domingo, 30 de novembro de 2008
Dedicatória (em fugidio Novembro)
Para a Cons
Para a Força e Luz que dela irradiam e que, sendo tão dela, são nossas Graças a Deus e à sua, dela, generosidade e sentido de partilha.
Para mim, serás sempre um sinónimo de Paz, Brilho, Sinceridade, Entrega e Generosidade.
Um Beijo Grande e até breve minha amiga.
Gui.
sábado, 29 de novembro de 2008
La luz más blanca
Recado
Treze rosas
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Como dizia o poeta
Quem já passou por esta vida e não viveu
Quem nunca curtiu uma paixão
terça-feira, 25 de novembro de 2008
O construtor de pontes
Foi a primeira grande desavença em toda uma vida de trabalho lado a lado. Mas agora tudo havia mudado.
O que começou com um pequeno mal-entendido, finalmente explodiu numa troca de palavras ríspidas, seguidas por semanas de total silêncio.
Numa manhã, o irmão mais velho ouviu baterem à sua porta. Abriu-a e se deparou com um homem que lhe disse:
- Estou procurando trabalho. Talvez você tenha algum serviço para mim...
Sim, disse o fazendeiro. Claro! Vê aquela fazenda ali, além do riacho? É do meu vizinho. Na realidade é do meu irmão mais novo.
Nós brigamos e não posso mais suportá-lo. - Vê aquela pilha de madeira ali no celeiro? Pois use para construir uma cerca bem alta.
O irmão mais velho entregou o material e foi para a cidade. O homem ficou ali cortando, medindo, trabalhando o dia inteiro.
Quando o fazendeiro chegou, não acreditou no que viu: em vez de cerca, uma ponte foi construída ali, ligando as duas margens do riacho. Era um belo trabalho, mas o fazendeiro ficou enfurecido e falou: - Você foi atrevido construindo essa ponte depois de tudo que lhe contei.
Mas as surpresas não pararam aí. Ao olhar novamente para a ponte viu o seu irmão se aproximando de braços abertos.
O irmão mais novo então falou: - Você realmente foi muito amigo construindo esta ponte mesmo depois do que eu lhe disse.
O carpinteiro que fez o trabalho partiu com sua caixa de ferramentas.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Lembrar, hoje, António Gedeão (nascido a 24 de Novembro de 1906)
Pedra filosofal
Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso em serenos sobressaltos, como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam, como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel, base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral, contraponto, sinfonia, máscara grega, magia, que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante, rosa-dos-ventos, Infante, caravela quinhentista, que é Cabo da Boa Esperança, ouro, canela, marfim, florete de espadachim, bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim, passarola voadora, pára-raios, locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão do átomo, radar, ultra-som, televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança.
António Gedeão (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho )
O império do grego
Talvez eu sofra inúmeras desilusões no decorrer de minha vida.
Talvez eu não tenha forças para realizar todos os meus ideais.
Mas jamais irei me considerar um derrotado.
Talvez em algum instante eu sofra uma terrível queda.
Mas não ficarei por muito tempo olhando para o chão.
Talvez um dia o sol deixe de brilhar.
Mas então irei me banhar na chuva.
Talvez um dia eu sofra alguma injustiça.
Mas jamais irei assumir o papel de vítima.
Talvez eu tenha que enfrentar alguns inimigos.
Mas terei humildade para aceitar as mãos que se estenderão em minha direção.
Talvez
numa dessas
noites frias,
eu derrame
muitas lágrimas.
Mas
não terei
vergonha
por esse gesto.
Talvez
eu seja enganado
inúmeras vezes.
Mas não deixarei
de acreditar
que em algum lugar
alguém merece a
minha confiança.
Talvez com o tempo eu perceba que cometi grandes erros.
Mas não desistirei de continuar trilhando meu caminho.
Mas irei aprender que aqueles que realmente são meus verdadeiros amigos nunca estarão perdidos.
Talvez com o decorrer dos anos eu perca grandes amizades.
Mas irei continuar plantando a semente da fraternidade por onde passar.
Talvez algumas pessoas queiram o meu mal.
Talvez eu fique triste ao concluir que não consigo seguir o ritmo da música.
Mas então, farei que a música siga o compasso dos meus passos.
Talvez eu nunca consiga enxergar um arco-íris.
Mas aprenderei a desenhar um, nem que seja dentro do meu coração.
Talvez hoje eu me sinta fraco.
Mas amanhã irei recomeçar, nem que seja de uma maneira diferente.
Talvez eu não aprenda todas as lições necessárias.
Mas terei a consciência que os verdadeiros ensinamentos já estão gravados em minha alma.
Talvez eu me deprima
por não ser capaz de saber
a letra daquela música.
Mas ficarei feliz com as outras capacidades que possuo.
Talvez a vontade de abandonar tudo torne-se a minha companheira.
Mas ao invés de fugir, irei correr atrás do que almejo.
Talvez eu não tenha motivos
para grandes comemorações.
Mas não deixarei de me alegrar com as pequenas conquistas.
Talvez eu não seja exatamente quem gostaria de ser.
Mas passarei a admirar quem sou.
Porque no final saberei que, mesmo com incontáveis dúvidas,
eu sou capaz de construir uma vida melhor.
“ainda não chegou o fim”
E se ainda não me convenci disso, é porque como diz aquele ditado:
Porque no final
não haverá
nenhum “talvez”
e sim a certeza
de que a minha vida valeu a pena e eu fiz o melhor que podia“.
Aristóteles Onassis
sábado, 22 de novembro de 2008
Poema de uma tarde só
Não tenhas medo do amor.
A vida nunca
foi só Inverno, nunca foi só bruma e desamparo.
Se bem que chova ainda, não te importes:
pousa a tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros:
explode no
teu coração um amor-perfeito,
será doce o seu
pólen na corola de um beijo,
não tenhas medo,
hão-de pedir-to quando chegar a primavera.
(M.R.P.)
Poema dum Funcionário Cansado
Adoptivamente ... vosso!
Uma lição de matemática
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Aquecer a alma
terça-feira, 18 de novembro de 2008
E se?
E se Obama fosse africano?
Por Mia Couto
Os africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
Nos dias seguintes, fui colhendo as reacções eufóricas dos mais diversos recantos do nosso continente. Pessoas anónimas, cidadãos comuns querem testemunhar a sua felicidade. Ao mesmo tempo fui tomando nota, com algumas reservas, das mensagens solidárias de dirigentes africanos. Quase todos chamavam Obama de "nosso irmão". E pensei: estarão todos esses dirigentes sendo sinceros? Será Barack Obama familiar de tanta gente politicamente tão diversa? Tenho dúvidas. Na pressa de ver preconceitos somente nos outros, não somos capazes de ver os nossos próprios racismos e xenofobias. Na pressa de condenar o Ocidente, esquecemo-nos de aceitar as lições que nos chegam desse outro lado do mundo.
Foi então que me chegou às mãos um texto de um escritor camaronês, Patrice Nganang, intitulado: " E se Obama fosse camaronês?". As questões que o meu colega dos Camarões levantava sugeriram-me perguntas diversas, formuladas agora em redor da seguinte hipótese: e se Obama fosse africano e concorresse à presidência num país africano? São estas perguntas que gostaria de explorar neste texto.
E se Obama fosse africano e candidato a uma presidência africana?
1. Se Obama fosse africano, um seu concorrente (um qualquer George Bush das Áfricas) inventaria mudanças na Constituição para prolongar o seu mandato para além do previsto. E o nosso Obama teria que esperar mais uns anos para voltar a candidatar-se. A espera poderia ser longa, se tomarmos em conta a permanência de um mesmo presidente no poder em África. Uns 41 anos no Gabão, 39 na Líbia, 28 no Zimbabwe, 28 na Guiné Equatorial, 28 em Angola, 27 no Egipto, 26 nos Camarões. E por aí fora, perfazendo uma quinzena de presidentes que governam há mais de 20 anos consecutivos no continente. Mugabe terá 90 anos quando terminar o mandato para o qual se impôs acima do veredicto popular.
2. Se Obama fosse africano, o mais provável era que, sendo um candidato do partido da oposição, não teria espaço para fazer campanha. Far-Ihe-iam como, por exemplo, no Zimbabwe ou nos Camarões: seria agredido fisicamente, seria preso consecutivamente, ser-Ihe-ia retirado o passaporte. Os Bushs de África não toleram opositores, não toleram a democracia.
3. Se Obama fosse africano, não seria sequer elegível em grande parte dos países porque as elites no poder inventaram leis restritivas que fecham as portas da presidência a filhos de estrangeiros e a descendentes de imigrantes. O nacionalista zambiano Kenneth Kaunda está sendo questionado, no seu próprio país, como filho de malawianos. Convenientemente "descobriram" que o homem que conduziu a Zâmbia à independência e governou por mais de 25 anos era, afinal, filho de malawianos e durante todo esse tempo tinha governado 'ilegalmente". Preso por alegadas intenções golpistas, o nosso Kenneth Kaunda (que dá nome a uma das mais nobres avenidas de Maputo) será interdito de fazer política e assim, o regime vigente, se verá livre de um opositor.
4. Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?).
5. Se fosse africano, o nosso "irmão" teria que dar muita explicação aos moralistas de serviço quando pensasse em incluir no discurso de agradecimento o apoio que recebeu dos homossexuais. Pecado mortal para os advogados da chamada "pureza africana". Para estes moralistas – tantas vezes no poder, tantas vezes com poder - a homossexualidade é um inaceitável vício mortal que é exterior a África e aos africanos.
6. Se ganhasse as eleições, Obama teria provavelmente que sentar-se à mesa de negociações e partilhar o poder com o derrotado, num processo negocial degradante que mostra que, em certos países africanos, o perdedor pode negociar aquilo que parece sagrado - a vontade do povo expressa nos votos. Nesta altura, estaria Barack Obama sentado numa mesa com um qualquer Bush em infinitas rondas negociais com mediadores africanos que nos ensinam que nos devemos contentar com as migalhas dos processos eleitorais que não correm a favor dos ditadores.
Inconclusivas conclusões
Fique claro: existem excepções neste quadro generalista. Sabemos todos de que excepções estamos falando e nós mesmos moçambicanos, fomos capazes de construir uma dessas condições à parte.
Fique igualmente claro: todos estes entraves a um Obama africano não seriam impostos pelo povo, mas pelos donos do poder, por elites que fazem da governação fonte de enriquecimento sem escrúpulos.
A verdade é que Obama não é africano. A verdade é que os africanos - as pessoas simples e os trabalhadores anónimos - festejaram com toda a alma a vitória americana de Obama. Mas não creio que os ditadores e corruptos de África tenham o direito de se fazerem convidados para esta festa.
Porque a alegria que milhões de africanos experimentaram no dia 5 de Novembro nascia de eles investirem em Obama exactamente o oposto daquilo que conheciam da sua experiência com os seus próprios dirigentes. Por muito que nos custe admitir, apenas uma minoria de estados africanos conhecem ou conheceram dirigentes preocupados com o bem público.
No mesmo dia em que Obama confirmava a condição de vencedor, os noticiários internacionais abarrotavam de notícias terríveis sobre África. No mesmo dia da vitória da maioria norte-americana, África continuava sendo derrotada por guerras, má gestão, ambição desmesurada de políticos gananciosos. Depois de terem morto a democracia, esses políticos estão matando a própria política. Resta a guerra, em alguns casos. Outros, a desistência e o cinismo.
Só há um modo verdadeiro de celebrar Obama nos países africanos: é lutar para que mais bandeiras de esperança possam nascer aqui, no nosso continente. É lutar para que Obamas africanos possam também vencer. E nós, africanos de todas as etnias e raças, vencermos com esses Obamas e celebrarmos em nossa casa aquilo que agora festejamos em casa alheia.
O ladrão das penas
A vida ia voltar à sua morna normalidade.
Sem mais sobressaltos.
Com Laura colocada numa gaveta de ternura, à qual voltaria sempre que precisasse de uma dose de fôlego.
Viveria apenas com a promessa de uma conta corrente, em tom de deve e haver, pronto a tudo exorcizar, em nome de um Amor maior, despido de ficção e de ímpetos romanescos.
O amor é isso, esse pequeno nada, capaz de tanto e de tão pouca coisa, soletrado pelos filhos da Terra, umas vezes em registo de tragédia, outras vezes em cores de drama, a maioria das vezes em passos de comédia…
Meteu a chave na porta e entrou na sua casa.
E na de Clara.
Esta apareceu-lhe repentinamente, como se o esperasse, como se não tivesse feito mais nada do que o esperar, qual náufraga daqueles três dias de conformada incompletude, relativamente aos quais nada se pode ou deve perguntar, em nome de um espaço de individualidade que os casamentos modernos consentem ou ratificam.
E o abraço em que Tomás envolveu Clara correu o mundo mas não foi capa de revista ou notícia de jornal.
A vida deles tinha acontecido na véspera do dia seguinte.
Um beijo selou o regresso daquele homem, sem mais penas para cumprir.
Para aquela mulher.
Ele estava perdido e encontrou-se.
Aquele beijo estava perdido e encontrou-se…
O passado já havia transitado em julgado.
E o próprio Tomás assinou a correição!
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Os Disfarces de Arlequim
Atrás de Simone, irrompia a tristeza incontrolada de Florbela. Como sempre, de preto vestida.
- Maria, tens perante ti quatro seres, quatro imagens, duas reais mas fora do seu tempo, uma real e no seu tempo e uma imaginada. Daqui a uns quatro anos, muito irás ouvir falar desta borboleta esvoaçante chamada Isadora. Ela é do teu tempo. Treze anos tem neste momento. Quanto a Scarlett, essa tem a sua existência limitada e quinhentas e tal páginas de um livro que será escrito no futuro sobre um tema passado. Não tem princípio nem fim o ilimitado!
- "Para falar com franqueza, minha querida, quero que vás para o inferno!", não é assim que ele te diz, Scarlett? – perguntava, trocista, Isadora.
- Escusas de me estar sempre a lembrar isso! - notava-se que Scarlett não estava nada à vontade - Já vivi essa maldita cena mais do que mil vezes! A Maggie sempre podia ter-me dado um fim melhor!
- É isso, Scarlett. Nenhuma de nós é perfeita. Se temos uma ideia, se representamos uma ideia, outras nos hão-de faltar. Não somos criaturas completas, completamo-nos umas às outras. Por isso, concordei com Maria quando disse que estávamos todas de acordo. Eu luto pela condição feminina, a Florbela pela condição apaixonada, a Isadora pela condição corporal e a Scarlett pela condição patriótica.
- Sem terem uma pátria, não sentem o corpo, sem sentirem amor, não se sentirão femininas, sem serem femininas, não darão valor ao corpo, sem gostarmos de nós próprios, de que nos vale a paixão? Tudo se completa... - Era Florbela que rematara.
Maria estava confusa. Muita coisa ainda não percebera.
- Mas porquê eu?
Foi Isadora na sua precoce infantilidade que lhe respondeu.
- Porque tu, Maria Sklodowska, vais-nos suplantar a todas. Embora todas nós sejamos portadoras de ideias universais, todas nós somos, no fundo, umas egoístas, só pensamos em nós próprias ou naqueles que nos estão muito próximos. Eu cultivo o meu corpo, a Florbela inventa príncipes encantados para a sua desdita, a Simone combate pela causa feminina, excluindo portanto, os homens e a Scarlett luta pelo seu castelo de terra ali para o Sul do Novo Continente. Tu, não, Maria, tu vais construir uma obra verdadeiramente universal em proveito de um progresso tecnológico que, fatalmente, terá de acompanhar o fulgor das ideias e das emoções. Vai para o laboratório mas não te esqueças das lágrimas apaixonadas da pobre da Florbela, da garra e sentido patriótico da Scarlett, da força da militância da Simone que luta pelo que quer alcançar e da minha sensualidade improvisada, dos meus sentidos, dos meus saltos, do amor próprio, do orgulho em seres quem és. A Ciência sem isso, nada será, apenas fará perigar a nossa vida...
Tudo estava a ficar claro. Maria parecia compreender os constantes avisos mas não entendia que mulher ela viria a ser. Famosa, altruísta, mas como? Pela Matemática? Pela Física?
De repente ouviu-se uma voz vinda de fora.
- Desculpa, Maria, mas o jantar está na mesa. Se queremos ir ao teatro, temos de nos despachar.
Era Edith Clery que, desta maneira, apressava Maria. Esta respondeu-lhe e Edith voltou a descer as escadas.
- Até esta senhora que tu achas tão amável foi alguém em tua vida. Ouvirás falar dela: alimentará as tuas emoções e refreará o teu espírito nas horas em que estiveres congestionada com tanto número. A sua voz não te será indiferente. Escuta-a, pois valerá a pena. Emociona a tua ciência, solta as emoções e sensações. Chamar-se-à Piaf.
E de novo "Non, je ne regrette rien" ecoou pelos ouvidos de Maria. Fechou os olhos e sentiu--se mais morta que viva.
Fechou o livro de Margaret Mitchell e, por encanto, viu perante si algo que a acompanhara pela vida inteira - eram quatro sinais que ela ou um outro vindouro haveria de compreender: uma lágrima num lenço enrodilhado, uma écharpe vermelha que segundos antes Isadora ondulava no ar, um mapa da Polónia com mil marcas vermelhas apontando cidades e um leque de fêmea.
Pátria, Amor, Corpo e Mulher, quatro cavaleiros com os quais haveria de aprender a lidar. Como condimento de tudo isso, as emoções vivas e multiformes que tanto podem viver na boca de Desdémona como na de Joana D'Arc ou na nostalgia de Edith e na saudade de Penélope...
Tudo isso aliado à sua ciência predilecta!
Quando regressou do teatro, as estrelas que viu do seu quarto tinham uma luz e brilho diferentes.
Eram mais vivas, mais suas...
(...)
Na manhã seguinte, deixou-se dormir até tarde.
Foi necessário que a Edith Clery a viesse acordar, alta ia já a manhã.
- Maria, Maria, acorda que está um colega lá em baixo à tua procura. Diz que combinaram ir hoje fazer uma experiência para o laboratório.
Maria deu acordo de si.
- Um colega? Quem é?
A resposta de Edite não se fez esperar.
- É um tal de Curie, Pierre Curie. Sabes quem é, não é verdade, Maria?
Ouvido isto, Maria lembrou-se do encontro e saltou da cama. Foi à janela e respirou fundo.
O ponto e as vírgulas
domingo, 16 de novembro de 2008
O Império dos Sentidos
ele fingiu tão convictamente
que até Minerva, a das sete partidas do mundo,
Fernando,
fosta a pessoa certa na hora absurda
Álvaro,
foste a flor-de-lótus que nasceu nos campos de Aljubarrota
Ricardo,
fosta a juba de leão com os que os reis enfeitavam o reino da Dinamarca
Alberto,
foste a pedra solta que Pierrot lançou à Caixa de Pandora
Penélope foi tua adormecida e vigilante Musa
Apolo, teu guardião de honra
montado num potro branco
que atropelou os sentidos
e correu para o coração, num louco e longo galope...
O poeta é um fotógrafo:
retrata tão fielmente tudo o que vê
que até o Homem, esse bicho incauto e muito estranho,
descobriu (e entendeu)
aquilo que deveria ser e não ser...
Rumor
sábado, 15 de novembro de 2008
Juventude
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
B.H. dixit
"Sem música nas escolas, as crianças ficam mais violentas.
Sem arte, tornamo-nos bárbaros".
Barbara Hendricks...one of the Voices...
Em terra de cegos...
Depois de "Cidade de Deus" e "O Fiel Jardineiro", ambos fortemente comprometidos social e politicamente, o realizador brasileiro Fernando Meirelles regressa com um filme controverso baseado no romance homónimo de José Saramago, "Ensaio Sobre a Cegueira" (Blindness).
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
A doença das palavras
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Obama2
Esqueci, mea culpa. de dizer no post anterior que: por cá uma eleição destas seria impossível. Nunca um negro, ou preto (chamem como quiserem) seria eleito entre este povo, tido de brandos costumes, mas que é racista, intolerante e mal educado (no mínimo)...mais depressa seria eleito qualquer personagem de um "reality show" ou de uma telenovela de "sucesso" ou um apresentador(a) de sucesso, que o Obama...só quem não nos conhece a fundo o nega....somos (apesar do plural, eu não me incluo)racists, intolerantes, ignorantes, básicos. boçais, alarves, e estupidamente soberbos com todos quantos nos procuram em busca de uma vida melhor.
Pronto.
Obama
Desculpem se insisto,mas...é assim:
não sei, e quem sabe?, o que irá ser a sua administração.
Contudo, só o facto de a mesma existir merece o destaque.
Eu, pessoalmente, sempre tive, e tenho, os americanos, na sua maioria, como gente básica, ignorante (academicamente falando), racista, perigosos na sua reliogisidade e sentido de segurança sem filtros, na sua mania que o mundo começa na costa do atlantico e acaba na costa do pacifico, ou vice versa, e atendendo ás fronteiras dos mesmos (claro existem o Alaska-com aquela inefavel governadora fascista e burra todos os dias- e o Hawai- o toque de exotismo), com a mania e sentimento que depois deles só o dilúvio. tenho que reconhecer que houve algo mais que conduziu a esta vitória extraordinária de alguém que, apenas em 2004 foi eleito senador (se estou em erro, corrijam por favor).
Por mim, Viva Obama e espero que tudo quanto vem daqueles lados seja melhor (não será dificil, tendo em conta o inimputável que lá está ate Janeiro).
Azular hasta el bosque
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Clareiras de vida
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
sábado, 8 de novembro de 2008
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Nove meses
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Atrasado
Sim, atrasado imperdoavelmente, embora por circunstâncias várias não me tenha sido possível aqui registar a data do aniversário do nosso e, desculpem, meu CPS, pese embora o facto de ter acertado na data e, no próprio dia, o ter contactado.
Esta homenagem é singela, não só porque é feita com atraso, mas porque tudo é singelo no relacionamento que me une ao CPS. Temos percorrido uma estrada comum nestes vinte e poucos anos que levamos de amizade e cumplicidade.
César, essa estrada nunca terá fim e, seja em rectas ou curvas apertadas, os nossos caminhos nunca deixarão de contar com o outro.Um dos maiores prazeres e alegria da minha vida é a nossa amizade. Um abraço muito grande e todo o meu apreço e carinho (e desculpa).