sábado, 30 de abril de 2011

O baloiço do avô






O avô, dono da figueira

de uma cama fez um banco

de namorar o carinho dos netos.

Com a outra parte da cama

fez um baloiço de prender

a admiração deles

e ganhou o seu amor ao

baloiçá-los na figueira.


Pés no céu pés na terra!

Tudo roda no baloiço!


Nas tardes de Verão

o avô os netos e os gatos

de olhos de vidro

comiam figos sentados

na sombra do baloiço

fazendo alianças com

cordéis de carinho


Pés na terra pés no céu!

Tudo roda no baloiço!


PM

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Petra e o avô

- Avô, contas-me aquela história?

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Lenga lenga

Vivo a mesma história no meio dos outros,
essas almas que nem me olham, apenas me tocam,
de mansinho, de perto ou em veludo.
Morrem tias idosas
o pai continua sem falar
ela continua sem acordar
E o mundo roda à minha volta
impiedoso, solene, cruel, sereno, malévolo, doce e amargo ao mesmo tempo
Estou cheio de pais e de filhos
de sonos interrompidos
de cegonhas míopes e insensatas
Estou farto de névoas, de calor húmido e de sol às carradas
Estou pleno de ar fátuo, de fogo preso, de irmãos e irmãs
Quero mergulhar na onda mais revolta da lagoa
aquela que me traz o cheiro do espanto,
do riso e do pranto
da mágoa e da alegria disfarçada em tons de escarlate
Estou à beira de um ataque de flores
sujas, estarrecidas, cinzentas.
O Papa caiu neste Estio
E na Indonésia choram-se os mortos que não estavam vivos
Harry Potter não se cala,
Merlin impacienta-se
E o vírus está quase a apanhar-me...
É, no fundo, a mesma história de sempre.
Até que...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Hotel Terminus

(foto roubada ao meu amigo Augusto Maio)



Tombou a noite inadvertida,
como se fosse mais um dia

Calou-se a voz do poeta mais soturno daquela cidade
como se fosse um corpo mais,
embriagado com um copo de sol

Naquele hotel de subúrbio,
a meretriz cobrou-se cara,
face a face com a miséria dos tostões que não quer contar

E, de repente, como se fosse feita de luz,
a noite apagou-se e os pecados foram todos esquecidos.
Esquecidos. 
mas não perdoados.
Porque só a tristeza perdoa os excessos de alma,
na noite luminosa em que a meretriz se confessa ao poeta
e...
dessa fusão nasce um novo poema.

Começar de novo

 
 
"O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem"

in João Guimarães Rosa

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Intervalo

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

(Mário Quintana)

 Vou...com as aves...
E que Ele chegue bem a todos vós!

domingo, 17 de abril de 2011

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Múrmúrio de lua



Na noite em que a lua foi pisada pela primeira vez,
ainda a preto e branco a sua imagem,
escafandros brancos, o reflexo do sol nas lentes baças,
a escada que descia, o pó sem gravidade que a bota levantou,
tão branco e mágico,
nessa magia de duas da manhã, hora local, daqui,
estavas comigo.

Comemos sopa às quatro da manhã,
e eu vejo ainda aquela sala, a mesa lá ao fundo,
o sofá grande, e eu de onze anos a sentir-me grande,
porque assim me fazias e falavas.
A lua a ser pisada: humana condição
pela primeira vez.

No dia em que as ciências em exame mais longo se faziam,
eu sem saber o grau das equações, que incógnitas havia
a resolver, era Verão e o sol do lado esquerdo,
à esquerda da imagem tripartida à minha frente,
teimando-me a ignorância,
nessa angústia menor de três da tarde,
sabia-te sentado atrás de mim, na carteira de trás,
à espera, atravessado de nervos e ternura.
Passei. E eu vejo ainda o teu sorriso,
o pó sem gravidade no olhar, e eu, quinze anos
a sentir-me grande, porque assim me parecia.
Uma galáxia à solta pelo corpo e o calor do sol
tão transparente.

No dia em que o meu corpo se atravessou de nova dor,
quase rasgado a meio, a luz do sol entrando
pela janela antiga, os tectos altos, brancos,
batas como escafandros,
nesse dia tão longo em que o sol caminhou até ao fim,
para do fim nascer, estiveste sempre lá.

Vejo-te ainda encostado à ombreira dessa porta alta,
a voz dos escafandros tentando sossegar-te,
e tu, a soluçar baixinho, retalhado entre amor
e alegria.

Na noite em que a lua te deixou,
em que deixaste de sentir a sua luz, o mais trémulo toque,
tudo o que assim nos faz: frágil, imensa, humana condição,
na noite dos fantasmas e escafandros cinzentos,
eu não estava contigo.

A que sabia a sopa que comemos?
Que escada de Jacob?

Ana Luísa Amaral, Entre dois rios e outras noites, Campo das Letras, 2007

Tentação

Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.

Luis Filipe Castro Mendes, in "Os Amantes Obscuros"

sábado, 16 de abril de 2011

Rimas e chaves

Não me importo com as rimas. Raras vezes


Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.

Penso e escrevo como as flores têm cor

Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me

Porque me falta a simplicidade divina

De ser todo só o meu exterior.



Olho e comovo-me,

Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,

E a minha poesia é natural como o levantar-se o vento...



Alberto Caeiro

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Absurdo

Hoje apetece-me os absurdos da vida...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A espuma dos dias

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Casa grande

A Casa Grande é um sítio onde cabe toda a gente e todos se respeitam.


Mas ESTOU farto de melgas e de MEGAS!

Hoje somos judeus...



No aniversário da libertação do campo de concentração de Buchenwald,
porque a miséria humana nunca foi tão celebrada...

domingo, 10 de abril de 2011

Pegadas na areia



Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.


[Camilo Pessanha]

Malvas rosas



Conheces aquele lugar entre o sonho e o acordar, mas onde ainda te lembras do sonho? É aí que sempre te amarei... É onde ficarei à tua espera.

Interlúdio solar

Sinto o vento solarengo dentro de mim, rodeado pela minha varanda e pelas minhas preocupações.
E voo.
Só me falta o mar.
Esse compreende-me e alivia a minha apreensão...

sábado, 9 de abril de 2011




O nome começa-nos?


Ou, não nos pertence?


Em quantos nomes se pode escrever Inês?


Em Constança?


Em Julieta?


Em Carmen?


Em Dolores?


Em...?

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Carmim


era para ver um relâmpago

que abri a página

era para fazer fogo

que escrevi amor


André Dick

Antologia de Poesia Brasileira do Início o Terceiro Milénio - Dezoito poetas da novíssima geração (Exodus, 2008)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Esboço de carta



Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei de que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação ;
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e que cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar, que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros. 


NUNO JÚDICE

terça-feira, 5 de abril de 2011

O cão da tristeza


O cão da tristeza está aqui.
Aqui, sem alma, ferrado no meu espanto.
Puxando as verdes charruas do meu pranto
lavrando a dor cinzenta do meu povo.


O cão da tristeza está aqui.
No giz do meu lume, na fogueira acesa
que queima a minha casa, destrói a minha mesa
e magoa o meu sangue e a minha voz.

O cão da tristeza está aqui.
No açaime do medo que nos cala
na sombra do punhal, no frio da bala
apontada ao coração da nossa esperança.
JOAQUIM PESSOA 



PS - à flor, porque...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Mudança



Não me sinto mudar. Ontem eu era o mesmo.
O tempo passa lento sobre os meus entusiasmos
cada dia mais raros são os meus cepticismos,
nunca fui vítima sequer de um pequeno orgasmo

mental que derrubasse a canção dos meus dias
que rompesse as minhas dúvidas que apagasse o meu nome.
Não mudei. É um pouco mais de melancolia,
um pouco de tédio que me deram os homens.

Não mudei. Não mudo. O meu pai está muito velho.

As roseiras florescem, as mulheres partem
cada dia há mais meninas para cada conselho
para cada cansaço para cada bondade.

Por isso continuo o mesmo. Nas sepulturas antigas
os vermes raivosos desfazem a dor,
todos os homens pedem de mais para amanhã
eu não peço nada nem um pouco de mundo.

Mas num dia amargo, num dia distante
sentirei a raiva de não estender as mãos
de não erguer as asas da renovação.

Será talvez um pouco mais de melancolia
mas na certeza da crise tardia
farei uma primavera para o meu coração.

Pablo Neruda, in 'Cadernos de Temuco'
Tradução de Albano Martins

domingo, 3 de abril de 2011

Os amantes obscuros

Nós não Somos deste Mundo


Para a solidão nascemos. Outras vozes
nos chamam e invocam, outros corpos
se perfilam radiosos contra a noite.
Nós não somos daqui. Num intervalo
de campanhas esquecidas nos dizemos,
abrindo o coração aos de passagem.
Mas quando a manhã chega nós partimos,
mais livre o coração, longa a viagem.

Luis Filipe Castro Mendes

Ruas incendiadas


Se pudesses ias com os trilhos

desta cidade


Ao ventre incendiado

das ruas


o cais subterrâneo

da Solidão?


Daniel Gonçalves

Rumores para a transparência do silêncio

Ruas e becos


Em todas as ruas te encontro Em todas as ruas te encontro Em todas as ruas te perco conheço tão bem o teu corpo sonhei tanto a tua figura que é de olhos fechados que eu ando a limitar a tua altura e bebo a água e sorvo o ar que te atravessou a cintura tanto, tão perto, tão real que o meu corpo se transfigura e toca o seu próprio elemento num corpo que já não é seu num rio que desapareceu onde um braço teu me procura Em todas as ruas te encontro Em todas as ruas te perco


de Mário Cesariny..

sábado, 2 de abril de 2011

O dia das verdades - Tomo final

Não sei por que razão o mundo se inquieta
quando estamos sozinhos. Talvez não saiba
que esgotámos os olhos no rigor dos espelhos
e que, por isso, não somos capazes de traçar
um caminho senão para o evitarmos. Na verdade,

se cai a noite, estiolam-se as aventuras entre nós –
o teu silêncio respira longamente, às vezes
paira sobre as dunas do meu corpo a conspirar,
como um tear de nuvens a fiar tempestades
ou um vento salgado a prometer naufrágios;
mas nunca converte o assomo numa história.

Não sei porque se aflige tanto o mundo
se ficamos sozinhos. Talvez ignore
que nós não somos mar de nenhuma praia,
que escolhemos poupar às falésias as cicatrizes
das ondas; e tudo para não aprendermos
o verdadeiro nome das feridas.

MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA, 2008

Dia das Verdades*****



"Hoje eu recebi procuração de um pássaro para abrir a manhã e fechar o anoitecer."


Manoel de Barros

Dia das Verdades****

Primeiro, emigra-se do ventre para o berço, do berço para o chão, do chão para o pátio, do pátio para a rua, da rua para todas as ruas. Começa o êxodo do Eu para outros Eus, a infindável procissão de nós mesmos em que cada Eu carrega um núcleo do Eu primordial, um caroço irredutível e resistente à corrosão. Quando atingimos o ponto mais centrífugo de quem somos, o caroço assoma à varanda da consciência e declara - podes fugir daquele lugar mas ele nunca há-de fugir de ti. A frase comove pelo lugar-comum. Tanta légua percorrida para chegar a um lugar-comum? Mas a verdade é que só aí deixamos cair a pele do provinciano e alcançamos a tranquilidade que nos permite estar em qualquer centro como se estivéssemos no Nosso Café.

Cimo de Vila - Carlos Tê - Edições Afrontamento

No dia das verdades - tomo III

Quanto Morre um Homem
Quando eu um dia decisivamente voltar a face
daquelas coisas que só de perfil contemplei
quem procurará nelas as linhas do teu rosto?
Quem dará o teu nome a todas as ruas
que encontrar no coração e na cidade?
Quem te porá como fruto nas árvores ou como paisagem
no brilho de olhos lavados nas quatro estações?
Quando toda a alegria for clandestina
alguém te dobrará em cada esquina?

Ruy Belo, in "Aquele Grande Rio Eufrates"

Dia das verdades**



Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação duvidosa da vida,
mas a poesia inexplicável da vida.


Carlos Drummond de Andrade

No dia das verdades


Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.

Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imensa de regresso.

A minha pátria é onde o vento passa,
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rastro que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

                         Sophia de Mello Breyner

sexta-feira, 1 de abril de 2011

No dia das mentiras


É Sábado.
Hora das fitas. Das outras.
Fecham-se as luzes da sala
E arranca, entre marcas de perfumes e beatas adormecidas na boca do público, o filme...
(...)
As cores perpassam o mágico écran
E as solidões tornam-se acompanhadas
Naquela jaula de feras soturnas, brancas ou negras, coloridas ou desbotadas
Que pedem licença à norma para chorar
Há quem ponha o sono em dia ou em noite
Há quem boceje à espreita do segredo incontável
Há quem desespere de tanto esperar pelo proibido
Há quem abandone o palco porque o tempo dita regras
Lá em cima, indiferentes aos leopardos que vêem sem olhar,
Movimentam-se as divas e os galãs
Os Arlequins e as Salomés
As Garbos e os Valentinos
As Garças e os Cisnes
Os Cucos e os cavalos que também se abatem
Os cowboys alternativos e as magnólias em forma de sapos caídos do céu zangado
Os pacientes ingleses, os fiéis jardineiros, os príncipes das marés
E mais os Capelos Gaivotas, os inadaptados e os padrinhos
Os carros assassinos, as Cleópatras, as Gildas e as Sabrinas
Tudo rodopiando ao som da balada mais dolente do mundo,
Aquela que sai da voz de Norma Jean
Tudo flamejando pelo rubro da harmonia de Francis Lai,
Gershwin ou Armstrong
Tudo sapateando ao cheiro flamengo dos saleros, das valsas disfarçadas em tangos
E as plumas? Essas enfeitam o pó de arroz da Crawford, os olhos sôfregos da Binoche.
Os assobios da Bacall, os olhos da Davis, a boquilha da Audrey, o nariz da Streisand
Iluminam o plateau de serpentes enfeitiçadas
Os batuques demorados do Nilo, as escadarias palacianas de Sabá
Os crepúsculos dos deuses que teimam em não dormir
As lantejoulas sossegam os rouxinóis
E Los Angeles respira de alívio
Porque as limusinas continuam paradas em Beverly Hills
(...)
Repentinamente, as luzes acendem-se
O filme "pifou e a turma toda logo vaiou"
Mas eles e elas amam de papel passado,
Disfarçam os risos em lágrimas
Hão-de voltar quando forem de novo convocados
E só por isso são perdoados
(...)
E afinal continua a ser Sábado
Na fita da vida da gente que segue sempre dentro de momentos...