quarta-feira, 30 de abril de 2008
XIX
(...)
Regresso, pois, à primeira linha,
à verdade que remexe entre as minhas mãos.
Talvez os olhos
estivessem apenas desatentos sobre o livro;
talvez as histórias
se repitam mesmo,
como as tardes passadas no terraço,
longe
de casa.
Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém.
(...)
(À Ana XIX, porque tenho boa memória e boas memórias)
Perto de ti
Se eu para ti sou uma estranha
Que o coração perdeu
É ao ver-te que eu pergunto:
Se já foste como eu?
terça-feira, 29 de abril de 2008
Oferta de "TERNURA" entre Passiflora e Beijaflor
Xadrez Baralhado
Sonho ao fim de uma tarde
O outro Gui
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Sem Tema
domingo, 27 de abril de 2008
A CRÍTICA
Lorenz:...A linguagem continua a ser algo de natural. Muitos pensadores eminentes agarram-se ainda à convicção de que deve haver algo de inexplicado e ipso facto de extranatural. Nessa medida sou um monista, se quiseres. Apesar de reconhcer a minha não compreensão do problema do corpo-espírito. A ideia, porém, de que tudo o que o meu pobre cérebro não entende se deve encontrar fora da natureza, como por exemplo lês subcutaneamente no Mistério Inexplicado de Erwin Chargaff, não a posso partilhar.
Popper: Eis-nos de volta a um tema importante, o da importância da crítica. Através da linguagem, tornamos as teorias criticáveis. E é isso que é colossal. Tens toda a razão, estou inteiramente de acordo contigo, de que existem dois grandes períodos na evolução: A vida e o homem. E o homem - o homem é sobretudo linguagem. O que é que torna possível a evolução cultural? A crítica. A língua torna possível a crítica, e através da crítica desenvolvemos depois a cultura.
Lorenz: Com a linguagem surgiu uma comunidade, uma comunidade que jamais existira antes, do saber e, logo, do querer.
Popper: Enquanto não retirámos as nossas teorias de nós próprios, estávamos identificados com elas, e por consequência não as podíamos criticar. O galo não é capaz de distinguir o seu Eu das suas expectações, das suas teorias.
Lorenz: O galo destrói todo aquele que o queira criticar - e nós não o fazemos.
Popper: O galo não sabe criticar as suas teorias. Nós podemos falar, por exemplo, sobre se somos egoístas ou não. (...) Aliás, acrescentei a esses três estádios...um quarto, ou seja a função argumentativa da linguagem. Podemos discutir se uma frase é verdadeira ou não....
Já na parte que no referido livro que diz respeito ao Simpósio é colcocada por Wallner a Popper uma questão.
Wallner: Havia ainda uma outra questão a pôr, mas não sei se quer tratá-la agora. Uma das críticas que ocasionamente se ouvem face aos seus princípios metafísicos é a de que estes se orientam segundo o chamado senso comum, o que seria pois uma fundamentação biológica.
Popper: Nada a fazer! (risos na assistência) Eu sou pela liberdade de pensamento. Cada um deve dizer o que considera útil. E a crítica não deve consisitir em observações de carácter geral como, por exemplo: trata-se de um ordem de ideias biológica ou não-sei-que-mais; antes deve ser concreta, e dizer: porque é que isso não é aceitável? Mas esta crítica concreta é muito rara. Normalmente deparamos com críticas deste tipo: isto é dogmático. De que serve isso? apenas podemos responder: por favor, meu amigo, critique! E então ele responde: já critiquei, já afirmei que era dogmático. Mas isto não é crítica. A crítica deve tentar mostrar a razão por que uma teoria ou uma opinião não é aceitável, isto é, não é aceitável o seu conteúdo. Dogmático é o indivíduo que não aprofunda essa crítica em detalhe. De um modo geral, as críticas que ouvimos são totalmente desinteressantes. É aflitivo. Uma crítica interessante é sempre extremamente louvável.
Fogo do Olimpo
sábado, 26 de abril de 2008
Deslumbrantes e tremendos como o sol
«Deslumbrante e tremendo quão velozmente me mataria o amanhecer,
Nós também nos elevamos deslumbrantes e tremendos como o sol,
Descobrimos o nosso próprio Ser, ó alma minha, no meio da calma e da
frescura do dia que vem.
A minha voz persegue o que os meus olhos não alcançam,
Com a minha língua rodeio mundos e mundos.
O meu discurso é gémeo da minha visão, incapaz de se medir a si próprio,
Provoca-me sempre, e sarcasticamente diz:
Walt, se conténs tanto, porque é que então não lhe dás saída?
Vem agora que não me deixarei atormentar, tu acreditas demasiado na
articulação,
Não sabes, ó discurso como se juntam os rebentos debaixo de ti?
Aguardando na penumbra, protegido pela geada,
O húmus cede aos meus gritos proféticos,
Eu fundamento as causas e equilibro-as por fim,
O meu saber são as minhas partes vivas, ele está em harmonia com o sentido
de todas as coisas,
A felicidade (que todos aqueles que me ouvem, homens e mulheres, vão hoje
mesmo procurá-la).
Recuso-me a revelar e meu mérito supremo, recuso-me a extrair de mim o
que realmente sou,
Rodeia os mundos, mas nunca tentes rodear-me,
Reclamo o melhor de ti, o mais delicado, olhando-te simplesmente.
Escrever e falar não me põem à prova,
No rosto levo a prova decisiva e tudo o resto,
Com um simples murmúrio dos meus lábios desconcerto em absoluto todos
os cépticos.»
Walt Whitman "Canto de Mim Mesmo", Canto xxv
Tudo sobre a minha mãe
No mais fundo de ti
Tudo porque já não sou
Tudo porque ignoras
Tudo porque perdi as rosas brancas
Se soubesses como ainda amo as rosas,
Ainda aperto contra o coração
Não me esqueci de nada, mãe.
(Eugénio de Andrade, Os Amantes sem Dinheiro)
Em tempo:
Salvé as tuas 68 luas e verões, mais do que primaveras.
Estou aqui...
sexta-feira, 25 de abril de 2008
25 de Abril Sempre!!!!!!!!
Estava no meio das flores e do chilrear dos pássaros.
Gentilmente toquei as ásperas pedras quentes que estavam a meu lado.
Olhos do mundo.
Perto delas estava um cravo
Fraco e débil
Saudoso do lar
Uma qualquer espingarda de Abril
Uma qualquer arma da revolução...
A Liberdade
O espírito perdeu-se
ou Evoluiu
o cravo vermelho foi esquecido
Mas naquele dia e nos outros eu era livre
Mesmo se nem sempre o valorizei.
Contudo
o cravo de Portugal
ou Portugal num cravo
jaziam no chão...
Propósitos perdidos
Ideais corrompidos.
A Liberdade não era a mesma
Coisas que não deviam ser esquecidas estavam perdidas.
Olhei o Céu e as Árvores e pedi conselhos.
Então num virar da ampulheta
Olhei à minha volta e vi cravos vermelhos
Até onde o olhar alcançava
E quem sabe mais além.
A Liberdade de Abril
do Abril da Liberdade
subsistia.
Estava de novo viva.
Empunhada pelos jovens.
Então peguei na mais bela das pedras que estava ao meu lado
E tentei vergá-la mas não fui capaz.
Era Portuguesa e livre.
Tal como eu
Tal como nós.
25 de Abril Sempre!!!!!!!!
Irmandade (gota a gota)
O Tempo e o Vento
Vento de Abril: Porque nos atormentas cinzento e velho tempo?
Porque nos escondes com a escuridão? Porque nos amordaças a boca e o pensamento?
Tempo Velho: Não te conheço. Não falo com desconhecidos. O vento que eu fui já morreu. O tempo não tem medo, cor, dança ou poesia…
Vento de Abril: Deixa-te embalar suavemente na minha agitação primaveril e vais ver que o meu vento vai fazer de ti um tempo novo.
Tempo Velho: Não. Não quero perder-me de mim mesmo. Nem estar décadas à procura, à espera do que serás.
Vento de Abril. Não sabes o que dizes. Serei sempre novo. Os deuses estão comigo. As flores desabrocharam. Os homens ensaiam canções. A poesia está a sair a rua.
Tempo Velho: Não conheces os homens, nem o seu vazio. Não conheces o povo inculto. Nem o poder ambicioso, conspirativo e sem escrúpulos.
Vento de Abril: Com tempo resolverei essas contingências. Agora, Lisboa já cheira a cravos e laranjas maduras. A esperança voa nas asas das gaivotas. As marés rebentam as lágrimas dos exilados. As flores já cantam a liberdade.
Tempo Velho: Já oiço o povo em algazarra. Aproxima-se o teu tempo. Neste momento deixaste de ser Vento e passaste a ser o Tempo Novo.
Tempo Novo: Retira-te.
Tempo Velho: Assim seja. Um dia falaremos sobre a tragédia da incompetência cultural... Eu sei que nada será como foi. Mas nada será como sonhas.
Tempo Novo: Velhos do Restelo!!! Caminharei com a força da Rua e a sabedoria dos Filósofos.
Poema Vinte e Cinco (ode a uma gaivota operária)
Senhores Barões da terra
Preparai vossa mortalha
Porque desfrutais da terra
E a terra é de quem trabalha
Bem como os frutos que encerra[…]
O café vos deu o ouro
Com que encheis vosso tesouro
A cana vos deu a prata
Que reluz em vosso armário
O cacau vos deu o cobre
Que atirais no chão do pobre
O algodão vos deu o chumbo
Com que matais o operário
Em toda parte, nos campos
Junta-se a nossa outra voz
Escutai, Senhor dos campos
Nós já não somos mais sós.
Queremos bonança e paz
Para cuidar da lavoura
Ceifar o capim que dá
Colher o milho que doura,
Queremos que a terra possa
Ser tão nossa quanto vossa
Porque a terra não tem dono
Senhores Donos da Terra
Queremos plantar no outono
Para ter na primavera
Amor em vez de abandono
Fartura em vez de miséria
quinta-feira, 24 de abril de 2008
A Voz do Mar
Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades.
Sophia Exílio.
Chamo-te
E suportar é o tempo mais comprido.
Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.
Há muitas coisas que não quero ver.
Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o Teu reino antes do tempo venha
E se derrame sobre a Terra
Em Primavera feroz precipitado.
Liberdade
Não esqueceremos o dia de amanhã...
Essa manhã clara, como disse Sophia...
Galeria. Retrato n.º 3. Carlinho, Besouro.
Nasceu quieto.
Branco.
Calado.
Olhos sem luz.
Tudo presságios.
Maus.
Outros, seus pares, aprendiam a escrever, a contar e a ler.
Ele rimava besouros com garrafas.
Flores com campos.
Meninas com sorrisos.
Os outros aprendiam Equações Matemáticas, Geografia, Biologia.
Ele metia besouros nas garrafas.
Amava os campos.
Sabia as flores que atraíam os besouros.
Contava os besouros no fim da jornada.
E histórias épicas sobre a apanha dos besouros.
De largo sorriso, oferecia os besouros e as flores às preferidas do seu coração.
Foi muitas vezes escondido pelos pais, nos dias festivos.
Não viu nenhum irmão casar-se, ou baptizar-se.
Nesses dias, deambulava sozinho e com fome.
Comia flores, engarrafava besouros.
Bebia a água das fontes.
Um dia, já homem foi trabalhar.
Nas obras.
Passou um besouro.
Foi atrás dele.
A prancha não era o campo.
A planura ficava lá muito em baixo.
Esqueceu-se das alturas.
Voou por ali abaixo feito besouro.
Acabou no fundo do andaime.
A cara esborrachada na garrafa.
E os besouros aflitos, a rodá-lo...
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Arrepiante
Aliás o título do video é, ele próprio, um insulto.
Pobres crianças... e o animal é quem menos culpa tem em tudo.
Será que não houve consequências nefastas disto? O animal estava hipnotizado? (se é que é possível isso...perdoem não sou veterinário nem me interesso assim tanto por tais animais) mas...que isto dói, dói.
Amor, sem trégua nem egoísmo.
«- Caguei-me - repetiu, e desta vez desfez-se em lágrimas.
(...)
- Não digas às crianças - pediu, a olhar-me da cama com o olho que ainda via.
- Não digo a ninguém - tranquilizei-o. - Direi que está a descansar.
- Não digas à Claire.
- Não digo a ninguém. não se preocupe com isso. Podia ter acontecido a qualquer pessoa. Esqueça o assunto e descanse o mais que puder.
Corri as persanas para obscurecer o quarto, saí e fechei a porta.
(...)
Voltei em bicos de pés ao quarto onde ele dormia, ainda a respirar, ainda vivo, ainda comigo - mais um revés desencadeado por aquele homem que eu conhecera interminavelmente como meu pai. Senti-me péssimo por causa da sua heróica e vã luta para se limpar antes de eu chegar à casa de banho, e da vergonha inerente, e da desgraça que ele próprio se considerava. No entanto, agora que terminara e o meu pai dormia profundamente, pensei que não podia ter pedido nada mais para mim próprio antes de ele morrer: isto também estava certo e era assim que devia ser.
Limpamos a merda do nosso pai porque ela tem de ser limpa, mas na esteira desse limpar tudo quanto nos resta para sentir é sentido como nunca antes foi. Também não era a primeira vez que compreendia isto: depois de contornarmos a repugnância, ignorarmos a náusea e mergulharmos para além dessas fobias fortificadas como tabus resta uma tremenda quantidade de vida para acarinharmos.
(...)
Agora que o trabalho estava feito, não poderia ser mais claro para mim o motivo por que isto estava certo e como devia ser. O património era, então, isso. E não porque limpar a porcaria fosse simbólico de qualquer outra coisa, porque não era; antes por não ser nada menos nem nada mais do que a realidade vivida que era.»
O mais sentido e emocionante trecho do Livro de Philip Roth "Património"
Tomás e Laura
À hora marcada, Tomás compareceu no lugar combinado, dizendo nos Plátanos que o cinema esperava por si.
E lá serviu um vinho da Toscânia e verteu-o nos cálices de um cristal encantado guardado na memória destes incautos amantes.
Não se via vivalma nas ruas da cidadela e eles apenas tinham como companhia as mudas pedras das calçadas e dos vetustos edifícios e um vento inesquecível capaz de trazer aromas e notícias de outras paixões.
Os canais da urbe serviam de cenário idílico para este jantar, dando o tom musical para esta valsa dançada por tanto amor e com a garra insuspeita das garças coloridas que emergiam do interior deste homem e desta mulher.
Ele sentou-se à mesa, com uma delicadeza inusitada. Ela já ali tinha colocado a massa especial capaz de coroar este momento - uma massa cozinhada, em lume de eterna chama, com espinafres de um verde de hera de italianas paragens.
Laura dizia-se boa cozinheira. Como aperitivo, resolveu revelar-lhe como cozinhara aquela massa. Aos amantes, tudo se conta, até as traições.
Para os confeccionar, ela principiara por levar ao lume um tacho com bastante água temperada com sal e, quando esta levantou fervura, introduziu seis cannelloni, deixando-os cozer durante 15 minutos, não mais para não quebrarem.
Retirou os cannelloni e passou-os, com volúpia, por água fria. Escolheu, com critério e com o coração, os espinafres e lavou-os em água fria corrente, misturada com as suas lágrimas de alegria que caíam sem aviso. Cozeu-os em pouca água temperada com sal durante 10 minutos, escorreu-os no término da cozedura, espremeu-os e picou-os com todo o carinho do mundo.
Após derreteu poucas lágrimas de margarina e polvilhou outro tanto de farinha; quando à superfície apareceu uma espuma esbranquiçada, regou com gotas de leite e deixou ferver, mexendo sempre, com toda a paciência e até engrossar. Temperou com sal, pimenta e noz moscada. Paulatinamente. Serenamente.
Já fora do lume, ela incorporou no molho a carne cozinhada e os espinafres, aí rectificando os temperos com a alma na mão.
Deitou, então, o recheio dentro de um saco pasteleiro munido de um bico e recheou os cannelloni, colocando-os lado a lado num tabuleiro untado com margarina.
Tudo isto enquanto as cotovias prosseguiam o seu encantado cântico noctívago.
Cobriu os cannelloni com um molho de tomate previamente confeccionado, polvilhou com queijo ralado e levou a forno médio durante o resto do tempo do mundo, aquele que sobrava de tanta impaciência, durante os quais se foi maquilhando com as cores do jurista pintor.
Estava chegada a hora de servir esta receita. Feita com os cheiros dos amores-perfeitos que despontavam do seu coração. E daquele mar sossegado e cúmplice que testemunhava este encontro.
Em surdina.
Sem burburinho.
Em tom de quieta maré.
Eles, já sentados na mesa feita da pedra daquela praia que os albergava, olharam-se olhos nos olhos e soltaram um beijo perfumado, envolvido na brisa desta noite.
No ar, ouviu-se o som de um violoncelo.
Beberam um outro vinho, desta vez napolitano, tinto de morrer, e começaram a tragar aquela massa feita com a paixão dos bons momentos, com o ouro das pétalas de esperança que cresciam nos doces e quentes caracóis de um e de outro.
Nessa altura, ele deu-lhe um nome. Próprio. Só dela. Soube-lhe, então, os sinais particulares, os gestos, a língua. Só de lhe olhar nas íris, só de lhe sentir o cheiro, só de lhe provar o tempero.
Como resposta, ela acariciou-lhe os cabelos e sussurrou o nome dele.
Ao acaso.
Como uma balada.
- Não me deixes deixar-te, Tomás!
E enquanto a massa ainda esfriava no prato dele, este homem disse-lhe com o pincel na voz.
- Nunca, Laura, meu amor!
terça-feira, 22 de abril de 2008
Crianças
La Passionaria, um gato e Garcia Llorca
Por Federico García Lorca
creyendo que era mozuela,
pero tenía marido.
Fue la noche de Santiago
y casi por compromiso.
Se apagaron los faroles
y se encendieron los grillos.
En las últimas esquinas
toque sus pechos dormidos,
y se me abrieron de pronto
como ramos de jacintos.
El almidón de su enagua
me sonaba en el oído
como una pieza de seda
rasgada por diez cuchillos.
Sin luz de plata en sus copas
los árboles han crecido
y un horizonte de perros
ladra muy lejos del río.
*
Pasadas las zarzamoras,
los juncos y los espinos,
bajo su mata de pelo
hice un hoyo sobre el limo.
Yo me quité la corbata.
Ella se quito el vestido.
Yo, el cinturón con revólver.
Ella, sus cuatro corpiños.
Ni nardos ni caracolas
tienen el cutis tan fino,
ni los cristales con luna
relumbran con ese brillo.
Sus muslos se me escapaban
como peces sorprendidos,
la mitad llenos de lumbre,
la mitad llenos de frío.
Aquella noche corrí
el mejor de los caminos,
montado en potra de nácar
sin bridas y sin estribos.
No quiero decir, por hombre,
las cosas que ella me dijo.
La luz del entendimiento
me hace ser muy comedido.
Sucia de besos y arena,
yo me la llevé del río.
Con el aire se batían
las espadas de los lirios.
*
Me porté como quien soy.
Como un gitano legítimo.
Le regalé un costurero
grande, de raso pajizo,
y no quise enamorarme
porque teniendo marido
me dijo que era mozuela
cuando la llevaba al río.
In CANCIONERO GITANO
À Guida, passionaria do samba, mulher de corpo e alma inteira, pelos nossos encontros e intermitências (e pela saudade do seu gato Garcia Llorca que lhe acomodou a solidão)
Bela, Frágil e Perigosa.
O planeta azul.
Um ponto azul no Espaço.
(lembrando Carl Sagan).
"Por um instante, a terra dá a noção de como somos insignificantes, frágeis e felizes por termos um lugar que nos permite aproveitar o céu, as árvores e a água".
Jim Lovell, tripulante da Apolo, 8, em 1968.
Na borda da caldeira, no parque natural de Yellowstone.
Yellowstone é o maior vulcão activo do mundo.
Este super vulcão com uma caldeira constituída por quase todo o parque (9000 quilómetros quadrados) tem uma erupçãp gigantesca em cada 600 mil anos, a última foi há 630 mil anos...
Nós não herdamos a terra dos nossos antepassados, pedimos emprestada aos nossos filhos.
Provérbio Índio.
Celebremos hoje a terra.
Hoje é o dia da sua celebração mundial.
Ma plus belle histoire de amour c'est vous...
Sur la longue route,
Je suis venue pour vous dire,
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Um sol em forma de criança
Desculpem por não ser um "Menino do Bairro Negro" na voz original.
Mas não encontrei. Esta voz profunda pareceu-me bem.
O Melhor do Mundo são as Crianças.
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre,
bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor,
quanto há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
Pela voz de um anjo
Para nos atingir em pleno e nunca mais de nós sair...
Sangra. E não sara.
É bonito demais.
Mesmo.
domingo, 20 de abril de 2008
Na linguagem dos rituais
Excessos, ritos e assinaturas.
Aqui fica a minha assinatura.
Pelo meio fica o nome próprio Maria, e a inquietação e a Dor.
O Onze sabe do que falo. Nem a água faltou.
Clave
Canto-te uma nova canção em fá,
balada que não aprendi em sol,
trazida por alguém do lado de lá,
que me viu chegar de marcha à ré,
e que nem sequer deu sinal de si:
foi nessa altura que sentiste de mim dó!
À P.S.F., pelos nossos excessos
Jogo a dois (moderato cantabile)
E como as coisas do amor são difíceis,
Preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
uma em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez uma hipótese
de entendimento.É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta
do nosso quebra-cabeças.
(Nuno Júdice)
sábado, 19 de abril de 2008
As "caneleiras" do meu jardim - definição do seu aroma
Envio-vos fotos das árvores mais aromáticas do meu jardim.
Num dia de sol quente, o seu aroma é capaz de incendiar a virgem mais contida e assumida deste planeta.
Como, por razões óbvias, não posso mandar-vos o aroma, aqui fica a sua definição no feminino e no masculino.
Definição feminina
Imaginem o aroma de um limão meio maduro meio verde, com casca fina e rija. Mistura-se um pouco de aroma de pau de canela trazida do oriente pelas primeiras naus portuguesas. Estando a mistura neste ponto, junta-se um pouco de sal e essência de homem quando a mulher o deseja. Deixa-se ficar tomando o sol de uma tarde de fim de primavera, quando se instala a solidão. E quando você desejar meter o nariz no meio das flores, o perfume acontece.
Definição masculina
Imaginem o aroma de uma laranja verde com casca luzidia, tão fina, como a pele de uma mulher jovem. Misture o aroma de umas quantas bagas de vinha virgem, um pouco de gelo e três gotas de Moscatel do Douro Superior. Quando tiver imaginado este aroma, junta-se um pouco do aroma de mel de urze selvagem. Deixa-se ficar tomando o calor tórrido do primeiro beijo entre um homem e uma mulher apaixonados. Quando você desejar comer essas flores, o perfume está lá.
A janela
Um deles podia-se sentar na sua cama durante uma hora, todas as tardes, para que os fluídos circulassem nos seus pulmões.
A sua cama estava junto da única janela do quarto.
Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto fechava os seus olhos e imaginava as pitorescas cenas.
Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia passar: embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro a retratava através de palavras bastante descritivas...
Dias e semanas passaram.
Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado, a enfermeira deixou o quarto.
O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o seu falecido companheiro de quarto lhe tivesse descrito coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela.
Um farol chamado Armando
Para homenagear um homem ímpar.
Que mostra obra. Depois de um marasmo completo em que foi encontrar esta sua fábrica.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
CARMEN
Um trecho da ópera Carmen
Eis que vos ofereço uma Habanera da Grande Callas.
Jonnas (GUI), és um provocador.
Sempre soubeste que a ópera da minha paixão é a Carmen de Georges Bizet.
Pela grande e impossível história de amor e pela tragédia que se adivinha e acontece.
Mas, também, porque os personagens são excessivos, nunca fazem as coisas pela metade.
E tanto assim é que eu enquanto membro do 11, escolhi exactamente o nome de baptismo de Carmen.
Deixa-me partir
– a vida não é nada daquilo que disseste quando os meus seios começaram a crescer.
O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram
– se é que me deram flores, já não tenho a certeza,
mas tu deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.
Mãe, eu quero ir-me embora
– os meus sonhos estão cheios de pedras e de terra;
e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais que a escuridão por cima.
Ainda por cima, matei todos os sonhos que tiveste para mim
– tenho a casa vazia, deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.
Mãe, eu quero ir-me embora
– nenhum sorriso abre caminho no meu rosto
e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha,
mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique
– as lágrimas impedem-me de caminhar
e eu tenho de ir-me embora, tu sabes,
a tinta com que escrevo é o sangue de uma ferida
que se foi encostando ao meu peito
como uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.
Mãe, eu vou-me embora – esperei a vida inteira por quem nunca me amou
e perdi tudo, até o medo de morrer.
A esta hora as ruas estão desertas
e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse,
mas essa voz, tu sabes, não é a tua
– a última canção sobre o meu corpo já foi há muito tempo
e desde então os dias foram sempre tão compridos,
e o amor tão parco,
e a solidão tão grande,
e as rosas que disseste um dia que chegariam
virão já amanhã,
mas desta vez,
tu sabes,
não as verei murchar.
Pedras Parideiras - O tempo medido em muitos milhões de anos
O aviso. A consciência da raridade do fenómeno. A responsabilização da cidadania pelo único.
A pedra em vias da parir . A Parideira.
A parideira e as paridas ( encraves ou jogas).
***********************
Na aldeia de Castanheira, concelho de Arouca, na serra da Freita, perto da chamada frecha da Mizarela, há pedras a parir pedra.
O povo da região chama-lhes as pedras parideiras.
Na Castanheira, a pedra-mãe, é o granito. "As jogas (ou encraves) são as pedras paridas".
Este é o mais conhecido fenómeno geológico de Arouca, fenómeno geológico raríssimo que só existirá neste local e numa região da Ucrânia.
Trata-se de um pequeno afloramento de granito com abundantes nódulos discóides e biconvexos de biotite, que se libertam da rocha-mãe por termoclastia, acumulando-se no solo.
Os nódulos, de 1 a 12 cm de diâmetro, têm a mesma composição mineralógica do granito, pois embora constituídos exteriormente apenas por biotite (mica preta), possuem um núcleo de quartzo e feldspato potássico.
Através da erosão do granito, esses nódulos de biotite afloram paulatinamente à superfície da rocha, desprendem-se e vão-se acumulando no solo.