sexta-feira, 30 de março de 2012

Nocturno italo-português









Há sempre alguém que nos envergonha e nos remete para o limiar baixo em que estamos...
Quantos de nós daríamos pela Itália o que este Homem deu e fez por nós?
Eu era um fan...fácil dizer agora...deveria ter dito isto há meses ou anos atrás.
Um Bem Haja a Ele e que o Céu o acolha...como merece!



O escritor italiano Antonio Tabucchi morreu aos 68 anos, em Lisboa, após uma longa doença, informou neste domingo o tradutor de sua obra para o francês, Bernard Comment.
Considerado um dos maiores autores italianos contemporâneos, Antonio Tabucchi escreveu obras como "Afirma Pereira" e "O Tempo Envelhece Depressa".
Autor de mais de 20 livros traduzidos para quase 40 idiomas, este romancista, professor universitário e ensaísta era o principal tradutor e promotor da obra do escritor português Fernando Pessoa em italiano.
Tabucchi estava internado no hospital da Cruz Vermelha. Segundo a mulher do escritor, Maria José Lancastre, o enterro acontecerá na próxima quinta-feira na capital portuguesa.
Nascido em Vecchiano, na Itália, em 24 de setembro de 1943, Tabucchi é autor de livros como "O Tempo Envelhece Depressa", "Afirma Pereira", "Está Ficando Tarde Demais" e "Tristano Morre".
No ano passado, envolveu-e em uma polêmica no Brasil. Foi convidado para participar da 9ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, onde era uma das atrações mais esperadas. Mas, em junho, decidiu cancelar sua vinda.
De acordo com comunicado dos organizadores do evento, Tabucchi desistiu de viajar ao Brasil em função da decisão da justiça brasileira em relação ao caso Cesare Battisti, que teve seu pedido de extradição pelo governo italiano negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Foi a segunda vez que o autor cancelou participação depois de confirmado. Tabucchi iria à Flip em 2010, mas devido a problemas de saúde não compareceu.
Vários romances de Tabucchi foram adaptados para o cinema, como "Noturno Indiano" (prêmio Médicis estrangeiro, 1987), por Alain Corneau, e "Afirma Pereira", por Roberto Faenza, com Marcello Mastroianni como protagonista, o que contribuiu para o sucesso da obra.
Professor de literatura portuguesa na Universidade de Siena (Italia) e romancista, Antonio Tabucchi foi articulista dos jornais Corriere della Sera e El País (Espanha). Foi um grande crítico do governo de Silvio Berlusconi.
Filho único de um vendedor de cavalos, Tabucchi, nascido em 24 de setembro de 1943 em Pisa, na Toscana, estudou Filologia Românica e, a partir de 1962, Literatura em Paris, onde descobriu o poeta Fernando Pessoa ao ler a tradução para o francês de um de seus poemas.
O entusiasmo com a descoberta o levou a estudar o idioma e a cultura de Portugal, que se tornou sua segunda pátria. Tabucchi estudou Literatura Portuguesa na Universidade de Siena e redigiu uma tese sobre o "Surrealismo em Portugal". Apaixonado por Pessoa, traduziu toda sua obra para o italiano, ao lado da mulher, que conheceu em Portugal.

terça-feira, 27 de março de 2012

Festim




Caía a noite no Guincho.
À hora marcada, Tomás compareceu no lugar combinado, dizendo nos Plátanos que o cinema esperava por si.
E lá serviu um vinho da Toscânia e verteu-o nos cálices de um cristal encantado guardado na memória destes incautos amantes.
Não se via vivalma nas ruas da cidadela e eles apenas tinham como companhia as mudas pedras das calçadas e dos vetustos edifícios e um vento inesquecível capaz de trazer aromas e notícias de outras paixões.
Os canais da urbe serviam de cenário idílico para este jantar, dando o tom musical para esta valsa dançada por tanto amor e com a garra insuspeita das garças coloridas que emergiam do interior deste homem e desta mulher.
Ele sentou-se à mesa, com uma delicadeza inusitada. Ela já ali tinha colocado a massa especial capaz de coroar este momento - uma massa cozinhada, em lume de eterna chama, com espinafres de um verde de hera de italianas paragens.
Laura dizia-se boa cozinheira. Como aperitivo, resolveu revelar-lhe como cozinhara aquela massa. Aos amantes, tudo se conta, até as traições.
Para os confeccionar, ela principiara por levar ao lume um tacho com bastante água temperada com sal e, quando esta levantou fervura, introduziu seis cannelloni, deixando-os cozer durante 15 minutos, não mais para não quebrarem.
Retirou os cannelloni e passou-os, com volúpia, por água fria. Escolheu, com critério e com o coração, os espinafres e lavou-os em água fria corrente, misturada com as suas lágrimas de alegria que caíam sem aviso. Cozeu-os em pouca água temperada com sal durante 10 minutos, escorreu-os no término da cozedura, espremeu-os e picou-os com todo o carinho do mundo.
Após derreteu poucas lágrimas de margarina e polvilhou outro tanto de farinha; quando à superfície apareceu uma espuma esbranquiçada, regou com gotas de leite e deixou ferver, mexendo sempre, com toda a paciência e até engrossar. Temperou com sal, pimenta e noz-moscada. Paulatinamente. Serenamente.
Já fora do lume, ela incorporou no molho a carne cozinhada e os espinafres, aí rectificando os temperos com a alma na mão.
Deitou, então, o recheio dentro de um saco pasteleiro munido de um bico e recheou os cannelloni, colocando-os lado a lado num tabuleiro untado com margarina.
Tudo isto enquanto as cotovias prosseguiam o seu encantado cântico noctívago.
Cobriu os cannelloni com um molho de tomate previamente confeccionado, polvilhou com queijo ralado e levou a forno médio durante o resto do tempo do mundo, aquele que sobrava de tanta impaciência, durante os quais se foi maquilhando com as cores do jurista pintor.
Estava chegada a hora de servir esta receita. Feita com os cheiros dos amores-perfeitos que despontavam do seu coração. E daquele mar sossegado e cúmplice que testemunhava este encontro.
Em surdina.
Sem burburinho.
Em tom de quieta maré.
Eles, já sentados na mesa feita da pedra daquela praia que os albergava, olharam-se olhos nos olhos e soltaram um beijo perfumado, envolvido na brisa desta noite.
No ar, ouviu-se o som de um violoncelo.
Beberam um outro vinho, desta vez napolitano, tinto de morrer, e começaram a tragar aquela massa feita com a paixão dos bons momentos, com o ouro das pétalas de esperança que cresciam nos doces e quentes caracóis de um e de outro.
Nessa altura, ele deu-lhe um nome. Próprio. Só dela. Soube-lhe, então, os sinais particulares, os gestos, a língua. Só de lhe olhar nas íris, só de lhe sentir o cheiro, só de lhe provar o tempero.
Como resposta, ela acariciou-lhe os cabelos e sussurrou o nome dele.
Ao acaso.
Como uma balada.
- Não me deixes deixar-te, Tomás!
E enquanto a massa ainda esfriava no prato dele, este homem disse-lhe com o pincel na voz.
- Nunca, Laura, meu amor!

Breve encontro

 
 
David Lean, o realizador de grandes épicos, filmou com dificuldades, em pleno auge da II Guerra Mundial, na Inglaterra, este pequeno enorme romance, baseado em uma curta peça teatral. Poucas vezes algum cineasta conseguiu ser tão sensível e genuíno ao falar de paixão. Breve Encontro é um trabalho praticamente perfeito sobre o tema e, já que o mundo evoluiu de maneira desconexa de lá para cá e os romances reais já não são tão românticos, o filme pode ser considerado facilmente um dos melhores que o seu género já viu até hoje.
Breve Encontro remete a tempos onde a traição conjugal era considerada algo sujo e sórdido, muito mais do que hoje em dia. Ao mesmo tempo em que os encontros furtivos de Laura e Alec eram excitantes e divertidos, a sensação ruim de desonestidade fazia-se transparecer sempre em seus rostos, principalmente em Laura, interpretada por uma mui bela (porém não artificialmente, como seria em um romance moderno) Célia Johnson, responsável por uma interpretação totalmente humana e sensível. Ela narra a história em flashback, e é a peça principal do casal ­ sobre Alec (um desconhecido Trevor Howard à época, depois participou de O Terceiro Homem) conhecemos muito pouco além do facto de ele ser médico. Lean optou por dar prioridade à perspectiva feminina.
O que mais encanta é o desenvolvimento do romance entre o casal. Ele é absolutamente credível, perfeito. A partir de um encontro totalmente casual surge um lampejo; uma primeira coincidência de um reencontro desperta emoções a serem futuramente descobertas; uma primeira conversa informal adiciona interesse mútuo; a primeira sugestão de um passeio (como amigos) desperta felicidade. A curva dos acontecimentos é perfeita. Claro, mais tarde presenciaremos a culpa, o arrependimento, o sofrimento. Como um bom amor proibido. E nenhuma dessas fases soa forçada ou fora do lugar. O roteiro conseguiu, dessa forma e dentro de seu género, atingir um nível de perfeição poucas vezes visto no cinema. Assim sendo, não é exagero considerar este um dos melhores romances proibidos do cinema.
Hoje em dia as histórias de amor não são assim ­ e se fossem seriam consideradas demagogas, ultrapassadas. Não há conotação sexual explícita em diálogo ou acto algum de qualquer um dos personagens. Prender o espectador sem sexo é algo que argumentistas de hoje em dia simplesmente já não conseguem fazer. Uma das causas é o facto de o mundo ter perdido, há décadas, a sua inocência. A luz monótona da plataforma de um comboio já não é muito romântico, é antes um refúgio para assaltantes. As mulheres mudaram também. A submissão está fora de moda ­ eles "não precisam" mais dos homens, apenas os querem; não necessitam mais ser amadas, mas apenas amar. Excepções são poucas.
A direção de Lean é absolutamente precisa. Nunca se impõe, contando a história suavemente, sem exageros, deixando os personagens crescerem aos poucos. Apenas uma cena perto do final do filme traz um toque diferenciado, fora do óbvio ­ é quando uma das personagens toma uma acção súbita, e a câmara gira diagonalmente, mostrando uma mente fora de si. A narração em off de Laura tem um tom melancólico preciso, um encanto para os sentidos. Combina com os cenários e a história do casal.
David Lean filmou Breve Encontro antes de outros filmes que até hoje também são inesquecíveis. Filmou no meio de bombardeamentos sob o clima depressivo de guerra. Conseguiu criar, dessa situação, uma verdadeira obra-prima, a partir de uma situação comum, prova da versatilidade do cineasta desde cedo na sua carreira. É detestável apelar para clichés, mas acredito que, na maioria dos casos, o simples deve prevalecer sobre o complexo, então só posso dizer que, neste caso, provavelmente mais do que em nenhum outro, não se fazem mais filmes como este. 
Breve Encontro é um filme maravilhoso!

Alexandre Koball
Texto adaptado

sábado, 24 de março de 2012

quinta-feira, 22 de março de 2012

G.

Para quê mudar de dedicatória se os dítames desta se mantém intactos?
 (...)


O dia nasceu aflito de incómodos:
naquela hora, há muitas luas atrás, no dia seguinte ao primeiro da primavera, ele nascera sem aviso.

Outrora, uma velha pitonisa dissera a sua mãe:
seria ele unguento na chaga
neve no deserto,
riso no pranto.
E teria tesouras nas mãos,
uma rosa vermelha na fronte
e um desassossego
na ansiedade das horas menos boas que teria de viver.

Chorava com a voz do riso de Charlot
Mordiscava a felicidade por entre os interstícios das boas memórias
e espalhava recados de escárnio e mal dizer
por entre os escolhos da Vida,
por entre os escorpiões mutilados
que lhe picavam a consciência...

Sentia-se desigual entre os seus pares - é que sempre tinha tesouras em suas mãos
rodeava-se de mar adentro
sofria pelas dores que não sofria
e paria as gargalhadas com que enfeitava as vidas dos outros

Por suas mãos passaram as luzes do mundo,
as neves de Klimanjaro,
os equinócios do Equador,
as touradas reais de Pamplona,
os jardins suspensos da Babilónia,
os palhaços mais encantados de Budapeste,
os chicotes incendiados de um certo Vice,
as alegrias mais sinceras do Limoeiro,
os consentimentos menos audazes de Neptuno,
os odores menos nobres deste povo,
os "viragom" engolidos perto do silêncio do horror,
as cançonetas mais dolentes da Europa,
as conciliações mais cansadas do Bolhão,
as virgínias mais insanas do condado,
as magas das regras ansiolíticas e quejandas,
o disco-sound mais mexido da Ria de Aveiro,
as cores mais negras do etíope,
os feiticeiros mais audazes de Oz,
os sete palmos da terra derradeira,
mil e uma rotas trilhadas com uma fátima esperança (e outras preces menos promissoras),
os desencontros incompreendidos dos Dom Quixotes e das Dulcineias,
o doce paladar da Torre Eiffel,
as amizades cosidas a ponto de ouro...

De repente, embalado pela profecia da velha cega dos búzios, ele parou.
Olhou em redor,
colheu as magnólias,
desceu do autocarro,
pousou a mala do infortúnio,
desfez os contratos de uma vida,
entregou as becas togadas de um gole só.
E rumou ao país das tesouras...
Mil anos, Eduardo, Guilherme, nome sem nome -
passou por nós uma brisa que me recorda que existes:
Assim eu pudesse murmurar ao teu ouvido quando precisas...

Em tempo:
O Gui celebra mais um aniversário, é verdade!
Quantos, ficam no segredo dos nossos deuses.
Para ele, as nossas mais brancas e puras magnólias,
os meus "twelve points" da Amizade...

terça-feira, 20 de março de 2012

um dia antes do poema


Nunca são as coisas mais simples que aparecem

quando as esperamos. O que é mais simples,

como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se

encontra no curso previsível da vida. Porém, se

nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos

nos empurrou para fora do caminho habitual,

então as coisas são outras. Nada do que se espera

transforma o que somos se não for isso:

um desvio no olhar; ou a mão que se demora

no teu ombro, forçando uma aproximação

dos lábios.



Nuno Júdice

segunda-feira, 19 de março de 2012

Paternal


Nasci porque queria ser como o meu pai (Samuel Lin, 11 anos)

Um pai é alguém que pode fazer aquilo que te diz para não fazeres (Paul Raiche, 10 anos)
Um pai serve para fazer de borboleta na peça de teatro da escola (Robin, 11 anos)

Já diziam os maias:
Num bebé assenta o futuro do mundo.
A mãe deve segurá-lo apertadinho para que ele saiba que este é o seu mundo.
Mas o pai deve levá-lo à mais alta montanha para que ele possa ver como é o seu mundo

Depois de obedecer à lei da natureza, um homem é chamado a ser sensato, gentil, paciente, amoroso, juiz, árbitro, pediatra, educador infantil, perito financeiro, consertador de brinquedos, fonte de toda a sabedoria, artista.
Por vezes, a ser PAI.
Aos vinte anos vestiu o fato da paternidade, enchumaçou os ombros, cresceu em altura, ficou com a voz mais grave para se adequar ao papel.
Nunca lhe vi a maquilhagem ou a cabeleira postiça quando lhe segurava a mão.
Com a exacta medida e compasso dos passos do pai
Anda o filho,
Ecos e entoações da voz de seu pai
Ouvem-se quando o filho fala.
Outrora quando a mesa era alta,
E as pernas da cadeira uma floresta
Ele absorvia o sorriso do pai e cuidadosamente imitava
a maneira como ele estava de pé.
Foi sendo exilado aos poucos, com orgulho e com remorso,
nalgumas coisas melhor que o seu pai, noutras pior.
Entre sonatas e canções de embalar cantadas em tom de firmeza e ternura,
e numa altura em que passou a ter capacidade para escolher, entre estranhos,
ele sorri com o sorriso hesitante de seu pai
E fala com a voz dele...

Ao Pai J., meu herói...
Ao Pai que eu nunca fui...

sábado, 17 de março de 2012

cansaço

Acontece que me canso de ser homem.
Acontece que entro nas alfaiatarias, nos cinemas,
flácido, impenetrável, como um cisne de feltro
que navega numa água de origem e de cinza.

O odor das barbearias faz-me chorar aos gritos.
Quero só um descanso de pedras ou de lã,
quero não ver estabelecimentos nem jardins,
nem mercadorias, lunetas, ascensores.

Acontece que me canso de meus pés e minhas unhas,
de meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.

Todavia seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.

Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.

Não quero continuar a ser raiz nas trevas,
vacilante, estendido, a tiritar de sono,
descendo, nas cercas molhadas da terra,
absorvendo e pensando, a comer dia após dia.

Não quero para mim tantas desgraças.
Não quero fazer mais de raiz e de túmulo,
de subterrâneo só, de adega com defuntos,
inteiriçados, a morrer de angústia.

Por isso a segunda-feira arde como petróleo
quando me vê chegar com cara de prisão,
e uiva no seu decurso qual uma roda ferida,
e dá passos de sangue ardente rumo à noite.
E empurra-me para certos recantos, para certas casas húmidas,
para hospitais onde os ossos saem pela janela,
para certas sapatarias com odor a vinagre,
para ruas medonhas como fendas.

Há pássaros cor de enxofre e horríveis intestinos
pendurados nas portas das casas que odeio,
há dentaduras esquecidas numa cafeteira,
há espelhos
que deveriam ter chorado de vergonha e pavor,
há guarda-chuvas em toda a parte, e venenos, e umbigos.

Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.


PABLO NERUDA
 
 
Ao G.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Corrida de submarinos



VG


Digam o que disserem...não deixo de gostar deste homem. Tem uma linha e horizonte definidos e vai para lá a qualquer preço. Embora me custe a admitir.
Pelo menos não tem nada a ver com o inefável Álvaro de Vancouver que, em tudo, corresponde, aos grandes idiotas (no sentido de parideiros de ideias) nacionais: ai sou professor universitário, e bom, estou na Canada, tenho umas ideias que adorava levar à prática, ai sou tão simples e prático, sou só o Álvaro do autocarro, deixei os óculos e adoptei lentes de contacto porque fico mais bonito e com melhor imagem...enfim...Álvaro o português lá de fora cheio de ideias e que nada sabe fazer e a quem, em boa hora esvaziaram as competências. Haviam de fazer o mesmo (assim se pudesse fazer) ao Sr. PR...o típico português....ignorante, acintoso, arrogante, egocêntrico, basófias e prenhe de ideias que nada dizem.
Por mim...viva o Víctor Gaspar....por mais que me doa na carteira e na vida (e mesmo com a certeza que isto não vai resolver quase nada)..  
hellas...

terça-feira, 13 de março de 2012

Nolitas & Nolitos in Cabo


Hoje em dia, a TV, sobretudo através da FOX e da HBO aposta em dar-nos uma imagem de homens tontos e débeis e mulheres, seguras, boazonas, soberbas e cientificas, além de carnais como qualquer cadela ( e cão, claro, para ser politicamente correcto).







Vejamos alguns exemplos (e falo um pouco de memória) enumerando umas séries que passam ou passaram pelo Cabo:
1. Ossos
2. The Finder
3.O Mentalista
4. Castle
5.Dexter
6. Boddy Proof
7.Menphis Beat
8.A Patologista
9.Saving Grace
10.The Protector
11.Qualquer coisa tipo rizzels and something
Enfim...em todas elas vários denominadores comuns:
1. séries policiais, ou para-policiais
2. Em todas as Chefes são mulheres
3. se não chefes são a mente que tudo descobre e desvenda
4. há sempre uns tontos de homens a acompanhar as policiais ou cientistas que são: básicos, tontos, infantis, ignorantes e vangloriam-se disso
5. em quase todas os tontos vivem um pseudoerótico romance platónico e mal definido com as chefes.
6.as médicas legistas são melhores investigadoras, mais que qualquer policia ou investigador criminal...elas estão sempre a ver o que eles rejeitam...e elas estão sempre certas
7.eu nunca trabalhei em campo com profissionais legistas...nem ele(a)s querem..nem podem..há coisas que só mesmo os States
8.Todas elas são mulheres sozinhas, ou quase todas, muito masculinizadas (na maior parte) no trato e hábitos e detestam vestidos (não, não são lésbicas)...só gostam de roupa masculina (muita calça e blazers e camisas simples por baixo).
9. todas têm problemas com os pais e a familia em geral (costuma ter um cão..não gatos..isso é muito feminino diz-se)
10. Todos os subalternos masculinos nunca passariam em qualquer teste para entrada na policia (nem no Uganda) atenta a sua idiotice e estupidez.
11. Todas exercem o poder com um misto de cinismo, perfídia e sexual appeal.
Em suma, todas estas séries, e outras, mais não fazem que criar o novo tipo de sociedade...Nolitas ao poder e Nolitos ao seu serviço com ar de tontos e babados. Não que os nolitos não mereçam.
Basta olhar para as novelas portuguesas e ver como as personagens femininas são fortes, determinadas e as masculinas são uma cambada de susceptíveis, vulneráveis e cheios de bons sentimentos, subjugados e infantis.
E, assim,se vai passando esta imagem e estes valores. E tudo acha que será normal. Não é. Porque todas e todos estão a ficar piores e mais tontos e tontas.
Hoje em dia todas as histórias têm que ter, pelo menos uma mulher comandante, chefe, líder, poderosa, nem que seja bipolar, e uns homens aflitos e sempre a derrapar nas curvas e sempre muito preocupados em não ferir os sentimentos de nenhuma delas, bem como os seus próprios cabelos, sobrancelhas e ver se fizeram a depilação correcta.Transformaram-se em mulheres com uma coisa no meio das pernas.
O politicamente correcto vai acabar por virar em revolução, se não o é já, do pior.
Em vez de papeis iguais, teremos as mulheres padrão apresentadas como manipuladoras, frias e poderosas predadoras e os homens como muito sensiveis, manipulaveis e completamente vulneráveis.O que nem será surpresa. Tontos sempre foram, as novas gerações aprenderam a ser assim com a tv e a sociedade em geral.
AH....chamem-me o que quiserem, mas não será por aqui que esta coisa de igualdade lá vai.
Por mim, estamos a aprofundar a desigualdade, e nos piores termos.  
Transformamos as sofredoras em tiranas e os tiranos em vulneráveis crianças.
Daqui a uns anos verão. Só quem não conhece jovens o nega.
E adeus.
Vou tentar arranjar umas quotas para as mulheres nas administrações de empresas, públicas ou não.
Parece que 25% será bom. 
Espero que gostem.
Adeus até ao meu regresso (sim, que chato sou eu)...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Rumor de primavera

 
 
Como o rumor do mar dentro dum búzio
O divino sussurra no universo
Algo emerge: primordial projecto.

Sophia de Mello Breyner

domingo, 11 de março de 2012

Festival


E, mais uma vez, a unanimidade deste país fez-se ver. Tudo tão certinho e tão iluminado.
Vida Minha mesmo.
Como sempre, o evento foi mais uma amostra do tipo "O gato mijou na caixa de fósforos".
Por mim, vão todos levar em Baku (Azerbeijão ao que dizem...fazia-o mais perto) e sejam felizes, com ou em final.

sexta-feira, 9 de março de 2012

fantasmas doces

 

Porque a nossa espera nem sempre alcança o odor dos mortos, esse cheiro vivo que nunca nos deixa, que nos marca para a vida, e no além dela, como perfumes de Abissínia e cascatas da Amazónia. Anseio por os ver e ouvir, em pensamentos e orações, a trazerem-me recados e conselhos, vivendo em mim, como se nunca de mim se tivessem apartado. Sei que não falam comigo, sei que não estão ali quais figuras de medo. Sei apenas que lhes toco quando toco a minha mão, a mesma que os afagou e cuja marca ficou lá. Sei que lhes sinto o verbo, mesmo sem os ouvir. Sinto que nunca os perdi, porque afinal quem de nós faz parte, como se fosse pele e água feliz, não desaparece de um momento para o outro. Venero a memória, a mais indecentes de todas as obsessões, e vivo porque a tenho... Se fosse minha e só minha a opção, também eu viveria sempre com os meus fantasmas doces...
Miss you, granny!

Pai

mas sei, pai, que se me ouves não me consegues responder.
Eu sei que gostarias de o fazer, que amavas ler os poemas que me entram pelos olhos dentro, que sonhavas encontrar um outro sorriso na face da mãe. Pouco sei de ti. Tudo sei por ti. Encomendaste o vento suão para me proteger, pediste aos anjos uma auréola para segurar as minhas noites e as minhas angústias, pensaste os meus problemas antes mesmo de eles me terem acontecido. Por isso, pai, embala-me o mar todo por dentro, sacode a minha tristeza e ganha a voz que perdeste por esse estúpido AVC.
Eu estou aqui. Sempre. Mesmo que nem sempre me entendas...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Vergonha

Tratado imenso sobre o vício, que, afinal, acaba por ser mais honesto no personagem principal que no que os rodeiam (o chefe, a colega de trabalho...) enredados em mentiras elaboradas em que escolheram acreditar.
Ele, pelo menos, não acredita.
A irmã também não acredita. E há uma espécie de verticalidade nestes dois irmãos que não existe em mais ninguém no filme. Eles, precisamente, os "messed up ones".

SHAME.
Sobre o sexo. sobre sexo, sobre a nossa liberdade...

terça-feira, 6 de março de 2012

Matrias (se assim quiserem) ou simplesmente mulheres


Quanto Mais Amada
Mais Desisto De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia, in "O Dilúvio e a Pomba"

domingo, 4 de março de 2012

alto mas perto

“Extremamente Alto, Incrivelmente Perto” é o novo drama do realizador Stephen Daldry (“Billy Elliot”, “O Leitor”). 
Conta com um grande elenco composto por Tom Hanks, Sandra Bullock, Thomas Horn, Adrian Martinez, James Gandolfini, Jeffrey Wright, John Goodman e Max von Sydow.
O argumento é da autoria de Eric Roth, que adaptou o trabalho literário de Jonathan Safran Foer.
A história é sobre um rapaz de nove anos que tenta encontrar, em Nova York, uma fechadura que só se abre com uma chave que lhe foi deixada pelo seu pai, uma das inúmeras vítimas dos atentados de 11 de Setembro de 2001.
Oskar (Thomas Horn), de 11 anos, demonstrou desde cedo ser um menino-prodígio. Pacifista e entusiasta, o seu passatempo predilecto era a “expedição de reconhecimento”, um jogo que criara com o pai (Tom Hanks), com quem sempre tivera uma ligação de absoluta cumplicidade.
Porém, a trágica morte deste, durante os atentados terroristas do 11 de Setembro, vem alterar a própria natureza do pequeno Oskar que, incapaz de lidar com a perda, se fecha sobre si mesmo e se torna uma criança infeliz e solitária.
Agora, um ano após o incidente, descobre num dos armários de casa uma chave do falecido pai. Convencido de que o objecto está de algum modo ligado a mais uma expedição, ele vai seguir diferentes pistas numa longa viagem pela cidade de Nova Iorque, em busca de uma última mensagem que lhe terá sido deixada.
Nesse percurso vai ter a ajuda de um velho mudo (Max von Sydow) e conhecer algumas pessoas que, se por um lado lhe são estranhas, por outro o vão fazer compreender mais sobre si próprio e ajudá-lo a cumprir o luto que lhe faltava.
A música é de sonho.
 A noite foi-o também.
Dei sentido à morte.
Encontrei vida...

sábado, 3 de março de 2012

Nolitos



Querida C(EN) aqui vai para ti...quantos Nolitos conheces? Eu vou dar umas ideias:

1. José Nolito Rodrigues Santos
2. Jorge Nolito Gabriel
3. Carlos Nolito Daniel
4. Manuel Nolito Goucha
5. João Nolito Adelino Faria ( o tal do beijo real...o maior nolito...devia estar em 1)
6. Todos quantos andam na TVI..E cujos nomes , Graças a Deus, nem sei. Só vejo aqueles facies.
7.João Nolito Manzarra (coitado...tão novo e tão tonto)
8. Pedro Passos Nolito Coelho (um cara de pau....o pior será compará-lo com o anterior ..Sócrates)...vendido e mentiroso.
9. Marcelo Nolito Rebelo de Sousa ( o sabe tudo e não sabe de nada)
10.Tony Nolito Carreira (o único que faz dinheiro sem fazer quase nada) este gajo devia ter uma estátua no Terreiro do Paço.

11. 12. Os Carreiras Filhos....isto está mesmo em merda quando se chega a este estado...os filhos das estrelas viram estrelas só por terem sido paridas pela sua mulher...os Carreiras são como a Coreia do Norte..só que ninguém se importa.

País podre.

País que merece mesmo um Salazar...


Estão na mesma.....acho que o defunto de Santa Comba Dão, Salazar, não iria ficar admirado com o que veria hoje. Até lhe convinha....assim se enganam os tolos..

Errata

A imagem anterior não significa o texto. 
O Pedro Lourenço foi usado aleatoriamente. Nada do que eu disse se aplica ao senhor.
A sua imagem foi aleatória e a primeira que apareceu quando cliquei moda/futilidade/paris e etc.
Aliás, nem sei quem é o senhor. Foi a primeira vez que o vi.
E, depois disto, vou dar uma carga de porrada na mulher e vou dormir.
A não ser que a apresentadora da TVI do futebol queira discutir os livres e as faltas de jogo.
Aí...talvez me aguente até aparecer alguém que a mate....HAhahahahahaha.
Anda tudo tão piroso e tão correcto!

Moda /Violência



Cá para mim, que sou um porco fascista e machista na opinião de muitos, isto anda um pouco ligado...
Tanta moda, tanto upload de nós próprios, tanta futilidade e tanta desgraça sem preço...só pode acabar mesmo em porrada e da boa.
Eu acho que um homem deve espancar a mulher sempre que possa. Ela sabe sempre porquê. E vice versa...acontece e muito mas ninguém fala. Gostam destas frases? INSULTEM-ME.
Anda tudo a passar fome e estes ordinários andam a passear fatos e cuecas como se fossem a salvação do mundo. E ninguém lhes corta no vencimento.

Gostava de os (as) ver a trabalhar com o cérebro e com as mãos.. (tal como trabalham os escravos que manufacturam aquelas coisas a que chamam roupa)...

A voz que nos rasgou por dentro



A voz que nos rasgou por dentro,
que trouxe consigo a chuva negra
do outono, que fugiu por
entre névoas e campos
devorados pela erva?

Esteve aqui — aqui dentro
de nós, como se sempre aqui
tivesse estado; e não a
ouvimos, como se não nos
falasse desde sempre,
aqui, dentro de nós.

E agora que a queremos ouvir,
como se a tivéssemos reconhecido outrora, onde está?
A voz que dança de noite, no inverno,
sem luz nem eco, enquanto
segura pela mão o fio
obscuro do horizonte.

Diz: "Não chores o que te espera,
nem desças já pela margem
do rio derradeiro. Respira,
numa breve inspiração, o cheiro
da resina, nos bosques, e
o sopro húmido dos versos."

Como se a ouvíssemos.

Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"