Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
Herberto Helder
quinta-feira, 31 de março de 2011
Degraus na terra
quarta-feira, 30 de março de 2011
Gente e mais gente
Gente
terça-feira, 29 de março de 2011
Lugar 2
mais perto do sorriso que só ela lhe sabia dar...
E, nesse momento, salvei-me!
Lugar 1
segunda-feira, 28 de março de 2011
domingo, 27 de março de 2011
Zon
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- "O senhor tem computador?"
- "Tenho sim... tá ao fundo da escada! É o da água ou o da luz?"
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Assistente: "Desligue e ligue a powerbox e já deve ficar a funcionar "
Cliente: "Já fiz e não dá nada !"
Assistente : "Depois de ligar a powerbox, que luzes é que tem acesas ?"
Cliente: A da sala e a da cozinha, porquê, faz interferência?"
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- O Sr. quer que eu tire o chispe?
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Menina, queria que o meu número não aparecesse nos retrovisores dos outros telemóveis.
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Cliente: Ligo para esse número e peço para falar com quem?
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Assistente: Experimente retirar a antena e voltar a colocá-la.
Cliente: Nem pensar! A antena vem agarrada e depois parto isto tudo... Dava cabo da minha vida.
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Cliente: O meu telemóvel tem um garfo e uma colher no visor...
Assistente: Qual é a marca e o modelo do seu equipamento?
Cliente: É um Inox 510.
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Assistente: Significa que o telemóvel da senhora não tem rede neste momento
e só pode fazer chamadas de emergência.
Cliente: Ai, que alívio! Pensei que era para ligar para o Hospital. Estava aflita a pensar quem é que estaria nas emergências.
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Assistente: Qual é exactamente a situação?
Cliente: É que não me lembro do ping e o que é pior é que perdi o pum...
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sábado, 26 de março de 2011
responder com a vida...
SÁNDOR MÁRAI
"As velas ardem até ao fim"
sexta-feira, 25 de março de 2011
WOODY
quarta-feira, 23 de março de 2011
terça-feira, 22 de março de 2011
Como a qualidade se torna em m---a
O «nosso» Gui
Todos os anos lhe dou os mesmos jarros... Porque para mim é um IRMÃO!
Aqui o reproduzo pois mais uma primavera conheceu o GUI.
O dia nasceu aflito de incómodos:
naquela hora, há muitas luas atrás, no dia seguinte ao primeiro da primavera,
ele nascera sem aviso.
Outrora, uma velha pitonisa dissera a sua mãe:
seria ele unguento na chaga
neve no deserto,
riso no pranto.
E teria tesouras nas mãos,
uma rosa vermelha na fronte
e um desassossego
na ansiedade das horas menos boas que teria de viver.
Chorava com a voz do riso de Charlot
Mordiscava a felicidade por entre os interstícios das boas memórias
e espalhava recados de escárnio e mal dizer
por entre os escolhos da Vida,
por entre os escorpiões mutilados
que lhe picavam a consciência...
Sentia-se desigual entre os seus pares -
é que sempre tinha tesouras em suas mãos
rodeava-se de mar adentro
sofria pelas dores que não sofria
e paria as gargalhadas com que enfeitava as vidas dos outros
Por suas mãos passaram as luzes do mundo,
as neves de Klimanjaro,
os equinócios do Equador,
as touradas reais de Pamplona,
os jardins suspensos da Babilónia,
os palhaços mais encantados de Budapeste,
os chicotes incendiados de um certo Vice,
as alegrias mais sinceras do Limoeiro,
os consentimentos menos audazes de Neptuno,
os odores menos nobres deste povo,
os "viragom" engolidos perto do silêncio do horror,
as cançonetas mais dolentes da Europa,
as conciliações mais cansadas do Bolhão,
as virgínias mais insanas do condado,
as magas das regras ansiolíticas e quejandas,
o disco-sound mais mexido da Ria de Aveiro,
as cores mais negras do etíope,
os feiticeiros mais audazes de Oz,
os sete palmos da terra derradeira,
mil e uma rotas trilhadas com uma fátima esperança (e outras preces menos promissoras),
os desencontros incompreendidos dos Dom Quixotes e das Dulcineias,
o doce paladar da Torre Eiffel,
as amizades cosidas a ponto de ouro...
De repente, embalado pela profecia da velha cega dos búzios,
ele parou.
Olhou em redor,
colheu as magnólias,
desceu do autocarro,
pousou a mala do infortúnio,
desfez os contratos de uma vida,
entregou as becas togadas de um gole só
e jogou a carta fatal...
E rumou ao país das tesouras...
Mil anos, Eduardo, Guilherme, nome sem nome -
passou por nós uma brisa que me recorda que existes:
Assim eu pudesse murmurar ao teu ouvido quando precisas...
segunda-feira, 21 de março de 2011
A minha prima Vera
Che Guevara
domingo, 20 de março de 2011
Poema a tantas mãos
Se eu pudesse voar assim, rasando as águas,
pegaria nas minhas asas de vento
e dobraria os cabos dos meus medos,
movido pelas garças do tempo,
porque mais ciosas do meu chão...
Num rodopio sem fim,
lançaria ao rio as mágoas
Porque sou gaivota,errante, minha, nossa,
Se amo, sou perdoado...
sábado, 19 de março de 2011
Caos
Espuma de barco
Para fazer um barco,
comprei a mais bela tábua de passar a ferro,
...que reforcei com as varetas de um velho guarda-chuva
e envolvi com três toalhas plásticas,
embebidas em cola de madeira.
Depois, lambi os dedos,
fechei os olhos,
e reclinei-me a pensar no mar.
Que as ondas e os caprichos da espuma e do sal,
trazemo-los já dentro de nós,
quando temos a coragem de respirar bem fundo.
Pai
E agora dava o meu mundo e as minhas palavras sobrantes para lhe conseguir dar um ramo de sons para que ele ainda se fizesse perceber, de viva voz...
Poema por completar
Vamos completar o poema?
Aguardo...
Na véspera do dia deles...
sexta-feira, 18 de março de 2011
à rasca?
Um dia, isto tinha de acontecer. Existe uma geração à rasca? Existe mais do que uma! Certamente! Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos. Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor. Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada. Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou. Foi então que os pais ficaram à rasca. Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado. Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais. São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração. São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar! A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas. Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados. Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional. Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere. Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam. Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras. Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável. Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada. Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio. Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração? Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos! Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós). Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida. E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupam injusta, imerecida e indevidamente?!!! Novos e velhos, todos estamos à rasca. Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles. A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá mais triste prova do nosso falhanço? Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta. Pode ser que nada/ninguém seja assim.
Mia Couto (Que outro poderia ser) - lido no facebook
Obg Passi pelo canal aberto...
quarta-feira, 16 de março de 2011
A mão
não tem dedos:
é um gesto que se perde
no próprio acto de dar-se
O poeta desaparece
na verdade da sua ausência
dissolve-se no biombo da escrita
O poema é
a única
a verdadeira mão que o poeta estende
E quando o poema é bom
não te aperta a mão:
aperta-te a garganta
ANA HATHERLY
O Pavão Negro
Assírio & Alvim
(2003)
terça-feira, 15 de março de 2011
Bela Flor
Canção da América do Sul, Quíchuas
5 lições
1 - Primeira lição importante - Senhora da limpeza
Durante o meu segundo ano no ensino superior, o nosso professor
deu-nos um teste.
até ler a última:
"Qual é o nome da mulher que faz a limpeza na escola?"
Isto só podia ser uma brincadeira. Eu tinha visto a mulher da limpeza
inúmeras vezes.
Ela era alta, cabelo escuro, à volta dos 50 anos, mas como poderia eu
saber o nome dela?
Eu entreguei o meu teste, deixando em branco a última questão. Mesmo
antes da aula terminar, um dos estudantes perguntou se a última
questão contava para nota.
"Absolutamente," respondeu o professor. "Nas vossas carreiras irão
encontrar muitas pessoas. Todas são significativas. Elas merecem a
vossa atenção e cuidado, mesmo que tudo o que vocês façam seja sorrir
e dizer 'olá'."
Nunca esquecerei aquela lição. Também aprendi que o nome da senhora era
Dorothy.
2. - Segunda lição importante - Boleia na chuva
Uma noite, pelas 11:30 p.m., uma mulher de origem Africana, estava
apeada numa auto-estrada do Alabama , a tentar aguentar uma valente
chuva torrencial. O carro dela tinha avariado e ela precisava
desesperadamente de uma boleia.
Completamente encharcada, ela decidiu fazer stop ao carro que se
aproximava. Um jovem, branco, decidiu ajudá-la, apesar de isto ser uma
atitude corajosa naqueles dias de racismo (década de 60). O homem
levou-a até um lugar seguro, ajudou-a a resolver a sua situação e
arranjou-lhe um táxi.
Ela parecia estar com muita pressa, mas mesmo assim tomou nota da
morada do jovem e agradeceu-lhe.
Uma semana mais tarde batiam à porta do jovem. Para sua surpresa, uma
televisão enorme era-lhe entregue à porta. Um cartão de agradecimento
acompanhava a televisão.
Dizia:
"Muito obrigado por me ajudar na auto-estrada na outra noite. A chuva
não só encharcou a minha roupa, como o meu espírito. Foi então que
você apareceu. Por causa de si consegui chegar ao meu marido antes de
ele falecer. Que Deus o abençoe por me ter ajudado e ter servido
outros de maneira tão altruísta.
Com sinceridade, Mrs. Nat King Cole."
3 - Terceira lição importante - Lembra-te sempre daqueles que servem
Nos dias em que um gelado custava muito menos do que hoje, um
rapazinho de 10 anos entrou no café de um hotel e sentou-se a uma
mesa. Uma empregada de mesa trouxe-lhe um copo de água.
"Quanto custa um gelado de taça?" perguntou o rapazinho.
"Cinquenta cêntimos," respondeu a empregada.
O rapazinho tirou do bolso uma mão cheia de moedas e contou-as.
"Bem, quanto custa um gelado simples?" perguntou ele.
A esta altura já mais pessoas estavam à espera de uma mesa e a
empregada começava a ficar impaciente.
"Trinta e cinco cêntimos," respondeu ela com brusquidão.
O rapazinho contou novamente as suas moedas.
"Vou querer o gelado simples." Respondeu ele.
A empregada trouxe o gelado, colocou a conta encima da mesa, recebeu o
dinheiro do rapazinho e afastou-se.
O rapazinho terminou o seu gelado e foi-se embora.
Quando a empregada foi levantar a mesa começou a chorar. Em cima da
mesa, colocado delicadamente ao lado da conta, estavam 3 moedas de
cinco cêntimos...
Não sei se está a ver, ele não podia comer o gelado cremoso porque
queria ter dinheiro suficiente para deixar uma gorjeta à empregada.
4 - Quarta lição importante - O obstáculo no nosso caminho
Em tempos antigos, um rei mandou colocar um enorme pedregulho num
caminho.. Depois escondeu-se e ficou a ver se alguém retirava a enorme
pedra. Alguns dos comerciantes mais ricos do Rei passaram e
simplesmente se afastaram da pedra, contornando-a. Alguns culpavam em
alta voz o Rei por não manter os caminhos limpos. Mas nenhum fez nada
para afastar a pedra do caminho.
Apareceu então um camponês, carregando um molho de vegetais. Ao
aproximar-se do pedregulho, o camponês colocou o seu fardo no solo e
tentou deslocar a pedra para a berma do caminho. Depois de muito
empurrar, finalmente conseguiu. O camponês voltou a colocar os
vegetais ás costas e só depois reparou num porta-moedas no sitio onde
antes estivera a enorme pedra.
O porta-moedas continha muitas moedas de ouro e uma nota a explicar
que o ouro era para aquele que retirasse a pedra do caminho. O
camponês aprendeu aquilo que muitos de nós nunca compreendem!
Cada obstáculo apresenta uma oportunidade para melhorar a nossa situação.
5 - Quinta lição importante - Dar quando conta
Muitos anos atrás, quando eu trabalhava como voluntário num hospital,
conheci uma pequena menina chamada Liz, que sofria de uma doença rara
e muito grave. A sua única hipótese de salvamento parecia ser uma
transfusão de sangue do irmão mais novo, de cinco anos, que já tinha
tido o mesmo problema e sobrevivido milagrosamente, desenvolvendo
anticorpos necessários para a combater. O médico explicou-lhe a
situação da irmã e perguntou-lhe se ele estaria disponível para dar o
seu sangue à sua irmã.
Eu vi-o a hesitar por uns instantes, antes de respirar fundo e dizer
"sim, eu faço-o se isso a salvar."
À medida que a transfusão ía correndo, ele mantinha-se deitado ao lado
da sua irmã, sorrindo. Todos nós sorríamos, vendo a cor a regressar à
face da menina. Foi então que o menino começou a ficar pálido e o seu
sorriso a desaparecer.
Ele olhou para o médico e perguntou-lhe, com a voz a tremer, "Será que
eu começo a morrer já?".
Sendo muito jovem, o menino não compreendeu o médico; ele pensou que
teria que dar todo o seu sangue à irmã para a poder salvar.
Flor sem tempo
Que protege.
Que inflama.
Que serena...
Cabe na palma da mãe Zélia,
na cova de uma pena mais do que suave...
Cresceu ufana, de riso fácil e quente,
perto das fontes das lágrimas que teima em esconder...
Vê-se do mar,
revê-se nas ondas,
soletra saudades
dos seus e das suas que acolhe sem pejo,
pétalas que leva para casa, aquecendo-as ao lume...
Endeusa o verão do seu contentamento, nuno de sua graça,
golfinho cria no colo terno da rosa mãe...
É flor, mas não tem nome.
Tem nome
mas é de flor...
O abraço de ternura, pleno de parabéns, da C. e do P.
Por tudo, pelas fontes, pelos abraços, pelos risos, pelos prantos...
segunda-feira, 14 de março de 2011
Investigação de paternidade
Os homens que passam, minha mãe,
são os pintores perdidos nas cores que não escolheram,
são os poetas errantes, imersos nos poemas que não escreveram,
são os adúlteros infames plenos do vazio dos leitos alheios,
são os vagabundos sem chama vazios do pleno do nada em que a sua vida se tornou,
são os sonhadores inocentes rotos pela miséria das quimeras do ouro dos outros,
são as sombras do pai que eu não conheci,
E que só tu sabes decifrar...
Qual deles, minha mãe?
Qual deles?
O pintor que errou o poema?
O poeta que encheu os teus sonhos?
o vagabundo dos poemas imperfeitos?
O sonhador que nunca chegou a passar?
Quero a certeza do incerto,
a raiz feita caule, feita dor,
porque um dos homens que passa, minha mãe,
será tudo aquilo que tu quiseres que um dia eu venha a sentir por ele...
e esperaria que a maré vaza
as despejasse no lodo dos dias
Levaria em minhas asas sementes de esperança, os sonhos, a força e o desejo de conseguir ser sempre Eu com todos os Outros.
Voaria.
Simplesmente voava. Vento e mar.
Liberdade, inocência...
Voaria.
Seria ave.
Maior desejo não há.
Pois sendo ave, serena e poderosa
gravaria o teu nome, importal
com as asas feitas penas,
na superfície das águas
E chegaria aonde antes nunca estivera...
Ao mais recôndito canto de mim...
Tocaria a minha alma,
Levemente...
E descobriria que, afinal, também sou Luz...
E voaria...
Voaria entre as aves...
Mas incompleto, rente aos palmos de chão apenas,
sobra-me só a vista aérea em que me debruço, lentamente,
a chorar por não partir.
Maratona de ser homem,
sacudiria os estorvos,
a inteligência,
e sôfrega, viveria a pulsação dos sentidos,
até à luz, aquela luz imensa
do silêncio de mim...de ti...de nós...
...tocava-te ao de leve
com a minha asa
carregada de ternura
pedia-te desculpa
dizia-te quanto te amei,
amo e amarei...