.
Até à próxima canção e à pousada da sexta felicidade...
terça-feira, 13 de outubro de 2009
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Pueril
A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as coisas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se explica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento
não é um ponto qualquer.”
(Alberto Caeiro- 1917, outubro,outono)
domingo, 11 de outubro de 2009
O menino e o arco
O menino tem um arco.
É de plástico.
(Mas é de ouro
ou de ferro
ou de prata
- quem o sabe?)
E com ele
o menino colhe flores
e estrelas e algas
da funda claridade.
Nunca pássaros.
Esses, pousam no arco
enquanto o menino dorme
sob as árvores,
como um guerreiro cansado.
Glória de Sant'Ana
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Dons do Amante
Sobre a tua cabeleira hei-de pôr, para as núpcias,
uma coroa de borboletas com suas
asas pintadas.
Terás de volta ao pescoço flores de abóbora,
em prata,
e a lua que para ti noites e noites forjei.
Andarás pelo povo sobre um cavalo em turquesa.
Um cavalo ardente e leve, animado
pelo meu fogo de amor.
E a teus pés eu lançarei um pedra quente quente:
o coração onde correm
milhões de gotas de sangue.
herberto helder, in poesia toda (poemas dos peles-vermelhas)
Despentear é urgente
Hoje aprendi que é preciso deixar que a vida te despenteie,
por isso decidi aproveitar a vida com mais intensidade…
O mundo é louco, definitivamente louco…
O que é gostoso, engorda.
O que é lindo, custa caro.
O sol que ilumina o teu rosto enruga.
E o que é realmente bom dessa vida, despenteia…
- Fazer amor, despenteia.
- Rir às gargalhadas, despenteia.
- Viajar, voar, correr, entrar no mar, despenteia.
- Tirar a roupa, despenteia.
- Beijar a pessoa amada, despenteia.
- Brincar, despenteia.
- Cantar até ficar sem ar, despenteia.
- Dançar até duvidar se foi boa ideia colocar aqueles saltos gigantes essa noite, deixa seu cabelo irreconhecível…
Então, como sempre, cada vez que nos vejamos eu vou estar com o cabelo bagunçado… mas pode ter certeza que estarei passando pelo momento mais feliz da minha vida.
É a lei da vida: sempre vai estar mais despenteada a mulher que decide ir no primeiro carrinho da montanha russa, que aquela que decide não subir
Pode ser que me sinta tentada a ser uma mulher impecável, toda arrumada por dentro e por fora, O aviso de páginas amarelas deste mundo exige boa presença:
Arrume o cabelo, coloque, tire, compre, corra, emagreça, coma coisas saudáveis, caminhe direito, fique séria… e talvez deveria seguir as instruções, mas quando vão me dar a ordem de ser feliz?
Por acaso não se dão conta que para ficar bonita eu tenho que me sentir bonita…
A pessoa mais bonita que posso ser!
O único que realmente importa é que ao me olhar no espelho, vejo a mulher que devo ser.
Por isso, minha recomendação a todas as mulheres:
Entregue-se, Coma coisas gostosas, Beije, Abrace, dance, apaixone-se, relaxe, Viaje, pule, durma tarde, acorde cedo, Corra, Voe, Cante, arrume-se para ficar linda, arrume-se para ficar confortável, Admire a paisagem, aproveite, e acima de tudo, deixa a vida te despentear!!!!
por isso decidi aproveitar a vida com mais intensidade…
O mundo é louco, definitivamente louco…
O que é gostoso, engorda.
O que é lindo, custa caro.
O sol que ilumina o teu rosto enruga.
E o que é realmente bom dessa vida, despenteia…
- Fazer amor, despenteia.
- Rir às gargalhadas, despenteia.
- Viajar, voar, correr, entrar no mar, despenteia.
- Tirar a roupa, despenteia.
- Beijar a pessoa amada, despenteia.
- Brincar, despenteia.
- Cantar até ficar sem ar, despenteia.
- Dançar até duvidar se foi boa ideia colocar aqueles saltos gigantes essa noite, deixa seu cabelo irreconhecível…
Então, como sempre, cada vez que nos vejamos eu vou estar com o cabelo bagunçado… mas pode ter certeza que estarei passando pelo momento mais feliz da minha vida.
É a lei da vida: sempre vai estar mais despenteada a mulher que decide ir no primeiro carrinho da montanha russa, que aquela que decide não subir
Pode ser que me sinta tentada a ser uma mulher impecável, toda arrumada por dentro e por fora, O aviso de páginas amarelas deste mundo exige boa presença:
Arrume o cabelo, coloque, tire, compre, corra, emagreça, coma coisas saudáveis, caminhe direito, fique séria… e talvez deveria seguir as instruções, mas quando vão me dar a ordem de ser feliz?
Por acaso não se dão conta que para ficar bonita eu tenho que me sentir bonita…
A pessoa mais bonita que posso ser!
O único que realmente importa é que ao me olhar no espelho, vejo a mulher que devo ser.
Por isso, minha recomendação a todas as mulheres:
Entregue-se, Coma coisas gostosas, Beije, Abrace, dance, apaixone-se, relaxe, Viaje, pule, durma tarde, acorde cedo, Corra, Voe, Cante, arrume-se para ficar linda, arrume-se para ficar confortável, Admire a paisagem, aproveite, e acima de tudo, deixa a vida te despentear!!!!
O pior que pode acontecer é que, rindo frente ao espelho, você precise se pentear de novo...
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Temporal
Gosto de sentir a natureza e fingir
que não lhe pertenço.
A mão gigante do vento vai sacudindo o carro
contra o mar
com grandes chapadas brancas.
Não é o mundo que tenho na cabeça
as gotas de água que embaciam o vidro
e o véu da chuva o da noiva submissa.
As palavras não querem ser irmãs das ondas
e o meu silêncio não é filho
desta tempestade.
Mas como é belo
que tudo viva na luta de viver.
A fúria da maré no espelho do meu rosto
como um poema de Pedro Homem de Mello.
O som mais natural
dá-me a nitidez dos choros suicidas
e transporta no tempo
esse luxo dos homens que se chama
esperança.
No céu baila e divaga mais uma gaivota.
No chão perto do mar
outro baile circunda o coração.
Mas nunca saberei como dançar...
Armando Silva Carvalho
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Uma lição de Direito da Família
Uma pequena letra insidiosa intromete-se na vida da palavra casado (ou casada, tanto faz).
Um pequeno n transforma o casado em cansado (ou cansada, é igual). Não se dá pela sua chegada, até porque são necessários n (um n matemático) gestos, silêncios, equívocos, pequenas traições, grandes distracções e muitos medos, para ele se desenhar num corpo de letra perfeitamente legível e finalmente pronunciável.
Maria João Freitas
Maria João Freitas
Que estranha forma de saudade
Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.
Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.
Coração independente,
coração que não comando:
vive perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.
Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais.
Amália Rodrigues
O fado chama-se "O negro fica-lhe bem" e é um dos melhores hinos à diva.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
domingo, 4 de outubro de 2009
Hoje não vi
É noite.
Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.
Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias,
as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos!
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!
Carlos Drummond de Andrade
(roubado a uma barca de flores)
sábado, 3 de outubro de 2009
Hoje vi
Deixem-me estar aqui. Que também eu contemple,
um pouco, a natureza - o mar, nesta manhã,
o céu azul sem nuvens, de um e de outro a luz
onde se alonga a amarelada praia.
Deixem-me estar aqui. Que eu pense que isto vejo
(não é que o vi um instante, quando aqui parei?).
Tudo isto só - e não, também aqui, visões,
memórias, e os espectros do prazer antigo.
Constantino Cavafy
(trad. Jorge Sena)
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Sophia
Mergulhar as mãos nas ondas escuras
Até que elas fossem essas mãos
Solitárias e puras
Que eu sonhei ter.
Esgotei o meu mal, agora
Queria tudo esquecer, tudo abandonar
Caminhar pela noite fora
Num barco em pleno mar.
Mergulhar as mãos nas ondas escuras
Até que elas fossem essas mãos
Solitárias e puras
Que eu sonhei ter.
Sophia de Mello Breyner
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