sexta-feira, 30 de julho de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Os corpos do delito
e ela pereceu de gozo e nudez pelas grades dele,
no verão de todos os perigos,
na escarpa negra do desejo...
No penedo da nossa saudade
Mesmo que seja enfeitada por buganvílias de matizes várias, de cor anil e de coração nobre...
Sem exagero...
Mãe, eu quero ir-me embora – a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram –
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.
Mãe, eu quero ir-me embora – os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim – tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.
Mãe, eu quero ir-me embora – nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique –
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.
Mãe, eu vou-me embora – esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua – a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste um dia que chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar."
De "O Canto do Vento nos Ciprestes"
Maria do Rosário Pedreira
terça-feira, 27 de julho de 2010
O Exagero
Não fiquei em paz com o meu último post.
Sem dúvida teatral e radical mas, sem dúvida também, uma tontice. Convenhamos que a comparação estabelecida entre Isilda Pegado e Hitler é um exagero e de um mau gosto atroz. Reconheço isso.
As minhas desculpas a Isilda Pegado e seus fans.
Nunca devemos criticar desta maneira. Fácil mas horrorosa. Mea Culpa.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Para Isilda Pegado..alguem igual
Que julga que conquistou o mundo com as suas incongruências e devaneios.
Que gente mais falsa. Preferem mortes no vão da escada que sucessos na urgência de um hospital. E preferem que os primos e amigos se chamem apenas isso...amigos e não cônjuges...esta dama não existe...custa-me a aceitar o seu rosto como uma realidade.
O simbolo da intolerância, do preconceito, do constrangimento social, da tontice e da religiosidade elevada a escudo de ignorância (eu acho que o Vaticano já a a perdoou)
domingo, 25 de julho de 2010
A idade maior
Capela de Nossa Senhora das Preces - eram 16:20 da tarde mais linda de todas as tardes
Quando ganhei coragem liguei
Quando chegou carta abri
Quando criei asas voei
Quando te vi... me apaixonei!
Parabéns C. (e a mim) pelos nossos 18 anos solidários...
Fazia calor.
Muito.
E aqueci-me na tua lareira e no teu colo...
Quando ganhei coragem liguei
Quando chegou carta abri
Quando criei asas voei
Quando te vi... me apaixonei!
Parabéns C. (e a mim) pelos nossos 18 anos solidários...
Fazia calor.
Muito.
E aqueci-me na tua lareira e no teu colo...
Tendo o Nosso Deus por testemunha... até hoje!
terça-feira, 20 de julho de 2010
O silêncio da R.
O silêncio é, definitivamente, das melhores coisas que pode haver. Também pode ser das piores, mas essa sua faceta está mais batida. Do que vos falo é de como o silêncio pode ser a melhor companhia de uma pessoa. Acredito que nem todos apreciem o som do nada, mas... paciência. Falo do som do nada interrompido por uma onda que rebenta, um vento norte e um preguiçar muito lento de quem não está para nada. Dias desse apetecer são dias bem diferentes dos dias de pensar na vida. Quando me ponho a pensar na vida, normalmente fico em casa, sozinha, sentada no chão ou no sofá, com as pernas à chinês. E depois falo alto, para ouvir as minhas próprias conclusões e ver se assim, faladas, repetidas, audíveis, fazem sentido. Às vezes, chego a escrever, a decompor em tópicos os must dos dias, meses ou anos vindouros. E, nos balanços, choro muito e rio muito. Mas sozinha. E em casa. Sossegada. Houve noites em que decidi dançar e dancei. Outras em que decidi acabar com a embalagem de gelado do congelador e... acabei (quando me empenho numa tarefa, sou assim!). Lembro-me de já me ter enroscado numa manta, à varanda, com um café forte e quente a fumegar de uma chávena e um cd de instrumental a soar. As letras não me deixam pensar na vida. Distraio-me. Tenho pena, mas acontece. Isto tudo... para pensar na vida. Coisa toda muito diversa de querer silêncio. Nada mais que isso. Pensar na vida faz barulho. Ideias a buzinarem e a ultrapassarem-se umas às outras dentro da cabeça. O silêncio não se dá com essas andanças. Quer-se só. Numa calmaria que só dá gozo a meia dúzia. E a mim... que há dias em que não há nadinha melhor que não pensar em nada.
Lido no blogue «Por aqui passei eu».
R., põe-te boa, ok?
E não canses as aves do teu silêncio...
Gosto muito de te ler. De te sentir aqui ao lado, como vizinha de ondas bloguistas, numa cantilena de menina mulher, serena e inquieta, rebelde e loquaz...
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Cantos à tona da água
Num recanto onde as lágrimas de Inês de Castro se misturaram com a ira de Pedro, seu amado, ouviu-se um canto dolente, na hora parda da noite.
Beethoven, Mahler, Strauss, Offenbach e Verdi uniram as mãos e viajaram até Coimbra.
Foi ontem. Parece que foi hoje.
Parece que foi sempre assim...
Dedico este post à M.C., a mais competente das cantantes (nós somos assim com os amigos)
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Toda a nudez será castigada?
A Suíça pôs ontem fim à recente saga legal de Roman Polanski, recusando extraditá-lo para os Estados Unidos, onde foi condenado em 1978 por "relações sexuais ilegais" com uma menor de 13 anos. Polanski "é agora um homem livre", depois de ter estado quase dez meses sob prisão domiciliária no seu chalet nos Alpes suíços.
A decisão põe um ponto final no mais recente - e dramático - desenvolvimento de um caso com mais de 30 anos. Polanski tinha sido detido em Setembro do ano passado em Zurique, ao abrigo de um mandado de captura internacional emitido em 2005. Foi depois colocado sob detenção domiciliária, enquanto as autoridades suíças avaliavam o pedido de extradição dos EUA, que querem que cumpra pena por uma acusação de 1978.
A decisão põe um ponto final no mais recente - e dramático - desenvolvimento de um caso com mais de 30 anos. Polanski tinha sido detido em Setembro do ano passado em Zurique, ao abrigo de um mandado de captura internacional emitido em 2005. Foi depois colocado sob detenção domiciliária, enquanto as autoridades suíças avaliavam o pedido de extradição dos EUA, que querem que cumpra pena por uma acusação de 1978.
Prescreveu ou não a culpa alheia?
E os filmes que fez são relevantes circunstâncias atenuantes?
Vou hoje ver o O ESCRITOR FANTASMA, enquanto reflicto...
Nos arredores do poente
Nos arredores do poente,
vi a nascente do dia novo que tresandava a velho,
antes mesmo do quarto minguante
da tarde mais tardia daquelas que eu vivi,
após o lusco-fusco da áurea crescente da brisa quente
que entornou as minhas primaveras,
derramando-as em charcos de inverno e sombra,
junto à raiz quadrada do meu outono...
Foi aí - perto do espanto -
que decidi comprar um relógio que só dá uma hora,
que anda à medida dos meus passos,
que não me troca os dias pelas noites,
nem os junquilhos por madressilvas
e que me torna sempre menino
Caminhos de luz e sombra
Pela mão segura das mães
descobrem-se, por caminhos de luz, outros futuros.
Sem medos das sombras das teias de sonhos maus
Sem medos das sombras das teias de sonhos maus
que pairam muito, muito longe ...
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As fotos do MAP
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Epílogo (como pesam as palavras)
(...)
Nunca me venhas visitar.
Não me atormentes mais. Peço-te.
Mas, se a tua maldade
adormecer o teu amor
e te empurrar a vires um dia
perguntar se está alguém em casa
e eu não te responder,
é sinal
que ainda levo um lenço aos olhos.
Jorge Aguiar Oliveira,
Nunca me venhas visitar.
Não me atormentes mais. Peço-te.
Mas, se a tua maldade
adormecer o teu amor
e te empurrar a vires um dia
perguntar se está alguém em casa
e eu não te responder,
é sinal
que ainda levo um lenço aos olhos.
Jorge Aguiar Oliveira,
in Homens Sem Soutien - Poesia, 1983-1999, Edição do Autor, Julho de 2002.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Mala sorte
Dobrei a tristeza
E arrumei-a lá bem no fundo
Mesmo ao lado
Das ilusões. Das desilusões. E das agruras da vida
Meti-as na mala
Para que não me esquecesse
Do mal que me fizeram...
Fui buscar também os sonhos
Que ainda me restavam
E arrumei-os na bolsa de fora
Para estarem mais à mão
No acaso de se virem a realizar
Mera fantasia...
Ainda havia muito espaço
Na minha mala de viagem
Por isso
Também lá meti as saudades
Que me chegaram
Com o vazio deixado
Por alguém muito querido
Só faltava a esperança
Que tinha perdido algures
Entre o sonho e a realidade
Mas que me apareceu de novo
Assim como que por magia...
Quando já não a esperava
Arrumei-a com cuidado
Para que não se amarrotasse
Juntei as promessas todas
E misturei-as com as mentiras
Que me ofereceram um dia
Meti tudo no mesmo saco
Que não meti na mala...
Deitei-o fora!
Sentado na paragem deserta
E enquanto espero pelo autocarro
Que tarda...
Faço contas à vida
Do que já passou
E do resto
Daquele que ainda me falta...
Somo tudo
E já é menos de
metade...
E arrumei-a lá bem no fundo
Mesmo ao lado
Das ilusões. Das desilusões. E das agruras da vida
Meti-as na mala
Para que não me esquecesse
Do mal que me fizeram...
Fui buscar também os sonhos
Que ainda me restavam
E arrumei-os na bolsa de fora
Para estarem mais à mão
No acaso de se virem a realizar
Mera fantasia...
Ainda havia muito espaço
Na minha mala de viagem
Por isso
Também lá meti as saudades
Que me chegaram
Com o vazio deixado
Por alguém muito querido
Só faltava a esperança
Que tinha perdido algures
Entre o sonho e a realidade
Mas que me apareceu de novo
Assim como que por magia...
Quando já não a esperava
Arrumei-a com cuidado
Para que não se amarrotasse
Juntei as promessas todas
E misturei-as com as mentiras
Que me ofereceram um dia
Meti tudo no mesmo saco
Que não meti na mala...
Deitei-o fora!
Sentado na paragem deserta
E enquanto espero pelo autocarro
Que tarda...
Faço contas à vida
Do que já passou
E do resto
Daquele que ainda me falta...
Somo tudo
E já é menos de
metade...
O café da lista dos sonhos
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?
(Oswaldo Montenegro)
Feira cabisbaixa
A luz da mágoa da noite
soltou amarras nos interstícios da feira cabisbaixa,
a que O'Neill cantou,
a que a pequena Luz visitou, só, amarrotada pelos pingos de néon que tombavam
sobre a sua pequena cabeça cheia de precoces caracóis...
De uma noite fez-se, então, um dia,
o outro lado da Luz que não se via.
soltou amarras nos interstícios da feira cabisbaixa,
a que O'Neill cantou,
a que a pequena Luz visitou, só, amarrotada pelos pingos de néon que tombavam
sobre a sua pequena cabeça cheia de precoces caracóis...
De uma noite fez-se, então, um dia,
o outro lado da Luz que não se via.
Paulo Guerra, Odes imperfeitas
Felicidade
Quantas vezes a gente, em busca de aventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!
Mario Quintana
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!
Mario Quintana
Transparências
Na selva dos meus órgãos, sobre a qual foi desde sempre a pele o firmamento, ao coração coube o papel de rei da criação.
Ignoro de que peça é todo este meu corpo a encenação perversa, onde se vê o sangue rebentar contra os rochedos.
Do inferno, aonde às vezes o sol vai buscar as chamas, sobre ele impediosamente jorram os projectores.
Luís Miguel Nava
Rebentação
Poesia Completa
1979-1994
Prefácio de
Fernando Pinto do Amaral
Organização e Posfácio de
Gastão Cruz
Publicações D. Quixote
2002
Rebentação
Poesia Completa
1979-1994
Prefácio de
Fernando Pinto do Amaral
Organização e Posfácio de
Gastão Cruz
Publicações D. Quixote
2002
Nós não somos daqui
Nós não Somos deste Mundo
Para a solidão nascemos. Outras vozes
nos chamam e invocam, outros corpos
se perfilam radiosos contra a noite.
Nós não somos daqui. Num intervalo
de campanhas esquecidas nos dizemos,
abrindo o coração aos de passagem.
Mas quando a manhã chega nós partimos,
mais livre o coração, longa a viagem.
Luis Filipe Castro Mendes, in "Os Amantes Obscuros"
nos chamam e invocam, outros corpos
se perfilam radiosos contra a noite.
Nós não somos daqui. Num intervalo
de campanhas esquecidas nos dizemos,
abrindo o coração aos de passagem.
Mas quando a manhã chega nós partimos,
mais livre o coração, longa a viagem.
Luis Filipe Castro Mendes, in "Os Amantes Obscuros"
Pentágono
Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda
Amor é lugar (ou os lugares do amor)
O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama.
E para repousar do amor, vamos à cama.
Carlos Drummond de Andrade,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama.
E para repousar do amor, vamos à cama.
Carlos Drummond de Andrade,
in 'O Amor Natural'
O nome nos meus sonhos
Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.
No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida
foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama
e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.
No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida
foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama
e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.
Da minha «poeta» de eleição,
Maria do Rosário Pedreira
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Por decreto...
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Proposta de alteração do Código de Processo Penal, com a redacção a ser introduzida pelo DL XX/2009, com vista a acabar com as campanhas negras contra cidadãos supostamente honestos, que entra imediatamente em vigor e tem efeitos radioactivos e retroactivos desde sempre e enquanto existir o Governo da República.
(...)
LIVRO X
Das execuções
TÍTULO I
Disposições gerais
(...)
Artigo 468.°-A
Águas de Bacalhau
Águas de Bacalhau
1 - Se o condenado conseguir endrominar pena em que foi condenado, transitada ou não em julgado, por qualquer meio, por período igual ou superior a um ano, nomeadamente com a interposição de recursos manifestamente infundados para todas as instâncias e revistas nacionais ou internacionais, ou ainda interpondo recursos extra-ordinários, iludindo as autoridades responsáveis pela sua captura ou tendo sido declarado na situação de contumácia, tem o direito a requerer ao tribunal que a pena seja declarada em situação de águas de bacalhau.
2 - O tribunal não pode deixar de declarar a pena em situação de águas de bacalhau, a qual é irrecorrível, transitando imediatamente em julgado.
3 - Se o tribunal não proferir decisão no prazo de 24 horas, o cidadão pode recorrer para o julgado de paz competente.
4 - A pena declarada em águas de bacalhau não mais poderá ser cumprida ou considerada em cúmulo jurídico, ficando o Ministério Público impedido de promover o respectivo cumprimento.
5 - O arguido que tiver pena declarada em situação de águas de bacalhau poderá exigir indemnização ao Estado a calcular com base no valor de 5.000 € por cada mês ou fracção de prisão não cumprida.
6 - Se o arguido for membro ou simpatizante do Partido essa indemnização será calculada com base no valor de 20.000 € por cada mês ou fracção de prisão não cumprida.
7 - No caso previsto no número anterior, nenhuma pessoa ou órgão de comunicação social poderá difundir, ou simplesmente aludir, à existência de pena declarada em situação de águas de bacalhau.
8 - A difusão ou a simples alusão à aplicação da situação de águas de bacalhau, colocará o infractor em situação precária, podendo:
a) Ser-lhe denegrida a imagem nos órgãos de comunicação social;
b) Ser perseguido politicamente no seu local de trabalho;
c) Ser sumariamente corrido do emprego sem qualquer justificação.
9 - No caso da aplicação da alínea c) do Art.º anterior, não terá direito a qualquer indemnização ou compensação, excepto nos seguintes casos:
a) Exercer funções num qualquer órgão do Governo;
b) Ser membro influente do partido do Governo;
c) Ser membro influente de um dos Maiores partidos da oposição;
d) Ser familiar, amigo, conhecido, ou por qualquer forma possuir uma cunha metida por qualquer membro das alíneas anteriores.
(...)
Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 4 de Julho de 2007. -- José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa -- Fernando Teixeira dos Santos -- Henrique Nuno Pires Severiano Teixeira -- Rui Carlos Pereira -- Alberto Bernardes Costa.
Promulgado em 14 de Setembro de 2007.
Publique -se.
O Presidente da República, ANÍBAL CAVACO SILVA.
Referendado em 15 de Setembro de 2007.
O Primeiro-Ministro, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Para algo bonito
Eu e ela
Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;
Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.
Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.
Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.
Outras vezes buscando distracção,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.
Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavalheiro de Flaublas...
Cesário Verde
Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;
Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.
Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.
Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.
Outras vezes buscando distracção,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.
Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavalheiro de Flaublas...
Cesário Verde
Mais pobre não há...
Comprar um filho por 12 milhões de euros, pagar o silêncio e apagamento da fêmea que recebeu o esperma de tão vetusta criatura (não duvido que milhões haveria ao lugar, atento o preço), a guarda exclusiva, enfim...a noticia....tudo made in USA (of course)...um exemplo.
Será que o gajo, aos 24 anos, está tão cheio de si que achou que tinha que ter um herdeiro a qualquer preço? porque "beautiful and rich people demands that"?
... e assim andamos...e os media, por cá e por todo o lado, numa histeria, apresentam isto como um "must"...ainda bem que nem todos têm 12 milhões para estas brincadeiras com vidas e com gente.
O gajo definiu-se, mais uma vez.
Existe o "eu" e os "outros" que são todos os humanos que, na cabecinha dele, pululam à sua volta (e até tem razão em acreditar nisso).
Eu, no fundo, sinto compaixão, da mais cristã, por esta criatura inefável. E, agora, venham bater-me, os do costume e mais uns novos.
Tanta criança a sofrer e a suplicar por uma adopção. O ADN conta tanto assim? mesmo sem ter qualquer ligação com a progenitora (neste caso)?
Prefere-se comprar uma criança, fruto do nosso esperma, concebido e criado num ventre indiferente e que nada nos diz, e a quem pagamos pelo silêncio e sombra ?
PS: dou a mão à palmatória quando me disserem que isto não foi uma compra, pura e simples, mas um acto de amor, ou um acto com consequências que originaram a negociata posterior.
O que não melhora muito o quadro.
Mete-me nojo o espaço mediático deste "evento".
E disse...
Alegoria da sede
Tribunal
Somos nós os culpados do que somos.
É de mim que me queixo.
Tão intensa foi sempre a minha voz,
que ninguém a entendeu.
Por isso, quanto mais água pedi,
mais distante me vi
de cada fonte que me apeteceu.
E agora é tarde, já nem sede tenho.
Ou tenho-a como os cactos:
Eriçada de espinhos.
Olho de longe a bica tentadora,
advinho-lhe o gosto e a frescura,
e é de borco na areia abrasadora
que refresco a secura.
Miguel Torga, Coimbra 6 de Dezembro de 1956
Somos nós os culpados do que somos.
É de mim que me queixo.
Tão intensa foi sempre a minha voz,
que ninguém a entendeu.
Por isso, quanto mais água pedi,
mais distante me vi
de cada fonte que me apeteceu.
E agora é tarde, já nem sede tenho.
Ou tenho-a como os cactos:
Eriçada de espinhos.
Olho de longe a bica tentadora,
advinho-lhe o gosto e a frescura,
e é de borco na areia abrasadora
que refresco a secura.
Miguel Torga, Coimbra 6 de Dezembro de 1956
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As alegorias do MAP
Graffiti
...se quem semeia ventos colhe tempestades,
eu prefiro plantar mil furacões.
Não vou ouvir o que ninguém diz e vou dormir quando eu quiser...
(disco de excelência, este GRAFFITI de Júlio Pereira, também com a voz da «minha» Dulce)
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Laranjinhas
Porque é que vibro com a potencial vitória da esquadra laranja?
Talvez por ter vivido alguns meses na Haia e ter gostado muito dos ares de civilização que por lá se cheiram.
Vermeer ao almoço, num museu qualquer, tragando uma sanduíche de carne assada...
Melhor momento de oásis do que este?!
terça-feira, 6 de julho de 2010
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Botão de meu caule
Como você está agora
Eu vou pegar todas as suas lágrimas
tecidos salgado ao longo dos anos
espalhá-los no sol para secar
diamantes de cada vez que você chorar
Vou guardar todos os seus dentes
seu riso e das pérolas abaixo
mantê-los em uma caixa de papelão
através do pano para o e nádegas
Vou reunir todos os seus cabelos
flutuando no ar abafado
vamos fazer uma trança de ouro
para você se manter quando você está velho
Agora eu beijo a sua pele leitosa
folha de seda e alma dentro
Coloque este beijo em sua testa
tesouro como você é agora
(Suzanne Vega)
À Minha amiga Nome Tem que de flor, PORQUE o Seu Amanhã VEM Botão do Fundo das pragas do Mundo ...
Eu vou pegar todas as suas lágrimas
tecidos salgado ao longo dos anos
espalhá-los no sol para secar
diamantes de cada vez que você chorar
Vou guardar todos os seus dentes
seu riso e das pérolas abaixo
mantê-los em uma caixa de papelão
através do pano para o e nádegas
Vou reunir todos os seus cabelos
flutuando no ar abafado
vamos fazer uma trança de ouro
para você se manter quando você está velho
Agora eu beijo a sua pele leitosa
folha de seda e alma dentro
Coloque este beijo em sua testa
tesouro como você é agora
(Suzanne Vega)
À Minha amiga Nome Tem que de flor, PORQUE o Seu Amanhã VEM Botão do Fundo das pragas do Mundo ...
À SUA alegria e EAo cantos maternais dos Nossos poros
( SEM e frutos Que mesmo, fecundos Podemos Ser )
Nunca esqueça, RT, que lhe deu uma Lua e essa nunca vai desaparecer das mãos dele, por muita chuva que caia...
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