segunda-feira, 23 de março de 2015

Marfim e ébano



Preto ou Branco, era a questão!
...
No dia em que Rose Parks, costureira negra de meia-idade, foi impedida de se sentar no primeiro lugar vago de um autocarro branco quase vazio, alguém gritou, sem ter tempo para falar: "Black is beautiful"
No dia em que dois negros se matricularam na Universidade de Alabama, um país tremeu nos seus frágeis e brancos alicerces espirituais.
No dia em a Ku Klux Klan reviveu um antigo terror, as forças do poder calaram seus tambores e falaram em neutralidade.
...
Houve reis que nunca usaram tiaras e que, em vez de trono, sentaram-se em púlpitos, decretando para o seu moreno povo as medidas de emergência que urgia tomar.
Porque será que ficou escrito que o Rei-Pastor - David - haveria de morrer?
...
Preto e Branco, para quê a questão?


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

iNTERMEZZO

o mundo desaba.
a gripe desaba-me.
a magnólia descansa.
até regressar em flor.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Em terra firme

Que terra é esta?
Que doido feiticeiro deixa nos montes soalheiros, 
oliveiras, vinhas e sobreiros,
nos vales espalha, prazenteiro, o frio nevoeiro,
Mas dá as gentes que deles sobem a visão divina do dia verdadeiro?
 
(Foto e texto de MAP)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Quase Natal

“entre mim e o meu silêncio há gritos de cores estrondosas
e magias recortadas dos sonhos que acontecem naturalmente.
eu sou a cama onde me deito, todas as noites diferente,
eu sou o sorriso estridente dos pássaros no céu todo,
eu sou o mar, o oceano velho a abrir a boca numa
gruta que assusta as crianças e os homens que conhecem o mundo.
eu sou o que não devia ser e rio, rio,
rio, porque sou puro, porque sou um pouco de alegria,
(…)
porque minha é esta esperança e esta vontade
de nascer em cada manhã, em cada rosto, em cada
fósforo acesso, em cada estrela. rio, rio, rio, porque meu
é o amor e o luto e a fome e todas as coisas
que fazem esta vida que não entendo e persigo.
eu sou um homem vivo a sentir cada pedra,
eu sou um homem vivo a sentir cada montanha,
eu sou um homem vivo a sentir cada grão de areia.
desordenadamente, eu sou alguém que é eu sem o saber,
entre mim e o meu silêncio há um desentendimento
esculpido nas flores e nas nuvens, rio, rio, rio,
eu sou a vida e o sol a iluminar-me.”

José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Os meus auditores

No dia em que, emocionalmente, dei a última aula a um grupo magnífico do cej. Recebi mais do que dei. E tenho consciência que dei muito! Ficaram as rosas e algumas lágrimas pelo chão e a certeza de que nunca me apartarei deles, agora noutro cargo, menos científico, mas com muita criatividade para explorar! Porque sei que vão ser GENTE!
Decisão do Desembargador José Luiz Palma Bisson, do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferida num Recurso de Agravo de Instrumento ajuizado contra despacho de um Magistrado da cidade de Marília (SP), que negou os benefícios da Justiça Gratuita a um menor, filho de um marceneiro que morreu depois de ser atropelado por uma motocicleta. O menor ajuizou uma ação de indenização contra o causador do acidente pedindo pensão de um salário mínimo mais danos morais decorrentes do falecimento do pai.
Por não ter condições financeiras para pagar custas do processo o menor pediu a gratuidade prevista na Lei 1060/50. O Juiz, no entanto, negou-lhe o direito dizendo não ter apresentado prova de pobreza e, também, por estar representado no processo por "advogado particular". A decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a partir do voto do Desembargador Palma Bisson é daquelas que merecem ser comentadas, guardadas e relidas diariamente por todos os que militam no Judiciário.

Transcrevo a íntegra do voto:

“É o relatório.
Que sorte a sua, menino, depois do azar de perder o pai e ter sido vitimado por um filho de coração duro - ou sem ele -, com o indeferimento da gratuidade que você perseguia. Um dedo de sorte apenas, é verdade, mas de sorte rara, que a loteria do distribuidor, perversa por natureza, não costuma proporcionar. Fez caber a mim, com efeito, filho de marceneiro como você, a missão de reavaliar a sua fortuna.
Aquela para mim maior, aliás, pelo meu pai - por Deus ainda vivente e trabalhador - legada, olha-me agora. É uma plaina manual feita por ele em paubrasil, e que, aparentemente enfeitando o meu gabinete de trabalho, a rigor diuturnamente avisa quem sou, de onde vim e com que cuidado extremo, cuidado de artesão marceneiro, devo tratar as pessoas que me vêm a julgamento disfarçados de autos processuais, tantos são os que nestes vêem apenas papel repetido. É uma plaina que faz lembrar, sobretudo, meus caros dias de menino, em que trabalhei com meu pai e tantos outros marceneiros como ele, derretendo cola coqueiro - que nem existe mais - num velho fogão a gravetos que nunca faltavam na oficina de marcenaria em que cresci; fogão cheiroso da queima da madeira e do pão com manteiga, ali tostado no paralelo da faina menina.
Desde esses dias, que você menino desafortunadamente não terá, eu hauri a certeza de que os marceneiros não são ricos não, de dinheiro ao menos. São os marceneiros nesta Terra até hoje, menino saiba, como aquele José, pai do menino Deus, que até o julgador singular deveria saber quem é.
O seu pai, menino, desses marceneiros era. Foi atropelado na volta a pé do trabalho, o que, nesses dias em que qualquer um é motorizado, já é sinal de pobreza bastante. E se tornava para descansar em casa posta no Conjunto Habitacional Monte Castelo, no castelo somente em nome habitava, sinal de pobreza exuberante.
Claro como a luz, igualmente, é o fato de que você, menino, no pedir pensão de apenas um salário mínimo, pede não mais que para comer. Logo, para quem quer e consegue ver nas aplainadas entrelinhas da sua vida, o que você nela tem de sobra, menino, é a fome não saciada dos pobres.
Por conseguinte um deles é, e não deixa de sê-lo, saiba mais uma vez, nem por estar contando com defensor particular. O ser filho de marceneiro me ensinou inclusive a não ver nesse detalhe um sinal de riqueza do cliente; antes e ao revés a nele divisar um gesto de pureza do causídico. Tantas, deveras, foram as causas pobres que patrocinei quando advogava, em troca quase sempre de nada, ou, em certa feita, como me lembro com a boca cheia d'água, de um prato de alvas balas de coco, verba honorária em riqueza jamais superada pelo lúdico e inesquecível prazer que me proporcionou.
Ademais, onde está escrito que pobre que se preza deve procurar somente os advogados dos pobres para defendê-lo? Quiçá no livro grosso dos preconceitos...
Enfim, menino, tudo isso é para dizer que você merece sim a gratuidade, em razão da pobreza que, no seu caso, grita a plenos pulmões para quem quer e consegue ouvir.
Fica este seu agravo de instrumento então provido; mantida fica, agora com ares de definitiva, a antecipação da tutela recursal.
É como marceneiro que voto.
JOSÉ LUIZ PALMA BISSON - "Relator Sorteado”

domingo, 14 de dezembro de 2014

o mar em falta


"Quando a liquida ilusão
lhe sustentava o sonho
cruzava, fantasma irreal, oceanos à bolina.

Faltou-lhe o mar.
Pasmado o vento
sobram-lhe, pesadas e concretas, pegadas errantes
no areal molhado.

Espera, encalhado, 
uma maré de ressurreição..."
MAP (palavra e imagem)

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Nas tuas águas

Sei.
De uma gota de feliz lágrima
Que se quer brotar em rio
Sem mácula de mar,
Sem sombra de sal,
Sem vestes de limos quentes...

Mas não é certo que dentro de um rio há mar?
Sei.
Pouco.
Mas isso basta-me para o pranto,
O outro lado do meu espanto...

Nas horas


Há uma cama desfeita no meu peito
Ninguém a vem cobrir
Será vento?
Será um lamento pelas horas que lá não te vi?
A janela indiscreta dos teus lábios sabe a fel,
Do mel da minha insônia.
Vens?
Por quantas portas?
Por que lençóis?
Sem hora marcada
Com a marca das horas..

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Purificando o espaço

Com Fúria e Raiva Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"


Badalhocas

Começa hoje mais uma descida ao poço da indigência., da ignorância e da pobreza mental...cada vez mais fundo esse poço fica  e cada vez mais podre..sempre com o .alto patrocínio/apresentação das nossas TVI e Teresa Guilherme...hellas...palavra para quê ? fica tudo dito...e o país anda bem...e bem haja esta MERDA....Que Pobreza.....

terça-feira, 29 de julho de 2014

2ª edição - para vós!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Direito da Família







domingo, 4 de maio de 2014

maternal

No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batemos dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.

Gotas e candeias puras.

E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se
pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e orgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
nas cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.

E bate-lhes nas caras, o amor leve.

O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo.
São silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,em volta das candeias.
No contínuo escorrer dos filhos.
(...)

Helberto Helder

sábado, 8 de março de 2014

Feminino plural (mas tão singular)

Pelas MULHERES se enchem os dias em luz de prata, roubada à Lua.
Pelas MULHERES a noite se embriaga no néctar alaranjado do Sol.
Pelas MULHERES o mar se abraça à falésia-dor, em prantos e risadas, num verde jade a fulgir.
Pelas MULHERES as dunas são indecifráveis jardins, em canteiros redondos no cheiro dos singelos jasmins.
E seios pomos de MULHER a florir açucenas,
Numa  indómita intenção de serem mais do que a obscuridade que delimita as alvoradas .
E nos olhos das MULHERES existem pássaros livres em grades sem poder voar,
Em sinos tangidos, no arco-íris de um qualquer planalto e do abissal abismo
Nos olhos das MULHERES existe o ontem, o hoje e o amanhã,
o nascente e o poente,
… um tudo
…. um quase nada, botão de rosa… cetim, veludo.

  
Não gosto da terminologia (e decorrências) dos "Dias Mundiais" ou equivalente, mas sou realista e sei que, feliz ou infelizmente, pelo menos, nestes dias o foco incide um pouco mais sobre as causas ou protagonistas que se pretendem celebrar, ou sobre os quais é suposto chamar a atenção do mundo. Seja.
E não, não é sempre fácil ser mulher. Basta ter presente algo tão básico como o nosso conhecimento de que,  em muitos (DEMASIADOS)pontos do globo AS MULHERES vivem situações de expressa discriminação, indigna exclusão e aviltante exploração.
E note-se que não falo apenas do "mundo islâmico", pois ao nosso redor, quiçá muito mais próximo de nós do que gostamos de pensar, há demasiadas mulheres que sofrem privações e sujeições indizíveis; há demasiadas mulheres em cenário de guerra e em teatro de conflito...
Por todas as mulheres do mundo, e, em especial, pelas que vivenciam um tal indizível sofrimento, mas também por todos os homens que lutam pelos direitos humanos em geral, e, enfim, por todos os que cultivam a verdadeira igualdade, aqui fica a minha singela  homenagem às minhas IRMÃS-MULHERES.

De uma Amiga

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

o lado B


Tem corpo e alma já!


A vida é uma magnólia...

É na 5ª feira, pelas 18h15m, no CEJ.
Apresentação da obra «A vida é uma magnólia», de Paulo Guerra, por FERNANDO FRANCO, psicólogo em Coimbra.
Leitura de poemas pelo autor e por SOFIA FERNANDES, Magistrada do Ministério Público e ex-auditora do autor da obra.
Ao som de Ludovico Einaudi.
Relembra-se que a venda da obra é feita exclusivamente online, havendo poucos exemplares para venda no local da apresentação.

Um autor à procura de leitores.
Uma magnólia à procura de sombra...

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Golias de trazer por casa............

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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Morre-se quase sempre de véspera


A fera ficou à solta.
A um espaço da morte.
Um outro nome para a vida pelo avesso
Até que as espingardas se calem e os mortos se vivam...

Hoje não sei as palavras.
Porque sobram-me,
tão carentes de sentido perante a feroz maré.

Calei.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Beirais II

Ai Beirais....não resisto...
depois de estar a ver por algum tempo o episódio de hoje (05.02.2014) fiquei vacinado se já não o estava.
Pois Beirais está sempre no limiar de tudo...
Hoje o "taberneiro" ou marido da "taberneira" (uma loira gorda com ar de peixeira---salvo o respeito pelas peixeiras que não têm culpa--) foi ao médico. O médico é um moço que fazia publicidade ao Continente, e pronunciava "continente" com um acento muito peculiar.
Pois o "taberneiro" sofre de disfunção eréctil. Facto que o médico achou muito natural e que nem havia problema em que alguém ouvisse tal diagnóstico (quando o doente lhe pediu que falasse baixo) dada a naturalidade do mesmo. Ao fim e ao cabo todos somos disfuncionais seja lá do que for.
Mais à frente, o filho dos "taberneiros" (Sandro de seu nome) recusa sair de trás do balcão...porque tem uma erecção muito óbvia. E quando sai, é dado ao público uma imagem de umas calças com uma protuberância a nível genital.
Isto é brilhante. No mesmo dia..Pai descobre disfunção eréctil e flagra filho com priapismo ou, pelo menos, muita força na dita. Com direito a imagem de braguilha inchada.
De facto, a ciência, o interesse público por temas cruciais, o dever de informar, tomou conta de Beirais e das almas perdidas que escrevem aquela MERDA.
Mais ridículo é difícil.
Pois bem vindos a Beirais....só mesmo neste país e à imagem de todos.
Bem Hajam...

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Estou pronto a aderir a uma colecta pública, que pague a este senhor a indemnização de despedimento, e o mandem para casa (definitivamente) escrever romances (que são êxitos editoriais) e não nos chateie mais com os seus esgares, piscadelas  de olho e trinados de voz.
Haja pachorra para aguentar este cromo...que pessoa insuportável

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

BEIRAIS

Aiiii Beirais.....que bucólico espaço...tão interior, tão preservado e, ao mesmo tempo, tão moderno, tão fashion, tão tudo...que bela MERDA...
BEIRAIS...provavelmente o único programa da TV portuguesa que consegue ser pior que a Casa dos Segredos ( o que é obra).
Uma série de tal maneira ridícula, inenarrável, verdadeiramente inefável que, só por si, justificaria a extinção da RTP..
O meu dinheiro anda a pagar este tipo de porcaria ?
Antes 100 morangos com açucar...(talvez não sejam tão deseducativos como pensava, depois de ver esta salada de tolos e tontos).....realmente..nada como ver o Inferno para desculpar o limbo.
Mas que coisa HORROROSA e perdoem...aguentei uns tempos em relação a esta bosta, mas já não dava mais...
E, desculpem, BOM ANO a TODOS...
Gui

sábado, 21 de dezembro de 2013

Juvenil





UMA AVENTURA NO CIRCO

                                                    
               Eram quatro primos muito, muito amigos que viviam muito perto uns dos outros, numa aldeia muito, muito pequenina e simpática perto de Coimbra.
               O Vasco era o mais velho, tinha 14 anos muito, muito espertos e fortes. O seu irmão Tó, mais novo dois anos, era pequeno, muito pequeno em tamanho mas o mais corajoso de todos.
               A Bia tinha 12 anos e era a única menina do grupo. Era branca como a neve e tinha umas bonitas e compridas tranças loiras.
               Por último, o Tomás, com 13 anos, era o mais inteligente dos quatro.
               Naquele Verão quente, muito quente, já depois das aulas terminarem, foi combinado entre todos fazerem nesse ano algo de muito diferente para se divertirem. A ideia era fazerem qualquer coisa que ficasse para sempre nas suas memórias.
               Todos tinham sido bons alunos e mereciam um prémio – uma aventura vivida só por eles, sem pais, tios ou avós a vigiarem.
               Nos outros anos tinham ido a praias, a campos, já tinham feito campismo na Figueira ou no fundo do quintal da Avó Fatiminha. 
Já tinham jogado ao peixinho, ao berlinde e ao pião. Ao Pictionary. Ao Monopólio.
Já tinham ido à piscina municipal mostrar o que tinham aprendido em um ano de lições na água.
Não, tinha tudo de ser diferente este ano.
A ideia foi, claro, do Tomás, o único com certezas e muita, muita imaginação.
Era tudo muito simples – a ideia era visitar um circo, aquele que todos os Verões chegava a Coimbra, misturarem-se com os tigres e os elefantes, com os palhaços e com os mágicos.
Depois de ali chegarem, ficariam dois dias inteiros, sem pressa, para fazerem muitas perguntas e sem dar respostas.
Deixaram um recado aos pais.
Não os queriam preocupar mas era preciso partir para aquela aventura que nunca iriam esquecer.
Dizia o bilhete:
“Papás – vamos os “quatro piolhos” brincar para um sítio mágico. Não se preocupem nem fiquem assustados. Vamos ter muito cuidado, como sempre nos ensinaram a ter, estamos bem e não deixaremos que nos façam mal. Estamos juntos e ninguém nos magoará. Regressamos em dois dias.
Beijos e saudades”
Puseram alguma comida nas mochilas, vestiram roupa leve pois estava muito, muito calor, e encontraram-se junto do poço do quintal da casa do Jonas e do Tó. Eram 10 horas da manhã do primeiro dia da aventura.
Partiram. Contentes, sem olhar para trás. Para não sentirem saudades.
O plano era este: seguiriam para os terrenos junto do circo e iriam fingir que tinham sido abandonados pelos pais. Pediriam abrigo e pediriam trabalho.
Desconheciam quem era o patrão, o chefe do Circo. Aquilo devia ter um chefe. Qualquer grupo o tem.
Quando chegaram perto do circo IMAGINÁRIO, só tinham olhos para os lindos cavalos, para as lindas bailarinas, para os leões nas jaulas.
A Bia meteu conversa com uma menina que estava a escovar um cavalo preto.
- Como te chamas?
- Sou a Luana. Quem são vocês?
- Somos irmãos e fomos abandonadas pelos nossos pais. Eles tratam-nos mal e ainda bem que estamos sem eles.
Era o Tomás a mentir, a mentir muito, como só ele sabia fazer.
Mas resultou.
- Então, podem ficar aqui. Precisamos de ajudantes para os cavalos. Aceitam ficar? Se sim, vou falar com o meu pai.
- O teu pai é o chefe?
- É o palhaço rico do Circo. Chama-se Lucas.
- Aceitamos – disseram todos em coro.
E começou ali a aventura mais fantástica na vida dos 4 primos.
O Vasco foi dar de beber às pombas do mágico, o Tó foi limpar o adro do Circo, a Bia iria escovar os cavalos e o Tomás seria o ajudante do Lucas, às vezes mais triste e às vezes mais contentes.
Na primeira noite, o espectáculo foi mágico. Os olhos dos primos brilhavam como nunca.
O Tomás foi fantástico como ajudante do Lucas. Teve tantas palmas que até chorou. Mesmo. Sem vergonha.
Os outros viam-no na plateia e também aplaudiram.
Á noite, ficaram a dormir todos juntos na barraca da Luana. Quase nem dormiram como tanta emoção!
No outro dia, tudo voltou a ser muito bom – comeram um pouco pior do que era costume mas dias não são dias…
Eles não queriam crescer, sair dali.
Mas à noite do segundo dia era chegada a hora de partir.
Tinham prometido aos pais voltar ao fim do segundo dia.
E iriam cumprir.
Com pena.
Não se despediram de ninguém para não chorarem.
Por isso, à noite, bem de noite, puseram-se em fuga para as suas casas, levando nos bolsos pedaços da aventura.
A Bia trouxe três pelos da crina do Hércules, o cavalo preto que tinha penteado.
O Vasco trouxe uma varinha mágica que lhe tinha sido dada pelo Mestre Luminoso.
O Tó trouxe uma pluma amarela da bailarina Tecas.
Até ao próximo ano.
Até ao regresso do circo. A Coimbra. E às suas vidas.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

50

50
(1963-2013)

Hoje apeteceu-me um pedaço de estrofe,
um naco de poema vadio,
uma fatia de romance de erva-doce ou de cordel.
Quero-me sensato, inquieto, imprevisível,
desassossegado na minha habitual pacatez,
metafórico,
feito daquelas águas claras
que irrompem das minhas almas,
sem aviso,
sem surpresa.
Leiam-me,
decifrem-me,
soletrem-me.
E ensinem-me as mágoas das flores,
perto das magnólias
que florescem antes de dar folha.
Não me atirem correntes
mas antes gotas de chuva.
Quero a mansidão das manhãs de Outono,
a fúria dos escorpiões,
os risos surdos de Charlot,
O nariz ímpio da Streisand
A voz sem nome da Dulce,
as garças do teu sorriso, Constança.

Obrigado por estares aí.
Obrigado por estarem aí...

Paulo Guerra – 3.11.2013

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Dádiva...


domingo, 13 de outubro de 2013

auto-retrato


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

quebrado.............................

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Fui ver o Mestre...


Fui ver um Homem Bom.
Com a certeza de que viria de lá ainda mais crente.
Como se fosse possível!
Mas fui, embalado pela doce notícia de que em Jerusalém sempre entram mais almas, umas desencontradas, outras em busca de uma bússola.
E quando pisei as águas da Galileia, numa barca náufraga de esperança, quando molhei os olhos no Gólgota de todos nós, senti-me mais eu, mais junto da Divindade, aquela que se fez Homem por todos nós, pelas nossas imperfeições, pelas nossas iniquidades.
E ouvi de novo as bem-aventuranças, vi o Cristo transfigurado no Monte Tabor onde a vista se perdeu de vista, ouvi os sussurros dos pastores em busca da Estrela da Natividade, o espanto de Isabel, a prima infértil, as novidades do filho João Baptista, o eco de Emaús, o reconhecimento de um Cristo ressuscitado na palma das nossas mãos de peregrinos.
E ouvi gritar, mais uma vez, «Abba, porque me abandonaste?», como se fosse um canto de hoje e uma súplica de esperanto, calcei as pedras das tentações, os musgos de Cafarnaum, as tulipas de Nazaré, sorri com o sorriso do Pai José, paciente e solene, molhei as pontas dos dedos no Jordão, deitei-me no morto mar, como se fosse uma entidade viva.
E na cidade velha, vi - ufanas - estações de uma Via Sacra, túmulos e sepulcros, marias e martas, grutas de traição, Pai nosso que estais no céu...
E quando entrei em Jerusalém, pensei serenamente nas marcas do Crucificado e reti as lágrimas que trazia guardadas do canto lusitano, à espera de depósito.
Por isso, por causa disso, dessa hora sexta da nossa existência, voltei serenado.
Até ao próximo calvário de todos os dias...
Até que Ele me volte a dizer palavras sábias...

domingo, 4 de agosto de 2013

lugares...