segunda-feira, 31 de março de 2008
Certas Mortes, só em certas cidades (que o diga a Bond Girl de Casino Royal)
Volta
Histórias (contadas e recontadas)
We all go round and round
domingo, 30 de março de 2008
O vento que embala as minhas asas
Numa serena e arenosa praia sem nome.
Rodeada dos felizes restos da sua vida, tão grande, tão nossa...
As suas asas serão as minhas...
(da C.)
Brincar de viver
E ouço as antigas canções que sempre me tocaram, querendo tornar-me de novo pequena, só para ela, só por ela...
Esta é uma delas...
(C.)
sábado, 29 de março de 2008
A MAGNÓLIA
Para o César e a Flor dos seus segredos
Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, choupos meus,
carregados de sombra e rasos de água.
Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos.
II
Cantas. E fica a vida suspensa.
É como se um rio cantasse:
em redor é tudo teu;
mas quando cessa o teu canto
o silêncio é todo meu.
III
Quando em silêncio passas entre as folhas,
uma ave renasce da sua morte
e agita as asas de repente;
tremem maduras todas as espigas
como se o próprio dia as inclinasse,
e gravemente, comedidas,
param as fontes a beber-te a face.
IV
Somos como árvores
só quando o desejo é morto.
Só então nos lembramos
que dezembro traz em si a primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à sua espera.
V
Nos teus dedos nasceram horizontes
e aves verdes vieram desvairadas
beber neles julgando serem fontes.
VI
Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
o teu sorriso puro,
a tua graça animal.
Canto porque sou homem.
Se não cantasse
seria o mesmo bicho sadio
embriagado de alegria
da tua vinha sem vinho.
Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
por vê-los nus e suados.
Eugénio de Andrade, As mãos e os frutos
Vigília
sexta-feira, 28 de março de 2008
Hinos à juventude
**************
Ruma à fonte da alegria,
no Jardim da Juventude
ao pé do rio tumultuoso
e leva novas aos jovens.
Diz-lhes que vivam ao sol.
Saboreiem os dias.
Oiçam suas melodias.
Tomem o perfume das flores
e se amem em seus amores.
Diz-lhes, também:
Que a juventude é apenas um dia de sol plebeu.
Um fogo de artifício que abre o céu.
Uma supernova que explode, brilha e arrefece.
Um sentimento da eternidade que enfraquece.
Quero-te agradecer
Tua C.
quinta-feira, 27 de março de 2008
Tempestade
ao nascer da noite
num inusitado céu estrelado.
Choveu dolorosamente até amanhecer.
A argila vermelha das arribas escarpadas
esvaíra-se toda a noite, como sangue.
O mar avançou para elas e lambeu suas feridas.
Pela manhã
o mar andava enroupado de areia
num tom azul dourado.
As ondas emergiam ao longe em quadrigas,
a espuma branca pegava-se às rodadas,
e corriam esbaforidas e sem pudor para o corpo da areia.
Fazia-se ouvir uma melodia em sol maior
louvando um amor selvagem.
As ondas orgásmicas explodiam na areia
em flocos de neve.
Quando o mar recuava,
deixando espuma e búzios depositados na areia,
outras quadrigas competiam
em novas e várias lonjuras para chegarem à praia.
Mais tarde,
o mar saciou sua luxúria.
Suas ondas pintaram-se de azul esplendor.
E ficaram prateadas e pequeninas a secar ao sol.
Os disfarces de Arlequim
O poema que se segue é de um homem que fez teatro e pelo teatro se entregou à busca de compreender os fenómenos sociais que cantou como ninguém.
O poema é dedicado aos que viriam ao mundo depois da sua partida.
Eis o poema, chamado "Aos pósteros":
I
Realmente vivo em tempos sombrios.
A palavra ingênua é tola. Uma fronte lisa
Indica insensibilidade. Aquele que ri
Ainda não recebeu
A terrível notícia.
Uma conversa sobre árvores é quase um crime
Por que inclui um silêncio sobre tantos delitos?
Aquele que vai pela rua tranquilo
Não é mais acessível aos amigos
Que estão em necessidade?
É verdade: ainda ganho o meu sustento
Mas acreditem: é por acaso. Nada
do que faço autoriza que eu me sacie.
Casualmente fui poupado (quando minha sorte acabar
Estou perdido)
Dizem-me coma! beba! fique feliz por ter o quê!
Mas como posso comer e beber se
Tiro ao faminto o que comer e
Meu copo d'água falta a quem tem sede?
No entanto, como e bebo.
Gostaria também de ser sábio.
O que é sábio está nos velhos livros:
Afastar-me da briga do mundo e passar
Sem medo a curta temporada
Sobreviver sem violência
Pagar o mal com o bem
Não realizar os desejos, mas esquecê-los
É tido por sábio.
Nada disso eu posso:
Realmente, vivo em tempos sombrios!
II
Cheguei às cidades no tempo da desordem
Quando aí reinava a fome
Cheguei-me aos homens no tempo do tumulto
E indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
Que me foi dado sobre a terra.
Comi minha comida entre as batalhas
Deitei-me para dormir entre os assassinos
Tratei do amor sem atenção
E vi a natureza sem paciência.
Assim passou o tempo
Que me foi dado sobre a terra.
No meu tempo os caminhos levavam ao pântano.
Minha linguagem denunciava-me ao carrasco.
Só pude pouca coisa. Mas esperava que sem mim
Os dominadores se sentassem mais seguros.
Assim passou o tempo
Que me foi dado sobre a terra.
As forças eram escassas. O alvo
Ficava a grande distância.
Era bem visível, embora
Eu mal pudesse alcança-lo.
Assim passou o tempo
Que me foi dado sobre a terra.
III
Vocês, que emergirão da maré
Onde nós soçobramos
Pensem
Ao falarem das nossas fraquezas
Nos tempos sombrios
De que escaparam.
Pois nós, desesperados, trocando mais de países
Que de sapatos, atravessamos as guerras de classes quando
Só havia injustiça e nenhuma revolta.
No entanto sabemos:
Também o ódio contra a baixeza
Contorce os traços.
Também a cólera contra a injustiça
Deixa a voz rouca.
Ah, nós
Que quisemos preparar o chão para a amabilidade
Nós próprios não pudemos ser amáveis
mas vocês, quando tiver chegado a hora
Do homem ajudar o homem,
Pensem em nós
Com indulgência.
Em tempo:
1º- Ao meu "irmão" P.D., no dia do seu aniversário.
Por vezes, até me esqueço que não não és do meu sangue!
quarta-feira, 26 de março de 2008
África
Pietá
Eva Negra
Nascida no quarto dia do mês da Primavera.
Baptizada no vigésimo quinto dia do mesmo mês.
É como todos já sabem o sexto elemento deste “onze”.
É o único elemento que não escolhera nome na noite do T.E.C.
É uma mulher. Só.
De cabelo negro e corpo franzino.
Tem mãos e escrita de bailarina.
Na essência o seu sorriso é dúvida.
Na aparência é doce e desarmado.
A ela temos de nos dirigir com a convicção da nortada
e a doçura de uma mãe e dizer-lhe:
Não te julgues com demasiado rigor.
A persistência é a primeira semente da perfeição,
Esta vai-se construindo com os caminhos da vida.
Sabe que a vida também é mar tempestuoso
e dunas em mutação.
A defesa veste-se de negro
...
Em tempo:
Bird York canta "In the deep" do filme CRASH (2004), um fantástico hino ao multiculturalismo
terça-feira, 25 de março de 2008
Desejo de Maio
ele atravessava de táxi
um planalto perto do Céu.
O seu destino era Monte Belo
lugarejo para si desconhecido
onde ia de férias ao campo.
Ele era novo. Muito belo e apaixonado.
Por uma mulher que conhecia
desde o nascimento do mundo.
A essa hora tardia ele desejava-a.
Sob o olhar das estrelas e a cumplicidade da lua.
Entre a urze e a esteva do planalto.
O homem do táxi meteu conversa de circunstância.
Ele cortou rente.
Ele queria ficar só, a deleitar-se na fogosidade do seu desejo.
A retirar os espinhos da Flor.
A equilibrar a sua saudade.
Ele sabia que a mulher do seu desejo era
arisca, áspera e fugidia.
E temia que nunca viesse a ser sua.
Enquanto espreitava a noite estrelada,
repetia baixinho como numa prece.
Eu sou tu. Tu és eu.
O meu desejo é o teu.
O nosso encontro está escrito no Céu.
Desencontros
que me roça a flor do ouvido,
um vozear sem sentido
que nenhum sentido empresta?
Sussuro de vago tom,
reminiscência de esfinge,
voz que se julga, ou se finge
sentindo, e é apenas som.
Contracenamos por gestos,
por sorrisos, por olhares,
rodeios protocolares,
cumprimentos indigestos,
firmes apertos de mão,
passeios de braço dado,
mas por som articulado,
por palavras, isso não.
Antes morrer atolado
na mais negra solidão.
Escrita na água
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão
com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,
como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o
nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.
Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim.
B.I.
Sou Magnólia por causa do que consta neste clip.
Porque é o filme da minha vida.
Porque acredito em sapos que tombam dos céus.
Porque acredito que tenho muito amor para dar.
E tudo começa ... com uma magnólia branca que abre, abre, até nunca mais fechar ou morrer.
Durmam bem.
Eu... vou com as aves!
Funeral blues
Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message
He is Dead.
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.
The stars are not wanted now; put out every one,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.
A mãe que lê
Strickland Gillilan
Psico
segunda-feira, 24 de março de 2008
Alice, Flor de Malvaísco
Era uma mulher indómita.
Deambulava de dia ou de noite por Jovim.
Andava sem destino firmado ou definido.
Comia quando os pobres se cansavam de a ver beber.
Vestia a roupa sem olhar o lado ou o tempo.
Saía igual com a virtude ou com a perversidade.
Encontrava-se muitas vezes com destinos trágicos
e engravidava frequentemente deles.
Sofria dores nunca contadas
Perdera tudo.
Os pais que a tinham semeado.
O homem que a fizera flor.
Os filhos que gerara e não criava.
Desapareceu ela e a bebida que calava debaixo da saia
num dia frio de Dezembro.
Não a procuraram.
Os cães encontraram-na, num dia de Primavera
nos limites de Jovim
no fundo de um poço
rodeado de flores de malvaísco.
Missing
porque ainda não conseguiram romper nosso cordão umbilical!"
Ó mães de Maio,
Jacobo Timerman falou dos vossos filhos violentados
porque tinham menos de vinte anos
As vossas súplicas tocaram as mães dos outros filhos
que continuam, pacificamente, a jogar com o computador Joshua
Letras mortas de uma ode a um tempo que resta
os poetas foram os vossos corações
Marcas indeléveis de uma geração sem culpa
os vossos filhos foram as minas do templo
que urgia abafar antes que dessem horas certas
"Não chores por nós, Argentina,
Porque nós haveremos de voltar"
domingo, 23 de março de 2008
A face oculta da actual adolescência, ou como as adolescências se repetem
O dia aproximava-se... E ali estava eu com ela... Envolvido pelo verde dos seus olhos, preso no loiro do seu cabelo, dependente do seu discurso, preso no tempo... Era um prisioneiro conformado. A imensidão do universo rodopiava à minha volta... Estavamos num mundo à parte...O tempo que estivemos juntos não pode ser contado... Apenas recordado... Os tempos imemoriais estavam perto e a alegria rondava-nos... A conversa estava viva e era nossa... De mais ninguém...Tudo estava bem... O fogo da vida estava vivo, aceso como nunca, de um laranja forte e pragmático... A noite era nossa... Conheci a sua alma e pensamento e eram os meus... Tocávamos na mesma tonalidade e a dança que daí advinha era bela, arrojada e divertida, uma dança de Primavera em que a fogueira era rei e todos os outros apenas os seus súbditos...Eu estava feliz...
Ouvem-se violinos no meu pranto
Acabei de ver, a esta hora sânscrita, o filme de Charles Dance "Ladies in Lavender" com duas actrizes extraterrenas - Maggie Smith e Judi Dench.
É para vós...
Cristo parou em Eboli
Era em alvo Novembro
A lua lá estava
Serena em seu deambular
E o vento (mais norte do que sul) acalmava, sem saber,
A fúria que irrompia do meu mar
Sombras mirabolantes eram a minha única companhia
Surdos sons emergiam do fundo do coração da cidade
Eu pensava...
até onde a minha imaginação não suportava
apesar dos avisos de que era perigoso fazê-lo
Caminhava ao longo da alameda branca e fria
que parecia cúmplice de qualquer passageiro da agonia...
Repentinamente, fazendo-se luz, Ele apareceu...
E fui tudo aquilo que não quis ser, num dia como aquele
Fiz tudo aquilo que não estava planeado fazer, nesta situação
Conti minhas secas lágrimas e... sorri para a cidade,
expulsando as sombras do meu caminho:
ardi em fogo brando e... vesti aquela túnica enluarada,
filha das nuvens e muralha do Tempo.
E, contudo, ainda era Novembro!
(Feito aos 17 anos, mantém a mesma actualidade em mim, talvez reforçada por um Amor ainda maior)
sábado, 22 de março de 2008
Dulcineia del Toboso
Guilherme Mãos de Tesoura
O dia nasceu aflito de incómodos:
naquela hora, há muitas luas atrás, no dia seguinte ao primeiro da primavera, ele nascera sem aviso.
Outrora, uma velha pitonisa dissera a sua mãe:
seria ele unguento na chaga
neve no deserto,
riso no pranto.
E teria tesouras nas mãos,
uma rosa vermelha na fronte
e um desassossego
na ansiedade das horas menos boas que teria de viver.
Chorava com a voz do riso de Charlot
Mordiscava a felicidade por entre os interstícios das boas memórias
e espalhava recados de escárnio e mal dizer
por entre os escolhos da Vida,
por entre os escorpiões mutilados
que lhe picavam a consciência...
Sentia-se desigual entre os seus pares - é que sempre tinha tesouras em suas mãos
rodeava-se de mar adentro
sofria pelas dores que não sofria
e paria as gargalhadas com que enfeitava as vidas dos outros
Por suas mãos passaram as luzes do mundo,
as neves de Klimanjaro,
os equinócios do Equador,
as touradas reais de Pamplona,
os jardins suspensos da Babilónia,
os palhaços mais encantados de Budapeste,
os chicotes incendiados de um certo Vice,
as alegrias mais sinceras do Limoeiro,
os consentimentos menos audazes de Neptuno,
os odores menos nobres deste povo,
os "viragom" engolidos perto do silêncio do horror,
as cançonetas mais dolentes da Europa,
as conciliações mais cansadas do Bolhão,
as virgínias mais insanas do condado,
as magas das regras ansiolíticas e quejandas,
o disco-sound mais mexido da Ria de Aveiro,
as cores mais negras do etíope,
os feiticeiros mais audazes de Oz,
os sete palmos da terra derradeira,
mil e uma rotas trilhadas com uma fátima esperança (e outras preces menos promissoras),
os desencontros incompreendidos dos Dom Quixotes e das Dulcineias,
o doce paladar da Torre Eiffel,
as amizades cosidas a ponto de ouro...
De repente, embalado pela profecia da velha cega dos búzios, ele parou.
Olhou em redor,
colheu as magnólias,
desceu do autocarro,
pousou a mala do infortúnio,
desfez os contratos de uma vida,
entregou as becas togadas de um gole só.
E rumou ao país das tesouras...
Mil anos, Eduardo, Guilherme, nome sem nome -
passou por nós uma brisa que me recorda que existes:
Assim eu pudesse murmurar ao teu ouvido quando precisas...
Em tempo:
O Gui celebra mais um aniversário, é verdade!
Quantos, ficam no segredo dos nossos deuses.
Para ele, as nossas mais brancas e puras magnólias,
os meus "twelve points" da Amizade,
um recado pela voz do Mestre Neruda - um outro nome para o meu Pablo (que bem poderia ser a sua):
e uma homenagem em tom de canção (aquela):
sexta-feira, 21 de março de 2008
A poesia, o amor e a santidade.
Asco
Os colegas incitam à violência, gravam a cena com um outro telemóvel, chamam-lhe "velha", riem-se da sua possível queda e classificam esta cena com um""altamente".
No teu poema, Chico
Sejam como as primaveras - deixem-se cortar para voltar sempre inteiros, como a história de um certo Chico, poeta das mulheres, embalada por uma cantiga de cabaret...